As cidades enfrentam hoje enormes desafios e pressões a que é preciso dar resposta. Os players do ecossistema já estão a trabalhar em força em novas respostas para antecipar e preparar o futuro que passa, obrigatoriamente, pela digitalização, a inovação e a eficiência, tornando os centros urbanos cada vez mais inteligentes. Descarbonização, mobilidade elétrica, economia da partilha e sustentabilidade energética e ambiental são exigências de um mundo em mudança, a que só será possível dar resposta através de parcerias e da colaboração dentro da cadeia de valor. Estas foram algumas das ideias do mais recente Digital Business Breakfast, onde o tema foi “Powering the Cities of the Future".
Há tremendos desafios nas cidades e ninguém os consegue endereçar sozinho, mas em cooperação e parceria entre . O alerta veio de João Rodrigues, Country Manager da Schneider Electric Portugal, na sua intervenção sobre “Cities Redefined | Digital & Energy Converged”. Considerando-se um “otimista por natureza” e perante uma realidade que mostra que as cidades vão ficar cada vez maiores e sentir cada vez mais dificuldades e pressões, o gestor defende que terão que procurar novas soluções, sob o “risco de continuar a manter tendências do passado e de não conseguir resolver problemas do futuro”.
O ‘dilema energético’ é um dos problemas, já que se é preciso aumentar 50% do consumo energético a nível mundial, para fazer face às tendências da urbanização, industrialização e da digitalização, será também necessário reduzir a metade as emissões de CO2, sob pena de se por em tisco o equilíbrio climático. Um dilema que, para João Rodrigues, só se resolverá com “inovação e alterações de paradigmas”.
“Temos que ser ativistas, com as soluções certas para este dilema, com cooperação, tecnologia e realização de trabalho. Acredito profundamente que vamos ser capazes. Precisamos de ser bem-sucedidos”, acrescenta o líder da Schneider Electric, destacando o papel fundamental do software de análise e de predição. “O IT, o digital e a massificação da informação permitem-nos pensar que vai ser possível criarmos em conjunto esta nova realidade”, refere.
O gestor não tem dúvidas de que “a intensidade de informação é brutal e o potencial enorme”, constituindo uma “mina de ouro”. Há é que saber explorar e tirar partido dela, transformando-a em negócio. “O mundo é cada vez mais elétrico, digital, descarbonizado e descentralizado”, garante, considerando que “este é um tempo excitante e o futuro é hoje. Saber como o vamos trabalhar é o desafio”.
Na sua opinião, elétrico e digital “são duas faces da mesma moeda que andam em simultâneo” e há “oportunidades disruptivas enormes” na energia, seja para quem está a operar desenvolver novos negócios e melhorar as suas performances, seja pela possibilidade de novas entidades entrarem.
“As tecnologias vão ser absolutamente fundamentais para alcançar a transformação. Temos que garantir um futuro comum, que é de todos. Estamos a falar de uma sociedade que coexiste e trabalha em conjunto para o bem de todos. Este deve ser o nosso mindset”, alerta.
No painel de debate que se seguiu, moderado por Joana Petiz (Subdiretora do Diário de Notícias), sobre "Powering the Cities of the Future", ficou claro que todos os intervenientes no ecossistema já estão a trabalhar em força. E a apostar nas parcerias e colaborações.
João Torres, presidente da EDP Distribuição, não tem dúvidas de que “só com uma grande cooperação entre os vários atores é que vamos conseguir endereçar os desafios que aparecem”, numa altura em que a rede elétrica está em grande transformação. Ao nível das cidades, tem fatores decisivos, como a descentralização, com a produção distribuída, ou a mobilidade elétrica, que obrigam a um processo de planeamento da rede. Cada vez mais, esta tem que ser gerida de forma mais inteligente, tirando partido de todos os dados disponíveis.
“Estamos a fazer uma revolução tranquila, adaptando a nossa rede”, avança este responsável, considerando que o “desafio é saber gerir os dados, para fazer uma intervenção mais inteligente e uma gestão equilibrada”, Por isso, olha “para esta fase com bastante otimismo, apesar de ser desafiante. O sentido de cooperação é muito forte, nomeadamente com os municípios”.
Em Lisboa, já se sentem bem os resultados do trabalho que está a ser desenvolvido para lhe trazer inteligência. E vão sentir-se ainda mais, assegura Duarte Cordeiro, vice-presidente da Câmara Municipal de Lisboa. Não é por acaso que o município será a Capital Verde 2020 da Europa. É que “há muita coisa que temos feito, muito positiva e de referência em termos internacionais. Há muita coisa que estamos a preparar em conjunto para nos próximos anos se sentir a melhoria da sustentabilidade do espaço urbano”.
“Temos trabalho feito e apresentámos uma proposta de caminho até 2020”, acrescenta o autarca, citando áreas como os espaços verdes, a resiliência urbana e todo o trabalho de drenagem da cidade, da rede de água e reutilização das águas da chuva e a mobilidade. Para Duarte Cordeiro, “sem integração não vamos ter cidades inteligentes. Assim como sem cooperação, porque sozinhos não conseguimos fazer nada. Temos que trabalhar em conjunto, entidades públicas e privadas. Os resultados vão aparecer”.
A trabalhar em cooperação com o município está a Via Verde. O seu CEO, Pedro Mourisca, não tem dúvidas que o desafio é grande, nomeadamente em termos de redução de circulação de carros na cidade. Também o gestor defende que não só o setor público tem que intervir, mas também o setor privado. “Temos todos que agir, obrigatoriamente e em cooperação. O que, às vezes, é o mais difícil”, diz.
Na BMW o panorama não difere. Num setor que vive dias de grande inovação e desenvolvimento, “é fundamental que haja cooperação entre entidades”, confirma Rui Bica, BMW i & Mobility Services Coordinator, do grupo BMW. O caso mais evidente é o da disponibilização de serviços para carros elétricos, onde os vários construtores estão a juntar-se, num caminho que tem sido muito rápido. “Não adianta que cada um tente fazer o seu sistema. As economias de escala existem e são fundamentais, porque permitem que as estratégias se possam desenvolver com velocidade”, acrescenta.
O gestor cita o que o líder da BMW refere, de que os “próximos 10 anos vão ser muito mais interessantes que os últimos 100 na indústria automóvel”. “Todas as marcas se estão a posicionar e a ocupar o seu lugar, não só pela digitalização e inovação, mas também pelo nível de emissões, onde têm metas a cumprir. O caminho passa pela alteração do formato do mercado automóvel, que terá viaturas autónomas, conectadas, elétricas e partilhadas. A inteligência é a base de toda esta estratégia”, considera.
Todos os oradores estão otimistas quanto ao futuro, apesar de admitirem que se vivem tempos de grandes transformações a todos os níveis. O autarca de Lisboa está convicto de que “vamos dar um salto gigantesco ao nível da mobilidade. Portugal é um bom ambiente para testar e introduzir este tipo de tecnologia”. Já o líder da EDP Distribuição destaca a importância, para uma cidade inteligente, da “visão da liderança da cidade, decisiva no processo”.
Pedro Mourisca antecipa que a Via Verde consolide nos próximos dois anos as soluções que já disponibiliza, ao mesmo tempo que cria novas, nomeadamente em colaboração com startups. “Espero que em 2020 estejamos preparados, com um ecossistema de mobilidade completo, conhecendo o que as pessoas necessitam, para darmos o salto para a mobilidade como um serviço”, diz. No caso da BMW, um dos próximos passos será um aumento significativo do portfolio dos produtos para viaturas eletrificadas, com a inovação a assentar em parcerias.