Com o mote "Sociedade do Conhecimento em Portugal. Um Retrato Social", António Barreto, um dos mais relevantes comentadores da sociedade, da política e da economia nacionais deixou bem claro nesta iniciativa da APDC foi para fazer a ligação entre conhecimento, informação e comunicação que foi criada a Fundação Francisco Manuel dos Santos. Liderada pelo conhecido sociólogo, visa promover o estudo, o conhecimento, a informação e o debate público, procurando contribuir para o desenvolvimento da sociedade, a melhoria das instituições públicas e o reforço dos direitos dos cidadãos.
O seu "rosto "mais visível é o PORDATA, porque "o conhecimento precisa de informação", e porque há que colocar "a informação ao serviço do conhecimento", através da "promoção da opinião livre baseada em factos" e da disponibilização de dados necessários para se "pensar a sociedade portuguesa. Uma "Base de Dados de Portugal Contemporâneo" que se vai alargar dentro de dois anos a mais de 800 indicadores de todo o Mundo. Segundo António Barreto, a Fundação avançou ainda com a elaboração de um conjunto de estudos e a publicação de pequenos ensaios e vai agora arrancar com documentários em DVD, para cinema e televisão, numa escala de produção de conhecimento. Porque "nenhum número resume uma vida, uma pessoa ou um país. Além dos números são precisas ideias".
Para o orador convidado do Jantar-Debate da APDC, apesar da situação em Portugal ter mudado muito nos últimos anos, muito por força da sociedade, do Eurostat e da União Europeia, o facto é que subsistem "enormes dificuldades em obter informação pública" por parte do Estado. Em termos de conhecimento, informação e comunicação, o nosso País tem indicadores que mostram uma aproximação aos padrões europeus. Como no caso da Internet, banda larga e outros meios de comunicação. Já quanto à escolaridade avançada, formação técnica e tecnológica e artigos e publicações, estamos muito abaixo, enquanto ao nível das patentes "Portugal está ainda muito medíocre" face à média europeia. Uma situação que resulta da fraca relação entre ciência/empresas e entre universidades/escolas.
Apesar dos progressos recentes, o País ainda tem uma "população activa pouco qualificada". Mas hoje já temos "mais universitários do que analfabetos. É a primeira vez que acontece". E os indicadores mostram que "a condição social e económica parece não ser o factor decisivo na distribuição de meios de informação e comunicação. O grau de escolaridade é mais diferenciado. E realmente decisivo é o factor idade".
Se "Portugal está bem apetrechado de comunicações", na informação já nem tanto e no conhecimento "fica muito aquém", o caminho tem que passar por uma maior colaboração entre escolas, universidades e empresas, por mais exigência, mais investimento e mais internacionalização. Ao Estado cabe deve rever os seus incentivos ao investimento, tanto interno como externo, porque "sem investimento não há planos de resgate que nos valham".
António Barreto defende que, apesar de todos os progressos, os sectores público e privado devem tornar mais fácil o acesso a toda a informação que dispõem. E às políticas públicas cabe um esforço muito especial no sentido de fornecer mais informação e mais conhecimento, cabendo às autoridades públicas tentar alterar as condições legais de acesso à informação. Porque "o segredo de Estado já não devia existir". Porque "com informação há liberdade e democracia. Até as leis seriam melhores. Para o bem do Estado e dos cidadãos".
Respondendo às questões da audiência, o conhecido sociólogo referiu-se ainda à situação do jornalismo actual, a atravessar uma difícil conjuntura, sendo que um dos grandes problemas é que "há poucos fornecedores de informação", para além da menor preparação cultural e se ser um sector menos crítico. E defendeu o serviço público de televisão através de uma alteração da estratégia da RTP, que tem muito que fazer no debate, na discussão livre, na educação e na cultura. "Vejo que a RTP podia ser uma jóia na cultura portuguesa", sendo o serviço público "aquilo que os outros não fazem ou não sabem fazer. Para elevar os portugueses".
Reiterou ainda a necessidade de revisão da Constituição portuguesa, porque "perdeu o prazo de validade. É demasiado defensiva contra os perigos existentes. É uma colectânea de defesas e alçapões, de fortalezas. Não é positiva nem é afirmativa sobre o que um povo e um país são".
ANTÓNIO BARRETO