A tecnologia está sem dúvida a mudar tudo e todos. Numa sociedade e numa economia cada vez dependentes do digital, onde o futuro é impossível de prever, dada a velocidade da mudança a que assistimos, os benefícios deste novo mundo são muitos. Mas há também riscos e ameaças que importa enfrentar e resolver numa nova realidade em que as máquinas serão, cada vez mais, uma extensão do ser humano. Regulação, ética, moral e governance são temas que importa abordar perante um progresso tecnológico que ainda está a dar os primeiros passos. Foram algumas das ideias que ficaram do debate no primeiro "APDC Digital Business Movies co-produced by NOS".
A APDC, em parceria com a NOS, lançaram a primeira de um conjunto de iniciativas num formato inovador. Com os "APDC Digital Business Movies co-produced by NOS", pretende-se debater temas ligados à tecnologia e o seu impacto na economia e na sociedade, seguidos do visionamento de filmes ou documentários sobre o tema.
Neste primeiro evento, esteve em análise o documentário "Eis o Admirável Mundo em Rede", do realizador Werner Herzog. Onde faz uma viagem pelo mundo da internet, da robótica e da inteligência artificial, desde as suas origens até à atualidade, e analisa a forma como transformaram o mundo, dos negócios à educação, das viagens espaciais à saúde e às próprias relações pessoais.
Celso Martinho, CEO e Founder da Bright Pixel, e Luís Moniz Pereira, Professor de Ciência da Computação e Diretor do Centro de Inteligência Artificial na Universidade Nova de Lisboa, foram os oradores do debate, moderado por Filipe Morais, Chefe de Redação Adjunto do Dinheiro Vivo.
Sendo um homem da tecnologia, que esteve na génese do aparecimento da Internet em Portugal e foi desde sempre um profissional ligado às tecnologias emergentes, Celso Filipe assume-se como um otimista por natureza. Está por isso, "do lado dos que olham o futuro com otimismo", considerando a tecnologia "um instrumento que nos vai ajudar, como sociedade, a dar o próximo passo e a conseguirmos ter vidas cada vez melhores".
Admitindo ser difícil prever o que vai acontecer no futuro, até porque a Internet está a menos de meio do seu percurso, e há "muita revolução para chegar", o gestor diz que há "um mundo de oportunidades que se estão a abrir", em áreas como a realidade virtual, inteligência artificial (AI) ou redes neuronais. Não sendo temas novos, estão a emergir em força, tornando claro "o que as tecnologias podem fazer pela sociedade".
Há, no entanto, temas que importa analisar e refletir. Como o da automatização da sociedade, ou seu governo, os novos modelos económicos quanto à medida que a tecnologia começa a substituir os humanos em determinadas tarefas. "Não me preocupa a máquina poder dar cabo da humanidade, porque ela será sempre uma extensão, uma evolução de nós próprios, diz.
Já Luís Moniz Pereira está mais cético, defendendo que "o progresso tecnológico cria problemas que não sabemos se ainda temos capacidade de resolver. Mas temos que os enfrentar". Um deles resulta do facto da tecnologia criar mais recursos e de se aferir quem no futuro vai efetivamente beneficiar deles no futuro, se quem os cria ou a sociedade comum um todo.
Para este responsável, há questões ideológicas, morais, éticas e legais, que importa abordar e resolver. "Não estamos a endereçar as leis que se debruçam sobre a utilização da tecnologia em áreas como os carros autónomos, o big data ou a IoT", alerta, quando são as "leis que regulamentam a forma como a sociedade funciona".
Referindo que "ainda estamos muito longe de uma simbiose com as máquinas", considera que o "problema não é tanto das máquinas nos conquistarem, mas o dar poder a máquinas que ainda são muito imperfeitas". Embora a Internet esteja "na sua infância e o seu futuro terá muito a ver com as pessoas que já nasceram dentro dela", destaca o facto de já estar a afetar o desenvolvimento das novas gerações, que comunicam sem construir em conjunto, sem "fazer a simbiose". No futuro, tudo dependerá da forma como a tecnologia for utilizada e dos limites que forem criados.
Certo é que, como refere Celso Martinho, a "sociedade terá que encontrar novos modelos e formas de fazer com que a economia funcione", num cenário em que as pessoas vão trabalhar muito menos e se valorizam cada vez mais as profissões criativas. Perante um futuro difícil de prever, marcado pelo forte desenvolvimento de áreas como as redes neuronais, AI, machine learning, biotecnologia e realidade virtual, onde muita coisa está já acontecer, é preciso endereçar temas como a redistribuição da riqueza.