Está aberto o caminho para uma nova era de colaboração na criação de novas aplicações inovadoras. As telcos estão a disponibilizar APIs standard de rede, que permitem amplificar e expandir as capacidades de integração entre redes móveis e os sistemas de software. A partir daqui os developers estão a criar múltiplas aplicações conectadas, cada vez mais inovadoras. A servir de interface, há tecnológicas a assumir a missão de acelerar esta nova era, que já começa a beneficiar em força da disrupção da IA. O país tem aqui um futuro promissor como um verdadeiro hub, se souber aproveitar bem este enorme potencial. A garantia foi dada no mais recente webinar da APDC, em parceria com a MEO, sobre "APIs Standard de Rede como Motor de Inovação Global".
As aplicações que estão a ser desenvolvidas atualmente já são altamente conectadas, o que mostra que as ferramentas para as construir têm evoluído significativamente. Tudo graças a dois mundos, que têm trabalhado para a criação de todas as apps: o mundo dos operadores de telecomunicações, que facilitam a conectividade através das suas redes, e o mundo dos developers e das empresas que constroem as soluções. Juntos, têm migrado para um ambiente muito mais ligado e assente num paradigma cloud.
Foi assim que Marco António Silva, National Innovation Officer da Microsoft, começou por explicar o novo mundo das APIs, interfaces que permitem a comunicação e a integração entre sistemas e aplicações. O orador, que apresentou o tema das "APIs - Agentes de IA e a Nova Economia de Infraestruturas Digitais", não tem dúvidas de que estas interfaces estão "a transformar a economia", abrindo caminho para uma nova geração de aplicações.
Trata-se mesmo de um novo paradigma, em que se estão a dar aos criadores "melhores e mais poderosas ferramentas, para construir mais e melhores aplicações". Como explica, "se olharmos para as capacidades que um operador de comunicações consegue entregar ao ecossistema de criadores de aplicações, engloba todas as novas capacidades que está a desenvolver. Desde o 5G, a mais recente evolução da rede móvel, aos dados e funcionalidades criadas dentro da rede. O que fazem através da oferta das APIs (Application Programming Interface).
REVOLUÇÃO COM COOPERAÇÃO E STANDARDIZAÇÃO
Mas, tendo em conta que todas as telcos estão a apostar nesta área, e perante a necessidade de governação e de criar standards para garantir soluções globais e seguras, foi criado um verdadeiro ecossistema mundial, através da GSMA. A aposta é a construção de APIs com base em use cases, o que, para o gestor, "quer dizer que nos estamos a centrar nas aplicações e nas capacidades disponíveis, juntar os dois mundos e construir uma API global, mais ou menos estandardizada. Para que a comunidade de developers consiga passar de operador para operador e contar que já têm as mesmas capacidades disponíveis globalmente".
Através desta metodologia, acredita que se vai "conseguir efetivamente chegar a todos e construir a verdadeira API universal, para conectar todas estas aplicações a todos os operadores. É um problema complexo, mas que está a ser endereçado de forma colaborativa e interativa". Destaca que "existe agora uma comunidade bastante grande de developers no mundo inteiro, que está a construir estas aplicações e que está habituada a fazer algumas integrações de forma natural com as APIs.
Também os operadores já estão a colaborar para construir as APIs, para garantir que não existem 50 ou 100 APIs diferentes para fazer a mesma coisa, o que seria um pesadelo e mataria todo o potencial que poderíamos retirar desta abordagem",
A Microsoft também tem neste âmbito um papel a desempenhar, até porque já tinha uma uma comunidade bastante grande de developers, uma software house que produz frameworks e uma cloud que está globalmente disponível. Assim, "passou a colaborar na construção e materialização deste potencial, fornecendo uma ligação entre as comunidades de developers e operadores que estão a fornecer funcionalidades, de acordo com os standards que estão a ser construídos colaborativamente", explica Marco Silva.
Assim, foi criada, através do Azure Programmable Connectivity, uma camada intermédia de integração, que permite aos developers chegarem facilmente aos operadores que fornecem os serviços de APIs. E que as telcos cheguem rapidamente ao ecossistema de developers, que estão disponíveis no Azure.
Trata-se de uma interface que, na sua opinião, tem vantagens inegáveis para ambas as partes: é uma forma dos operadores integrarem as suas APIs numa única plataforma; e de dar apoio à comunidade de developers para conseguirem implementar os use cases. Permite ainda a estes "ter uma aplicação globalmente distribuída e com vários operadores", o que permite fazer uma integração de funcionalidades com uma única credencial que chega a todo o lado.
"Trata-se de uma construção algo interativa. A própria definição dos use cases e a implementação do standard estão a ser construídos. Começou focada em três use cases ou funcionalidades - SIM swap detection, number verification e device location verification - mas está a ser estendida a áreas como a quality of demand, carrier billing e discover optimal latency end-point.
Para este responsável, há já "muitas capacidades concretas para resolver problemas de segurança, de qualidade de serviço e para aumentar a forma como os utilizadores finais estão a tirar partir das aplicações". Também os developers conseguem, com a plataforma da Microsoft, dar melhores experiências e aumentar o valor que entregam. Este é um valor que não pode ser afastado da grande transformação que está a ocorrer com a inteligência artificial (IA). Esta "veio mudar o mundo e está a mudar todos os dias", pelo que a nova fronteira que agora se perfila é a do mundo dos agentes de IA, os agentic AI. A contrário dos chatbots, que só responde a questões, um agente tem um conjunto de novas capacidades que lhe permitem definir um plano, de ir buscar informação e de agir, de acordo com as instruções do utilizador.
"Já vemos até os chatbots a ficarem mais inteligentes, com mais capacidades. Isto está a desbloquear um ROI incrível que antes não existia. As aplicações hoje já conseguem ser um assistente, que permite um aumento de produtividade. Que será cada vez mais potenciada quanto mais o agente tiver capacidade de fazer as coisas certas e de tomar as melhores decisões. "Se nós lhe demos as melhores APIs, vamos começar a ver mais use cases a crescer em cima disso" e para os mais variados setores, garante o orador.
Esta "evolução de um mundo dos LLMs e dos GPTs e outros" para cenários de agentes mais complexos resultará, na sua perspetiva, em aplicações com sistemas multi-agentes, que falam uns com os outros e colaboram para conseguir fazer coisas ainda mais complexas. E vão conseguir "fazer um bocadinho de tudo", um "canivete suíço onde vão estar as APIs de rede. Será verdadeiramente transformador. Há aqui muito poder para revolucionar a economia", garante.
POTENCIAL DA NOVA ERA É GRANDE
Para falar sobre tudo o que se deve saber sobre APIs de rede para competir e inovar no mercado digital, realizou-se de seguida um debate entre vários players. Carlos Bouça, diretor de Engenharia e Operações da MEO, começou por destacar que todo este mundo surgiu com a transformação dos telemóveis em supercomputadores, que hoje são verdadeiros assistentes pessoais das pessoas e com a transformação das redes, que evoluíram para uma arquitetura diferente.
"A forma como os dados existem na rede e como são expostos é fundamental sobre dois aspetos: os dados estarem num formato que permita aos developers desenvolver as aplicações sem o esforço da preocupação com a sua qualidade e a sua estruturação; o tema do consentimento, que é necessário ser obtido de cada utilizador para que os dados sejam utilizáveis", explica, adiantando que "o papel do operador é criar um campo liso, um plano perfeito para que os developers possam, em cima de dados perfeitamente standardizados em qualquer parte do mundo e qualquer linguagem, desenvolver uma aplicação".
O 5G API Sprint é um exemplo de uma iniciativa, lançada pela MEO Empresas, que disponibiliza as APIs standard da rede MEO para que as empresas, startups e developers possam desenvolver um protótipo ou redesenhar uma aplicação. O desafio foi lançado em novembro do ano passado, no âmbito da Web Summit, ePaulo Rego, diretor de Produto e Pré-Venda da MEO Empresas, refere que concorreram 22 empresas. Destas, foram selecionadas as três empresas vencedoras.
Uma das vencedoras foi a PluggableAI, que desenvolveu uma solução que revoluciona a interação e o engagement entre as marcas e os fãs, ao medir a ligação emocional entre ambos, com recurso a IA, sensores e APIs de redes de localização. Como explica o CTO desta startup, Luís Moreira, o objetivo foi criar uma nova era do fun engagement. Para isso, desenvolveram o Fanmeter, um medidor de fãs centrado na medição de ligações emocionais entre adeptos e o que o que estão a viver, seja um jogo de futebol, um evento musical ou cultural ou outra qualquer iniciativa. Através de um smartphone e com recurso à IA, com base em dados não intrusivos e anonimizados, a app estima um score de engagement, sendo que no final do evento o utilizador com o score mais elevado é eleito o fun of the match. Foram integradas, através do programa da MEO, duas APIs de rede - location retreaval e location verification - o que oferece capacidades em termos de segurança significativas.
UM VERDADEIRO GAME CHANGER
Marco Costa acrescenta que as APIs são cada vez mais um game changer, apesar desde ecossistema entre aplicações e redes já existir há algum tempo. É que finalmente se conseguiu desbloquear todo o seu potencial para tirar partido dos dados e criar novas funcionalidades. "Estamos a viver o maior momento de transformação de tudo, da economia e do potencial tecnológico", destacando a nova geração da IA e as novas capacidades da rede, que vem permitir mais cenários de inovação.
"A standartização destas funcionalidades e o foco nos use cases permite agora tirar o máximo partido imediato do máximo de uses cases para acelerar esta nova economia. Por isso, é um game changer na forma como está a ser adotada e pelo momento onde estamos. Desbloqueamos a economia das APIs e novas capacidades dentro das aplicações para novos casos de uso. Gosto a abordagem que está a ser seguida globalmente, de encontrar use cases, desenhar, standardizar, pôr em produção e disponibilizar", remata.
Dentro da evolução do catálogo da MEO, as APIs disponíveis no portal estão essencialmente agrupadas em questões de localização e autenticação dos utilizadores, assim como de qualidade de serviço. Ao todo, são oferecidas cinco APIs, mas Carlos Bouça diz que haverá brevemente evoluções ao nível da oferta.
Paulo Rego acrescenta que ainda se estão "a dar os primeiros passos no aproveitamento de todos estes recursos", sendo que atualmente são os setores da saúde, banca e mobilidade que podem ter uma perceção mais imediata da criação de valor. A oferta da MEO já está, por exemplo, em projetos-piloto de integração em software houses e fintechs, para validar de forma seamless a identidade dos cartões SIM. "Estamos a dar ferramentas de cobertura nacional e de criação de valor, que acrescentam eficiência, sem colocar em causa a experiência do cliente e até com um reforço desta", assegura.
E o futuro é promissor, com o aparecimento de novos devices e uma infinidade de novas aplicações. Para Carlos Bouça, o desafio continuará a ser a garantia dos consentimentos dos utilizadores. E este é um trabalho muito relevante que a MEO está a desenvolver no âmbito do 5G API Sprint: "claramente estamos a investir na criação de um ecossistema de developers. Portugal tem aqui um enorme potencial. Temos, como os demais operadores do mercado, das melhores redes de comunicações ao nível mundial, excelentes centros de desenvolvimento e podemos fazer produtos de ponta de nível mundial".
O tema do consentimento tem sido o mais complexo de endereçar, em todo este processo. Para o gestor, "há 10 milhões de pessoas que têm de entender o funcionamento disto. O cliente final tem de estar consciente e aprender. Há muita aprendizagem por parte de todos, porque este novo mundo oferece um enorme potencial para toda a sociedade. Não só de como utilizar, mas também de entender e perceber que se trata de uma ferramenta e não uma substituição das pessoas", garante.
O responsável da Microsoft acrescenta que Portugal se está a tornar "num hub de inovação dentro da Europa. Quando falamos em desenhar use cases que não existem, estamos a inovar, a tentar integrar dentro das aplicações novos uses cases. O país tem um posicionamento estratégico à escala europeia e até mundial. Estamos a criar um ecossistema de inovação tecnológica, de fintechs. Temos tudo o que é necessário para que isto tenha um bom potencial e que seja até pioneiro em alguns casos. Temos de ter capacidade de escalar, de chegar aos consumidores e de os conhecer. É uma missão nossa conseguir chegar aí".
Neste âmbito, o CTO da PluggableAI aconselha todos os developers a experimentar: "as APis disponíveis são muito fáceis de integrar e a standartização ajuda no processo. Está tudo apresentado de uma forma clara e simples. O objetivo é manter este processo interativo, sendo uma meta muito importante, porque vão existir use cases onde as APIs funcionam e outros em que não".
Mas num mercado onde as APIs estão a crescer rapidamente, gigante como a Microsoft terão, cada vez, mais de ligar as comunidades das telcos e da comunidade de developers. Facilitando a aceleração, numa ótica de market place, das APIs aos developers. E dos operadores poderem colocar, com facilidade, as suas ofertas e capacidades através da interface. Marco Silva diz que a tecnologia está a trabalhar muito próximo destes dois ecossistemas já há muitos anos, sendo até uma missão do grupo. É um player de colaboração e de integração. Relativamente à IA, que é "a próxima geração de aplicações", a dos agentes, que funcionam em cima de APIs.
A rematar, Paulo Rego diz que hoje todas as empresas que têm na inovação um fator distintivo e de competitividade terão de estar atentas a este novo mundo. No entanto, na fase atual, ainda de early adopters, só aquelas que têm preocupações concretas de segurança e usabilidade nas suas aplicações, plataformas e sistemas é que estão atentas. Ou seja, as fintechs e software houses que estão na linha da frente, porque o tema da segurança e da fraude bancária é mais crítico. E deixa claro: "se acreditamos que isto é uma tecnologia que acrescenta valor e que contribui para a competitividade, todas as empresas terão de a usar. A questão é o nível de adoção. Quem se atrasar, vai ficar para trás"
PROGRAMA
DATA: 21 maio 2025
10:00
BOAS-VINDAS
Sandra Fazenda Almeida - Diretora Executiva, APDC
10:05
APIs - Agentes de IA e a Nova Economia de Infraestruturas Digitais
Marco António Silva - National Innovation Officer, Microsoft
10:30
Tudo o que deve saber sobre APIs de rede para competir e inovar no mercado digital
Carlos Bouça - Diretor de Engenharia e Operações, MEO
Luís Moreira - CTO, Pluggable AI
Marco António Silva - National Innovation Officer, Microsoft
Paulo Rego - Diretor de Produto e Pré-Venda, MEO Empresas
Moderação: Cindy Barardo - APDC
11:30
Encerramento