Com o mote "Back to the Future? A convergência entre Comunicações e Televisões", a Conferência reuniu representantes dos fornecedores de equipamentos, dos principais operadores de comunicações e dos grupos de media nacionais com televisões de sinal aberto. Numa altura em que os sectores das comunicações, media e TI vêem esbater-se as fronteiras entre eles, integrando-se na cadeia de valor da indústria das TIC e New Media, este foi um encontro para fazer ponto de situação e traçar perspectivas de futuro.
É que a tecnologia mudou muito nos últimos anos e as "infra-estruturas de distribuição, de processamento e de armazenamento revolucionaram-se", aparecendo no mercado "players absolutamente imprevisíveis" e ensaiando-se novos modelos de negócio, como destacou na Sessão de Abertura o presidente da APDC. "Uma nova geração de consumidores chegou ao poder. Com experiências, gostos e hábitos radicalmente diferentes. E como se não bastasse, a crise, como todas as crises, acelera e dramatiza agora todas estas mudanças", salientou Pedro Norton, para quem "vale a pena voltar a discutir o futuro de ontem porque ele volta a ser o futuro de hoje".
E se as questões em torno desta temática são múltiplas, as respostas para muitas poderão ainda não ser encontradas. "Talvez seja razoável que deixemos cair a ambição de encontrar um eterno ‘novo paradigma' porque nada nos diz que todo este processo de mudança no sector tenda necessariamente para um equilíbrio final, estável, sólido e duradouro. O que não é necessariamente mau. O nosso papel na APDC é precisamente o de continuar a fazer perguntas", considera o líder da Associação.
TV MANTÉM-SE COMO CORE E FICA INTELIGENTE
Mas apesar de todas as mudanças profundas no mercado, para o Keynote Speaker deste evento, Iván de Cristóbal, Senior Manager na área de Broadcasting & Publishing da Accenture, "da mesma forma que a TV não matou a rádio ou o cinema, a internet não vai pôr fim à televisão". Com a Internet, a mobilidade e o digital estão a surgir novos modelos de negócio, a descer os custos de produção e a mudar a forma de consumo dos conteúdos. Especialmente no broadcasting. Mas a televisão continuará por muito tempo a ser o negócio core, embora tenha de apostar cada vez mais em mais canais, melhor qualidade de imagem e mais plataformas de distribuição. Para este responsável, os over-the-top (OTT) mudaram a forma como os consumidores acedem ao entretenimento em broadcast. Mas se as pessoas que querem e exigem mais conteúdos, o facto é que em primeiro lugar os vêm na televisão. E o consumo de conteúdos tem crescido também na tv linear.
A tv continua a ter um papel social e colectivo na sociedade, por isso é que não irá desaparecer". Mas sendo a tv o core de um novo ecossistema, há que ter a noção de que os consumidores querem ter o controlo dos conteúdos: o que querem, como querem e onde querem. Por isso é que apostar na qualidade e no valor acrescentado dos serviços. Do conceito 'o conteúdo é rei' devemos passar para o conceito 'a qualidade é o novo rei'. E a tipologia de novas formas de fazer negócio é enorme e todos os players da cadeira de valor estão a marcar claramente território.
Este movimento é evidente nos fabricantes de equipamentos como a Sony, LG, Samsung e Toshiba. Os responsáveis destas multinacionais, que integraram o painel sobre "O Futuro do Ecrã: maior, com melhor imagem ou interactivo?", sessão moderada por Pedro Miguel Oliveira, deixaram bem claro que estão muito atentos às profundas mudanças do mercado e do consumidor e que desenvolvem equipamentos cada vez mais interactivos, simples e intuitivos e com crescente qualidade de imagem. De acordo com Hugo Jorge, da LG, a evolução tecnológica do segmento das tv tem como objectivo aumentar a experiência da utilização de conteúdos. E a interactividade, convergência e funcionalidade são determinantes para melhorar o consumo de conteúdos. Sendo a smart tv é um dos principais pontos que permite trazer inovação ao mercado, esta tem sido uma forte aposta dos fabricantes.
Vassilis Seferidis, da Samsung, resume as tendências chave para a televisão: maior, melhor, mais rápida e inteligente. Com a smart tv, será possível ter um ecrã multiplataforma e trazer definitivamente os conteúdos internet para a televisão. Um ecrã em ligação com todos os demais devices, permitindo aos consumidores acederem aos conteúdos onde e quando quiserem, ressaltou Soichiro Saida, da Sony. Trata-se de uma 'connected tv' onde ainda há muito a fazer para enriquecer a experiência do utilizador, até porque nem todos os elementos da cadeia de valor estão a conseguir acompanhar a evolução ao mesmo ritmo.
"O papel da tecnologia é disponibilizar plataformas e devices que sejam suficientemente abertas e adequadas para o utilizador", defendeu Jorge Borges, da Toshiba. Há que apostar na inovação ao nível da qualidade dos ecrãs que trazem maior conforto para o utilizador, assim como em novas funcionalidades e elevadas capacidades de processamento dos equipamentos. E todos são unânimes em garantir que, para trazer cada vez mais funcionalidades aos equipamentos e melhores conteúdos para os utilizadores, as parcerias com produtores de conteúdos e operadores de distribuição são vitais.
PARCERIAS SÃO O CAMINHO
O tema das parcerias também esteve em destaque na última sessão desta Conferência, que reuniu os líderes dos grupos de media com televisões de sinal aberto e das duas grandes plataformas de comunicação nacionais. Com o mote "Aberta, Paga, Premium e a Pedido - Que Modelo de Televisão vai Vingar e Quem o Deve Controlar?", num debate moderado por Pedro Norton, todos defenderam que as parcerias entre os vários players da cadeia de valor serão o melhor caminho para dar resposta às profundas mudanças de mercado e a um consumidor cada vez mais exigente e multiplataforma. E todos estão a tentar novas formas de negócio, para determinar quais os modelos mais adequados para esta verdadeira mudança de paradigma.
De acordo com Francisco Pinto Balsemão, presidente e CEO da Impresa, "não é obrigatório que empresas que distribuem conteúdos sejam proprietárias das que produzem. Os interesses de quem produz conteúdos estão melhor protegidos se forem autónomos". O líder da dona da SIC defende que a tv generalista de sinal aberto vai continuar por muito tempo. Até porque "o governo, os anunciantes e o público precisam dela". Mas "o que pode prejudicar a tv free será o excesso de concorrência, por decisão política, com canais que o mercado não suporte", numa clara alusão à privatização da RTP prevista pelo novo governo.
Também Guilherme Costa, presidente da RTP, não vê a necessidade de integração empresarial da cadeia de valor. Pelo contrário, cada elo desta cadeia tenderá cada vez mais a especializar-se no seu negócio, porque as novas TIC provocaram uma alteração significativa: produzir mais barato, melhor e mais próximo do consumidor. E se a baixa de preços dos conteúdos implica a sua proliferação por todas as plataformas, este é um processo que traz mais concorrência, oque deve gerar uma maior consciência crítica. O papel dos produtores e distribuidores de conteúdos é "orientar os consumidores na escolha, perante a proliferação de conteúdos. E há que perceber a fragmentação de audiências". E o conceito de serviço público tende a acompanhar as tendências de mercado, apesar de se manterem muitos entraves à sua evolução, nomeadamente a própria crise financeira e a resistência à mudança.
Já Miguel Pais do Amaral, presidente da Media Capital, para quem "a TV aberta em Portugal é um sector fortíssimo e importante, que continua a ser o único veículo para publicidade às massas", o futuro passa pela tv online, que provocará "enormes mudanças na cadeia de valor e novos modelos de negócio. Vai revolucionar também os broadcasters e plataformas, que têm de percorrer um caminho no sentido das alianças". Melhoria da infra-estrutura, inovação das set-top boxes e televisões com internet e entrada de players como a Apple e a Google serão os enablers ao mercado, onde o paradigma está em mudança. E os conteúdos killer passarão pela informação, ficção nacional, reality shows e pelo desporto.
Partilhando a opinião de que "ninguém deve controlar ninguém", Rodrigo Costa entende que "poder a mais nas empresas é sempre efémero". Para o CEO da Zon, "há uma ameaça muito grande e uma grande confusão, quer na cabeça dos produtores quer dos distribuidores. Estamos numa fase de arrumar ideias. E temos de ter cuidado. Estas alterações podem destruir valor. Temos de pensar muito bem como nos vamos ajustar a este novo mundo". Por isso, esta é uma fase em que "é muito importante estabelecer parcerias". O mercado sem rede não existe, mas o conteúdo é o driver mais importante da evolução do negócio. Este responsável não tem dúvidas de que "continua a haver uma predominância claríssima dos canais generalistas em relação aos temáticos pagos. São potenciadores de audiências".
"O que vai marcar o mercado no futuro será a possibilidade dos operadores darem experiências interactivas", destacou Zeinal Bava para quem "não faz sentido os distribuidores entrarem no mercado dos produtores de conteúdos". No futuro, vão distinguir-se os vencedores dos vencidos através da distribuição de conteúdos interactivos não lineares em ecrãs multiplataforma e tendo o grupo PT o pipe e a capacidade de trabalhar com parceiros para oferecer conteúdos diferentes, "não nos assusta a possível entrada dos OTT". Aliás, para o CEO da Portugal Telecom, os over the top poderão mesmo representar "uma oportunidade adicional de negócio, pois vão acabar por perceber que é melhor trabalharem com os operadores".
Integrado na Conferência, realizou-se entre os participantes um sorteio de uma câmara de Video Flip, numa iniciativa patrocinada pela Cisco. O vencedor deste passatempo foi Tiago Azevedo, da Direcção de Sistemas e Tecnologias de Informação do Grupo Impresa.