A sustentabilidade está na ordem do dia e uma das suas grandes componentes é a circularidade. Num setor crítico como é o da energia, a EDP, através da E-REDES, está a desenvolver, com o apoio da Capgemini, o E-REDONDO. Trata-se de um projeto destinado a permitir a identificação de novos modelos de negócio circulares, para preparar desde já o grupo para o futuro.
Num novo episódio dos Dot Topics APDC, em parceria com a Capgemini, este projeto esteve em debate, assim como as suas vantagens e benefícios. Com destaque para a redução da pegada de carbono ao aumento da competitividade, a promoção da mudança para a circularidade de todos os parceiros e até a antecipação no novo enquadramento regulamentar para o setor, definido por Bruxelas.
Neste episódio, moderado por Sandra Fazenda Almeida, Diretora Executiva da APDC, Inês Cândido Silva, responsável pela área de gestão da sustentabilidade na E-REDES, começou por explicar que o projeto surgiu no âmbito da estratégia de sustentabilidade do grupo EDP. E tem, basicamente 5 grandes prioridades: a descarbonização, muito associada ao papel do setor energético; o impacto social, nos territórios de atuação; os parceiros de negócio, agregando toda a cadeia de fornecimento num objetivo coletivo de criação de uma cultura ESG ((governança ambiental, social e corporativa), incluindo os colaboradores; e a defesa do planeta.
"Estamos preocupados com tudo o que é eficiência associada aos recursos naturais. Tudo o que utilizamos atualmente e que colocamos na rede vem da extração de matérias-primas. Temos de perceber como é que o desenvolvimento de uma atividade como a da E-REDES pode ser efetivamente mais circular, utilizando melhor os produtos e materiais e tendo em atenção as matérias-primas críticas. Estamos também, obviamente, concentrados na proteção da biodiversidade", explica a responsável da E-REDES.
GESTÃO DE ATIVOS SUSTENTÁVEL
É por isso que o E-REDONDO "procura ser um projeto dedicado à melhoria da gestão de ativos, focado na questão da circularidade e como é que a podemos trazer para esta gestão", acrescenta. Nesse sentido, definiu as quatro fases essenciais para a sua concretização. A começar por um diagnóstico do modelo circular da empresa e da sua pegada carbónica, onde a meta foi "avaliar, conhecer melhor, aprofundar toda esta temática do que já havia na rede", detalha Inês Cândido Silva.
Seguiu-se uma segunda fase, que chamou de ‘valorizar', ou seja, "perceber de que forma é que, ao conhecer melhor como é o modelo circular poderá ter melhorias, identificando-se novas formas de gerir os ativos, seja com melhorias ao nível da reutilização, seja com mais possibilidades de reparação ou de recondicionamento. Com um foco grande ao nível do tratamento no fim de vida, que permita fechar este ciclo e reintroduzir e reaproveitar todos os materiais".
Já a terceira fase passa por ‘capacitar'. "A preocupação com que acompanhamos esta nova metodologia, trazida pela abordagem à economia circular na organização, tem de passar por capacitar as principais unidades organizativas, que tiveram uma participação muito relevante. São elas que identificam onde é que podemos, de facto, aportar valor", detalha, adiantando que foi neste âmbito que surgiu a oportunidade de trabalhar com a Capgemini. Por fim, a quarta fase é mais tecnológica, implicando inovação e desenvolvimento tecnológico. Aqui, "tudo tem a ver com pilotos a nível de novos equipamentos que possam ser testados e colocados na rede que aportem, obviamente, maior circularidade".
Já na perspetiva do fornecedor da solução, Ana Silva, Senior Manager da Capgemini, adianta que o projeto foi desenhado em duas grandes fases: na primeira, identificaram-se os novos modelos de negócio, que que faz parte do objetivo de valorizar; numa segunda fase, foi desenhada uma metodologia de avaliação da circularidade dos ativos. Neste âmbito, a tecnológica desenvolveu uma plataforma, assente em Microsoft PowerApps, que permitiu classificar a circularidade dos ativos, já que era uma ferramenta já utilizada internamente pela E-REDES, o que tornava mais fácil a implementação.
A gestora destaca o envolvimento de todas as áreas da E-REDES, desde a inovação às compras, ao planeamento e à gestão de fornecedores, entre outros. Acabou por se concluir que "nem todas as áreas conheciam muito bem a realidade atual e só depois de fazer um ponto de situação é que pensámos em novos modelos de negócios circulares".
Neste processo, ajudou o recurso a uma metodologia proprietária da Capgemini, o Sustainable Business Model Canvas, que permitiu "estruturar bastante as ideias e pensar quais é que as iniciativas que fariam sentido implementar, face à realidade da E-REDES e para onde gostaria de caminhar". Foi com base neste processo que se "desenhou um roadmap de iniciativas, que permite agora ter a direção para onde a empresa deve caminhar".
PROLONGAR CICLO DE VIDA
Um dos principais eixos de atuação de todas as iniciativas já identificadas é a da longevidade dos ativos, da sua vida útil. Porque o objetivo estratégico do grupo EDP é garantir "o maior tempo possível dos ativos em operação, com segurança, bom desempenho e funcionalidade", como ressalta Inês Cândido Silva. É que isso terá impactos no processo de compra da empresa, mas também nos fornecedores.
Por isso, "todos os requisitos têm de ser devidamente acautelados, trabalhados e acompanhados, também com os fabricantes. Aliás, este projeto teve uma componente não só interna, com unidades organizativas, mas com uma grande componente externa, para nos ajudar a perceber o nível de maturidade que temos com os nossos fabricantes, fornecedores, operadores de resíduos, prestadores de serviços... Não estivemos sozinhos neste diálogo, que tem de ser acompanhado e compreendido". É tue "Tudo isto é complexo. São muitos ativos, muitos intervenientes e componentes, sistemas a trabalhar que precisam de ser atualizados. Implica uma série de melhorias organizacionais, a nível de processo e de sistemas, que fazem parte deste roadmap".
A responsável da E-REDES admite ainda que tudo este projeto acabou por antecipar alguns dos posicionamentos para o futuro. Numa empresa "que tem no seu ADN toda esta abordagem a nível do ESG", esta "preparação para aquilo que são as questões associadas ao risco climático e ao contributo que pode ser dado ao nível das questões da pegada de CO2 são componentes que podemos aportar". Acresce a maior capacidade de resposta aos riscos operacionais e de mercado e às novas regras já anunciadas pela Comissão Europeia para o setor.
E se o E-REDONDO de destina do setor da energia, os seus pressupostos e metodologias aplicam-se e podem ser replicados pelas empresas dos mais variados setores de atividade que tenham muitos ativos para gerir. Como refere Ana Silva, já foi, por exemplo, aplicado ao setor aeroespacial. E enumera algumas das vantagens da aplicação deste tipo de projetos de avaliação de circularidade. A começar pelo aumento da competitividade das empresas, porque se conseguem antecipar as "exigências que aí vêm". Melhoria de posicionamento, do processo de compras sustentáveis e do desempenho ambiental são outros benefícios. E até ao nível do reforço da estratégia de employer branding da empresa. Afinal, os consumidores estão cada vez mais atentos às práticas sustentáveis e às iniciativas de circularidade dos seus fornecedores de serviços.
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