Evento APDC

11.02
Outras iniciativas



Pequeno-almoço em parceria com STEM Women Congress

Como Melhorar a Presença de Meninas e Mulheres em STEM em Portugal?

A igualdade de género nas STEM continua a ser um problema estrutural e nada fácil de resolver. Há múltiplas iniciativas no terreno, seja do setor público ou do privado, mas o seu impacto acaba por ser residual. Ganhar escala é o desafio, num país onde a tradição e a cultura se mantêm como grandes entraves ao aumento da presença das raparigas e mulheres nas profissões ligadas à Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática e às TIC. Por isso, a aposta na educação, fomentando as competências tecnológicas logo nos primeiros anos do ensino básico assume-se como crítica. Assim como a formação ao longo da vida para estas matérias. Sob pena do fosso entre homens e mulheres se agravar ainda mais. Nunca as políticas públicas assumiram tão grande relevância como na promoção de um maior envolvimento das mulheres nas STEM.

Estas foram as grandes ideias do Executive Breakfast sobre "Como Melhorar a Presença de Meninas e Mulheres em STEM em Portugal?", um evento realizado em parceria com o STEM Women Congress e que marcou o "Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência', comemoração implementada pela UNESCO e pela ONU-Mulheres, em colaboração com instituições e parceiros da sociedade civil, com o objetivo de fomentar o papel de mulheres e meninas na ciência.

Sendo a missão da APDC "desenvolver o ecossistema digital e criar condições para que Portugal tenha o máximo sucesso possível", a associação agrega diferentes tipos de players, entidades que se preocupam com o desenvolvimento desse ecossistema. Por isso, tem de definir temas que consigam unir todos os associados em torno do mesmo objetivo, como começou por destacar o presidente da APDC na abertura do encontro.

Entre os temas comuns identificados está, desde logo, a formação, exemplificou Rogério Carapuça, tendo em conta a dificuldade generalizada de encontrar pessoas com o perfil certo para contratar. Uma necessidade que deu origem ao Programa UPskill, que resultou de uma parceria com o Governo e com a Academia. Outro, mais recente, é a tomada de posições públicas sobre diretivas comunitárias ou legislação que esteja a ser produzida. E um terceiro, também ele muito relevante, é o da diversidade de género, com o incremento da presença feminina nas STEM e nas TIC.

Neste âmbito, o líder da APDC considera haver um "problema estrutural" que "não é fácil de resolver". E o tema é que há muitas organizações a desenvolverem iniciativas nesta área, mas que acabam por ter um impacto residual. "Não queremos criar um programa para fazer o mesmo que os outros, mas contribuir para que se ganhe escala. Até porque um dos grandes problemas da economia portuguesa é exatamente a escala. Queremos com o STEM Women Congress promover mais iniciativas em conjunto e premiar o mérito de trazer mais mulheres para as tecnologias".

Esse tem sido também o objetivo da STEM Women Associaton, criada em 2019 em Barcelona e que, entretanto, se transformou numa entidade de âmbito internacional que trabalha para promover e gerar talento feminino para as STEM e eliminar os preconceitos de género que existem nestes setores. Atualmente, conta com o apoio de quatro mil mulheres em Espanha e de um total de mais de seis mil ao nível global, incluindo Portugal, onde já abriu um capítulo, a par do Canadá, Itália, Colômbia e Brasil.  Em cada capítulo, a aposta é criar uma rede de mulheres STEM, empresas, governo e voluntários que ajudam a desenvolver os planos e ações para combater a baixa representação e visibilidade das mulheres nas carreiras ligadas a estes setores, como explicou Mar Porras, Global President da STEM Women Association e cofundadora do projeto.

COMO REFORÇAR A LIDERANÇA FEMININA? 

As desigualdades entre os sexos feminino e masculino nas profissões em Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM) continuam a ser muito acentuadas. Sendo que as tradições e a cultura nacional se mantêm como enormes entraves ao reforço das raparigas e mulheres nestas áreas. O caminho terá de passar por um reforço das competências tecnológicas logo nos primeiros anos do ensino básico, sob pena do fosso entre homens e mulheres se agravar ainda mais. Os alertas foram dados pelas oradoras da sessão "Liderança Feminina nas STEM".

Para Ana Mendes Godinho, Deputada e ex-ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, "vivemos tempos de transições e de desafios enormes. Mas tenho ido às escolas dialogar com os jovens e é impressionante a diferença de interesses e perspetivas entre rapazes e raparigas. As tradições e a cultura integram-se na nossa forma de vida e os rapazes acabam por ser muito mais estimulados. Este é um risco de desigualdade brutal. Estamos a criar um fosso que é preocupante".

Assim, defende que "há que atacar diretamente as capacidades transversais e tecnológicas. Temos de estimular logo no ensino básico, garantir que as competências tecnológicas sejam uma matéria base". É que, na sua perspetiva, "só se conseguirá mudar com ações, sejam legislativos, sejam de capacitação das pessoas para essa mudança".

Elvira Fortunato reforça esta ideia de que há que se começar deste cedo a apostar numa educação para a tecnologia das crianças. Até porque os estudos que vão surgindo confirmam que o problema é mesmo cultural. Educar passa cada vez mais pelas novas tecnologias e "não há razão para que não aconteça. Precisamos de ter mais raparigas e mulheres nas áreas tecnológicas". Outra área a ser trabalhada é a dos profissionais já no mercado, que também estão, em muitos casos, a ficar desatualizados.

A professora, cientista e ex-ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior alerta ainda para "outro problema transversal a todas as áreas: as lideranças. Há muito menos mulheres a liderar as empresas, sejam mais ou menos tecnológicas. Incluindo instituições de ensino superiores, onde só 25% é que são dirigidas por mulheres. É um caminho que temos feito, mas há ainda muito a fazer, incluindo nas famílias. Temos de mudar muito a forma como educamos as crianças".

Tendo em conta a sua experiência, Madalena Albuquerque, Chief Human Resources Officer da MEO, concorda com esta alteração de fundo em termos de educação. É que continua a ser dificil encontrar mulheres com formação em STEM para contratar. Mesmo ao nível das estagiárias, pois quase não existem nas faculdades. Por isso, na Altice, tem-se apostado na introdução de quotas e no desenvolvimento de carreiras dos jovens, assim como na formação para a liderança e programas de mentoria e de network. Ainda assim, destaca que todo este processo "está muito no início e tem de ser muito mais trabalhado". Sendo que as empresas têm a responsabilidade de tentar reforçar as suas equipas com mulheres.

E Sofia Marta, Country Manager da Google Cloud Portugal, está convicta de que "há muitas coisas que as empresas podem fazer". Desde promover a diversidade dentro e fora da organização até participar em programas de mentoria e de liderança. E há muitos, garante, que permitem fornecer guidances, criar redes e garantir um conjunto de pessoas com experiência que podem ajudar no percurso profissional das jovens e mulheres. Destaca ainda a importância das políticas públicas, assim como a aproximação às escolas. E o papel de todos na desmistificação de alguns temas culturais, ajudando as novas gerações a encarar o tema de outra forma.

Na Google, a aposta tem passado por vários programas de mentoria e de training, seja para profissionais já no terreno sejam para os jovens que estão agora a começar. Há ainda programas específicos de formação em várias áreas tecnológicas, como o IMPULSO IA, assim como iniciativas dirigidas especificamente para os mais jovens, numa lógica de interação e de experimentação. E destaca "a importância de realizar estudos, para haver dados e de falar com dados e factos e não apenas com perceções".

Todas concordam que a situação só mudará substancialmente, em termos de reforço da representatividade feminina nas STEM, se houver capacidade para criar e impor medidas. "Se não abanarmos, a história não muda. Temos de perceber que tipo de medidas que teremos de implementar que verdadeiramente sejam transformadoras. Pelo interesse da sociedade, porque a diversidade e a participação ativa das mulheres trazem ganhos", assegura Ana Mendes Godinho.

E sendo a conjuntura atual complexa, até tendo em conta as medidas da nova Administração Trump, o que torna o tema da diversidade ainda mais preocupante, Sofia Marta diz que é preciso continuar a apostar na mudança. Afinal, "queremos meritocracia e os melhores recursos para ocupar as posições. As quotas só vêm reforçar este caminho. As mulheres têm mérito".

RECONHECER E PREMIAR INICIATIVAS  

O Relatório Anual STEM Women em Portugal, revelados neste encontro por Mar Porras, mostra que existiam pelo menos 30 programas em curso para reforçar o envolvimento das mulheres na tecnologia. Destes, apenas um era de inspiração, para a pré-primária e a educação básica. Dos restantes, 15 situavam-se na área das carreiras e 14 na área de inspiração e carreiras. Todas as iniciativas tiveram impacto pelo menos no distrito de Lisboa, sendo que 47% foram desenvolvidos exclusivamente na capital. Segue-se o Porto, que também foi influenciado por mais de 75% dos programas.  

Os dados mostram ainda que em 2023 pelo menos 15 programas impactaram no país 17,25 mil crianças entre 1 e 14 anos. O que ainda é muito pouco, tendo em conta que representam apenas 1,26% do total de crianças do país. Nas fontes de financiamento dos programas identificados no relatório, 27% eram privadas, 20% púbicas e 53% mistas.  
Relativamente aos programas de carreira, pelo menos 25 iniciativas impactaram quase 38 mil jovens estudantes em 2023, que representam 22,7% das jovens estudantes nas áreas STEM. E 24 outras iniciativas impactaram mais de 53,5 mil mulheres profissionais, que representavam 28% do total de mulheres nestas áreas.

A diferença salarial entre homens e mulheres em Portugal situava-se nos 13,1%, acima da média europeia de 12,7%, referiu ainda, citando dados da Michael Page. Sendo que as medidas recomendadas para reduzir esta diferença incluem programas de desenvolvimento de carreira, acordos de trabalho flexíveis e processos de seleção justos. A disparidade acentua-se com a idade e a maternidade, colocando as mulheres em desvantagem em relação aos homens.

Para contribuir para mapear, reconhecer e premiar as iniciativas de reforço da presença feminina nas STEM, a APDC anunciou neste encontro o lançamento do da iniciativa ‘Women Shaping Tech'. Como destacou Sandra Fazenda Almeida, diretora executiva da APDC, "mais do que criar mais um programa, o objetivo é unir esforços ao que já está a ser feito no terreno. Este prémio procura capitalizar todo o trabalho já feito por inúmeros promotores de iniciativas".

Assim, será realizado um mapeamento detalhado das iniciativas STEM, em colaboração com o STEM Women Congress, abrangendo escolas, universidades, empresas e organizações. O trabalho passa ainda pela identificação de tendências, a partir da análise de dados para identificar as principais áreas e as lacunas existentes, criando-se um banco de dados dinâmico. Este traduzir-se-á numa plataforma online que ligará as iniciativas, para promover a colaboração e facilitar o acesso a recursos.  

Seguidamente, está prevista uma fase de análise das iniciativas, com a avaliação da sua qualidade, impacto e relevância. Assim como uma comparação dos dados com as estatísticas oficiais. A última fase passará por premiar projetos com impacto significativo na atração e retenção de mulheres para as áreas STEM. Segundo Sandra Fazenda Almeida, será criado um fundo de apoio para instituir um prémio regional para reconhecer as melhores iniciativas STEM nas várias regiões. Este fundo contará com o apoio das empresas do ecossistema APDC, destinando-se o financiamento a ampliar o alcance e o impacto das iniciativas vencedoras.

ALGUNS EXEMPLOS INSPIRADORES

No último painel deste encontro foram apresentadas iniciativas STEM inspiradoras e refletiu-se sobre os caminhos a seguir. O debate confirmou o muito que há ainda por fazer em termos de igualdade nas STEM e a importância das políticas públicas na promoção de um maior envolvimento das mulheres nestas áreas. Iniciativas com mérito são muitas no mercado. O problema é amplificar a sua mensagem e coordenar todas, para que o resultado seja mais abrangente.

Luísa Ribeiro Lopes, presidente da .PT, não tem dúvidas de que "temos de fazer o processo de ter mais, mas também melhores, carreiras das mulheres nestas áreas. Não temos feito um grande caminho. Olhando para as TIC, as mulheres têm feito um progresso lento: temos 20% de mulheres na área do digital e 19% a estudar nestas áreas nas universidades. O que não augura grandes progressos nos próximos anos. Todas as iniciativas são muito importantes. E que se multipliquem, porque se trouxerem mais uma mulher já está a fazer qualquer coisa". Mais: "colocar a perspetiva do género como uma exigência das políticas públicas é essencial"

As iniciativas STEM são fundamentais e todos temos de ter esta consciência. Olhar de forma integrada para as iniciativas STEM é também da maior relevância. Carlota Figueiredo, diretora de Marketing & Comunicações da DXC Technology Portugal diz que só assim é possível obter a contribuição de todos. E cita o exemplo do DCX Code Challenge, uma iniciativa lançada pela empresa para crianças dos 7 aos 15 anos para as aproximar das TIC e promover a sua capacidade e imaginação. Na edição deste ano, juntou-se ainda outro propósito, no âmbito dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, do desperdício alimentar.

Também na área da energia foi criada uma iniciativa, denominada ‘Mulheres na Energia', para garantir "que podemos ter um setor para todos e com todos. É um movimento que precisa de ser feito e toda a sociedade precisa de contribuir", como explica a sua secretária executiva, Ana Luís de Sousa. Surgindo da necessidade de reforçar a presença de mulheres no setor, a iniciativa já abrange 400, das seis mil que se estima trabalharem nesta área.

No Instituto Superior Técnico, também foi criada uma iniciativa para reforçar o número de mulheres. Denominada "Mulheres na Engenharia", é liderada por Francisca Ferreira, que refere que "já há muitas mulheres no IST, mas não as suficientes. Quando entrei, eramos um terço do total". Por isso, está empenhada em passar à comunidade estudantil e às meninas que ainda não estão na faculdade que podem fazer um percurso de sucesso nas engenharias. Mostrando exemplos concretos de que é possível e que há lugar para todas.

Luísa Ribeiro Lopes defende ainda que se "a história tem muitas mulheres em muitas áreas, o problema é que elas são invisíveis. Não podemos deixar que isso aconteça. No momento que vivemos, com esta possibilidade de vermos revertidos muitos dos nossos direitos, vamos ter de acreditar e resistir". E, sendo as perceções "assustadoras", há sempre que basear tudo em factos, com dados. Neste âmbito, destaca o lançamento do oficial do Women4Digital, um projeto de investigação financiado pela FCT e pelo PLANAPP, a desenvolver pelo CES | Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. Tem com objetivo principal mapear as iniciativas de política pública implementadas desde 2017 para promover a participação das mulheres nas TIC e combater a segregação de género no digital.

 

 

AGENDA

09:00 BREAKFAST
 
09:30 OPENING SESSION
· Rogério Carapuça - President at APDC
· Mar Porras - Global President STEM Women Association
 
09h50 STEM WOMEN CONGRESS: THE IMPACT OF 5 YEARS IN SPAIN AND LESSONS FOR PORTUGAL
· Mar Porras - Global President STEM Women Association
 
10h10 WOMEN SHAPING TECH
· Sandra Fazenda Almeida - Executive Director at APDC
 
10:20 FEMALE LEADERSHIP IN STEM
· Ana Mendes Godinho - Member of the Portuguese Parliament, former Minister of Labour, Solidarity and Social Security
· Elvira Fortunato - Professor and Scientist, former Minister of Science, Technology, and Higher Education
· Madalena Albuquerque - Chief Human Resources Officer, MEO
· Sofia Marta - Country Manager of Google Cloud Portugal
 
11:00 INSPIRING STEM INITIATIVES AND THE PATH FORWARD
· Carlota Figueiredo - Marketing & Communications Director at DXC Technology Portugal
· Luísa Ribeiro Lopes - Chair of the Board of Directors, .PT
· Francisca Ferreira - President of Women in Engineering at IST
· Ana Luís de Sousa - Executive Secretary at Mulheres na Energia
 
11:40 CLOSING REMARKS
 
Moderator: Cindy Barardo - APDC

 


Programa


Vai acontecer na APDC

2025-02-18

12ª Sessão do Digital Union | APDC & VdA

2025-02-19

3º webinar do ciclo Metopia | APDC & XRSI