A disrupção tecnológica está a mudar tudo e a criar muitas oportunidades. Em Portugal, há exemplos que comprovam que é possível e que o país dispõe de vantagens competitivas - como os centros de inovação, o ecossistema tecnológico e empreendedor ou o talento - para se diferenciar. Mas os desafios que urge ultrapassar, a começar pela elevada burocracia ou pelo excesso de regulação, subsistem e são muito difíceis de endereçar. Trabalhar em cooperação e ecossistema poderá ser o caminho.
Na conferência ‘Portugal Disruptivo', organizada pela Portugal Agora em parceria com a APDC, debateram-se os problemas nacionais e traçaram-se perspetivas, tendo em conta que os próximos 10 anos serão muito mais disruptivos do que os últimos 50 anos, graças à aceleração tecnológica sem precedentes. O debate foi moderado por Carlos Sezões (Portugal Agora).
A saúde é uma das áreas que está a ser fortemente impactada pela tecnologia. Para José Leal, da Ophiomics, empresa da área da medicina de precisão, a IA generativa veio trazer novas oportunidades no desenvolvimento de soluções. Mas tanto a Europa como Portugal não estão a tirar partido delas, ao contrário de outras regiões. De tal forma que a empresa, para testar soluções, tem de ir por exemplo para países como a Arábia Saudita.
"Quando falamos em IA genómica, temos a ideia de há que se apostar em grandes tecnologias. Mas, na realidade são coisas simples de ser feitas. O problema é que não o são", refere, destacando que a situação tem "uma resposta longa, que tem aspetos negativos e positivos". Como a hiper-regulação do setor, por se tratar de saúde, e que impede que se desenvolvam soluções e produtos inovadores.
ILHAS DE INOVAÇÃO MOSTRAM QUE É POSSÍVEL
Com provas dadas globalmente, a Defined.ai é líder no fornecimento de dados éticos e de alta qualidade para treino de modelos de IA. Sebastião Villax diz que o projeto do unicórnio nacional começou ainda antes da IA, mas que encontrou aqui o seu negócio, porque "todas as empresas de IA precisam de dados para treinar, de bons modelos e algoritmos robustos e capazes de dar bons resultados". A IA generativa representa um enorme passo em frente e a partir daqui as "grandes tendências que se desenham são a robótica e os agentes de IA".
Destaca também a importância da ética, porque o treino dos modelos de IA tem de ser feito com dados autorizados, com uma utilização responsável do modelo. Acresce a necessidade de regulação, que é o que diferencia a Europa dos Estados Unidos, onde se criaram apenas guidelines. Para Sebastião Villax, esta diferença cria uma oportunidade para a Europa de ter uma política bem definida ao nível do negócio e a possibilidade de liderar o debate do tema em termos mundiais.
Também a startup portuguesa Sensei comprova que é possível inovar no mercado nacional com a IA. A empresa desenvolve lojas autónomas através do uso da tecnologia e de uma visão computacional, no que Vasco Portugal considera ser uma grande mudança ao nível tecnológico no setor do retalho, centrada no core do seu negócio. Com uma espécie de ‘ubiquidade tecnológica', que permite dar capacidade a um computador de perceber tudo o que se está a passar dentro da loja e "resolve as coisas por nós. A indústria de retalho tem aqui uma grande oportunidade", garante, num "paradigma diferente, que se traduz num grau de eficiência incomparável e numa experiência melhor para os clientes".
FUTURO IMPREVISÍVEL MAS CHEIO DE OPORTUNIDADES
Sobre o futuro com a tecnologia, diz que "nunca como hoje tive tanta dificuldade em prever o que vai acontecer na próxima década nem o que acontecerá às profissões atuais. Milhentas indústrias estão já a ser disrrompidas e é muito importante tentar perceber o que é que poderá acontecer. Nunca vivemos isto até hoje na história do mundo. Vamos ver...".
Rodrigo Assaf, da TeamViewer, trabalha na área das realidades imersivas e não tem dúvidas de que "com a IA, estamos a caminhar para um novo momento na realidade estendida e na realidade mista". O maior desafio está no desenvolvimento de novos dispositivos, que têm que ser cada vez mais user-friendly.
E Jose Reis Santos, da Quo Vadis Web3, que opera no negócio das criptomoedas e do blockchain, defende a necessidade de "decisões institucionais e políticas", quebrando-se os silos, ao mesmo tempo que tem se de apostar na capacitação.
Todos concordam que Portugal pode ter neste âmbito uma oportunidade extraordinária de se posicionar e de captar mais investimento estrangeiro. Há centros de I&D de ponta, talento qualificado, tecnologia de ponta e pioneirismo e inovação. O que falta? Criar estratégias atrativas, criar sand boxes para testar soluções e, sobretudo, apostar na redução da burocracia. Com uma espécie de "reforma estrutural dentro do poder de decisão".
Mas, como salientou o presidente da APDC no final deste evento, "estamos de facto perante um problema cultural muito profundo, que não é fácil resolver. É um sistema pesado, com enorme inércia", tendo em conta que a Administração Pública nacional é uma máquina pesada, "que não se mexe e gosta de proibir". Acresce que "os portugueses em geral têm medo da inovação".
Por isso, Rogério Carapuça diz que trabalhar em ecossistema, assim como mostrar exemplos do que um Portugal disruptivo já está a fazer, é essencial. Tornam claro que "é possível disrromper e fazer coisas muito diferentes. Temos hoje ecossistemas muito diferentes e instituições de referência. Já demos volta a muita coisa".
No final, como deixou claro Miguel Leocádio, do Portugal Agora, há que "colocar pressão sobre os decisores, para poder levar uma visão e criar uma agenda para um posicionamento nestas indústrias". Afinal, as tecnologias disruptivas vão ter de estar, cada vez mais, no centro de todas as indústrias.
️ AGENDA
Local: APDC - Av. João XXI, 78, Lisboa
17:00 - Welcome Coffee
17:15 - Abertura, com Sandra Fazenda de Almeida
17:30 - Painel de Debate com:
Elvira Fortunato (NOVA FCT)
Vasco Portugal (Sensei)
Jose Pereira-Leal (Ophiomics)
Sebastião Villax (Defined.ai)
Jose Reis Santos (Quo Vadis Web3)
Rodrigo Assaf (TeamViewer)
Moderação: Carlos Sezões (Portugal Agora)
19:00 - Encerramento: por Rogério Carapuça (APDC) e Miguel Leocádio (Portugal Agora)
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