Multiplicam-se as soluções tecnológicas para combater a pandemia. Mas, para garantir um regresso a uma ‘nova normalidade', têm de respeitar vários pontos fundamentais: serem totalmente voluntárias, garantirem a privacidade do utilizador e a proteção dos seus dados e serem completamente anónimas, seguras e open source. Na mais recente conversa digital no âmbito do Ciclo "COVID-19 Digital Reply", onde foram apresentadas as apps de monitorização ‘CovidApp.pt' e ‘Covidografia' e as apps de rastreio ‘CoidApp.org' e ‘CoronaManager', as opiniões foram unânimes. Mais: implicam um trabalho coordenado e em ecossistema.
A CovidApp.pt surgiu no início de março, com a preocupação de um grupo de médicos do Porto que estavam com dificuldades em responder à pandemia. A app pretendeu responder à necessidade dos profissionais de saúde de controlar os doentes infetados de forma remota, assim como trazer a quem está em isolamento uma maior segurança, assim como de os educar com boas práticas, explica Francisco Sales, Co-Founder e Tech Lead da Mosano, empresa responsável pela criação da solução.
A aplicação, que conta com a colaboração da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, controla os sintomas do coronavírus, através de uma solução inteligente com algoritmos que têm como base as guidelines da OMS. Permite uma otimização dos recursos de saúde, evitando os atendimentos desnecessários. Foi aliás, uma das 19 soluções selecionadas no âmbito da iniciativa Gulbenkian Soluções Digitais - Covid 19.
O gestor destaca que já teve 37 mil pessoas em simultâneo em observação, apoiando os médicos a perceber a situação, a poderem ter uma perspetiva de evolução e a possibilidade de contactar os pacientes. Para o futuro, destaca todo o potencial desta ferramenta para fornecer, nomeadamente, dados às autarquias para calcular os riscos para as pessoas, as redes de contaminação, ou fazer estudos, entre outros. Poderá ainda estender-se à monitorização à distância de doenças crónicas. Mas, para já, está disponível para qualquer cidadão e estará nas lojas da Google e Apple nos próximos dias.
Outra solução similar, criada exatamente com os mesmos objetivos de monitorizar sintomas, é a ‘Codivografia'. Pedro Fortuna, Co-Founder e CTO da Jscrambler, diz que o projeto nasceu exatamente no mesmo dia em que foi criado o ecossistema tech4COVID19 e está inserido nesta iniciativa de âmbito mais alargado. O objetivo é "tirar uma fotografia ao estado sintomático dos pacientes em confinamento", para analisar a evolução dos sintomas, melhorar a compreensão da doença e a sua evolução.
Trata-se, tal como a CovidApp.pt de uma aplicação que recorre ao Symptom Tracing, permitindo atualizações diárias sobe o estado de confinamento e sintomas, dar visibilidade ao utilizador sobre a situação na sua zona e permitir às autoridades antecipar zonas de maior contágio e gerir recursos, entre outros. Todo o projeto foi desenhado em código livre e de forma aberta a pública, com preocupações de ética e a app ficou preparada para suportar pelo menos toda a população nacional. Tem atualmente cerca de 66 mil utilizadores.
Pedro Fortuna anunciou ainda o arranque do 1App4P , uma plataforma através da qual o rupo de trabalho do movimento tech4COVID19 quer ajudar a clarificar as questões que possam surgir em relação às soluções tecnológicas de rastreamento. O objetivo é uma discussão conjunta entre organismos do governo, sociedade civil e empresas, para potenciar os benéficos da tecnologia.
Em destaque neste evento estiveram também duas apps de digita contact tracing, a ‘CovidApp.org', que acaba de alterar o seu nome, e a ‘Coronamanager'. Como explica Carlos Lei Santos, Co-Founder e CEO da HypeLabs, empresa portuense especializada em mobilidade, a ideia de avançar com a CovidApp surgiu de clientes da América do Sul, onde têm já a app, que é anónima e privada, implementada em alguns países. A ferramenta contou também com o apoio de muitos voluntários do tech4COVID19.
Contudo, à medida que os vários países vão chegando a uma resposta para o rastreamento da pandemia, com o lançamento de apps nacionais, e depois da empresa ter ajudado vários países, o gestor considera que a missão "está completa". Hoje, a ‘CovidApp.org' é uma aplicação que está a ser procurada sobretudo por empresas e organizações, que com o processo de desconfinamento, querem uma solução que garanta a segurança dos seus funcionários e o controlo do coronavírus. E a empresa tem já vários clientes nos mercados externos.
A ‘CoronaManager', criada pela gigante PwC, tem os mesmos objetivos. A aplicação foi lançada inicialmente na Alemanha, seguida do Reino Unido e foi agora disponibilizada em Portugal, para ser comercializada. Tem também como meta responder às necessidades de empresas e organizações de terem uma aplicação que ajude no regresso à normalidade, refere Miguel Fernandes, Consulting Manager da PwC. Através dela, pode-se não só controlar as redes de contágio, mas também melhorar a alocação de espaços e monitorizar sintomas.
O responsável da PwC destaca que esta solução permite uma experiência clara e intuitiva e acrescenta valor, já que além de permitir a rastreabilidade, tem um leque alargado de funcionalidades, como a possibilidade de contactar entidades do sistema de saúde, envio de alertas e a sua receção, nos casos em que o utilizador está a entrar em zonas com mais infeções, informações georreferenciadas sobre hospitais, farmácias ou supermercados.
Certo também para este gestor é que "é fundamental quando se fala neste tipo de apps, ter em consideração que tudo isto é novo". Mais: "obriga a que haja uma coordenação muito grande em tudo o que está a ser disponibilizado para cidadãos e empresas. Todas são importantes, mas têm de ter informação credível e ajudar a regressar ao novo normal".
Questionado sobre as taxas de utilização, em termos de percentagem de habitantes, para se obterem resultados de uma aplicação de digital contact tracing, Carlos Lei Santos refere que, independentemente da taxa de adesão, as soluções terão sempre impacto positivo nas redes de contágio, o que tem valor e vem ajudar. E estas aplicações são, claramente uma alternativa muito mais eficaz que o contact trading via telefone, como tem vindo a ser feito pelas autoridades de saúde. Além disso, fazem o seu trabalho de forma muito mais anonimizada.
Miguel Fernandes acrescenta que haverá sempre um conjunto de aplicações mais usadas, preferenciais, mais do que uma app por país, como se está agora a fazer e a implementar em algumas regiões. Vamos concluir para um modelo de existência de algumas soluções, onde o fundamental é garantir que a interoperabilidade entre elas. Para isso, tem de haver coordenação e alinhamento de esforços. O ecossistema em conjunto é que tem de atingir uma determinada percentagem de adesão", salienta.