A pandemia do COVID-19 acentuou ainda mais espírito empreendedor e inovador em Portugal. Desde março, estão a multiplicar-se as redes de colaboração, entreajuda e solidariedade, que estão a dar origem a iniciativas assentes na tecnologia, para tentar mitigar os impactos do coronavírus nas mais variadas áreas, com destaque para a saúde. "+Próximo", "PSICOVIDA" e "Todos por Um" são exemplos de projetos que já estão a ser implementados, juntando múltiplas competências com um único objetivo: contribuir para ajudar quem precisa. Estiveram em análise no 1º encontro do ciclo de conversas digitais "COVID-19 Digital Reply".
A app "+Próximo" reúne os critérios necessários ao pré-despiste e acompanhamento da evolução da COVID-19 nos utentes de lares e residências, com base nas indicações clínicas fornecidas pelo Serviço de Especialidades Médicas e Direção Clínica do Hospital do Espírito Santo de Évora, facilitando o trabalho de profissionais e cuidadores.
Surgiu da iniciativa de Nuno Miguel Guerra, CEO da CREATE, com o objetivo de contribuir para ajudar a região de Évora e teve de imediato o apoio das entidades locais. Passou de seguida a integrar o ecossistema Outsystems, tendo agora como meta chegar aos lares e residências em todo o país. O gestor destaca a "enorme disponibilidade para avançar com o projeto por parte das instituições de saúde e da segurança social".
Do ponto de vista dos lares, a solução é vista como muito importante para facilitar o trabalho dos profissionais das residências de idosos e de pessoas com deficiência, como refere Manuel Galante, Presidente do Secretariado Regional de Évora da União das Misericórdias. "Temos que nos envolver em tudo o que sejam ferramentas para facilitar o controlo da saúde e garantir o bem-estar dos utentes", adianta, explicando que foram doados à instituição vários tablets para instalar a app e implementar o projeto.
Também Luís Cavaco, administrador do Hospital de Évora, destaca que a aplicação veio resolver um problema que é grande a nível nacional: o dos lares, onde ter um ambiente que garante previsibilidade é essencial. E o projeto faz sentido não apenas no âmbito da pandemia como posteriormente, já que permite monitorizar os utentes dos lares, dando ao hospital ferramentas para acompanhar os utentes como problemas respiratórios em tempo real.
No caso da "PSICOVIDA", esta aplicação proporciona o apoio psicológico necessário neste cenário de pandemia e isolamento, através de profissionais ou estudantes universitários na área de psicologia. Técio Gonçalves, da Outsystems, em conjunto com um colega de faculdade da Universidade do Minho, tiveram a ideia de criar algo para ajudar as pessoas, através de ferramentas digitais. Avançaram com uma parceria com a Associação de Psicologia - Universidade do Minho (APSI) para passar esta ideia dar aconselhamento psicológico de fácil acesso, grátis e rápido a um projeto concreto.
O que aconteceu rapidamente. O site da iniciativa acaba de ser colocado online, com a criação de uma bolsa de psicólogos voluntários que se estão a juntar ao projeto. Numa segunda fase, que arrancou agora, será criada uma app para permitir videochamadas com os profissionais de saúde, que terão formação específica para saber como lidar com as várias situações.
Adriana Sampaio, presidente da APSI e Professora Auxiliar da Escola de Psicologia, da Universidade do Minho, refere que a adesão imediata ao projeto resultou de um primeiro projeto daquela associação, com uma linha de atendimento para apoio ao COVID-19 para ajudar estudantes da universidade. Destaca que o site e a app têm ainda material de autoajuda de fácil acesso, alargando-se assim cada vez mais o apoio à saúde mental.
Também a "Todos por Um" é uma app que resultou de uma ideia de um quadro da Outsystems e de uma médica. Permite a monitorização dos sintomas e o diagnóstico do agregado familiar e a comunicação direta com médicos e enfermeiros, através de um chat. A preocupação foi ajudar as pessoas, quando ainda não se sabia se o SNS teria ou não capacidade de aguentar o impacto da pandemia e a linha Saúde24 já estava a dar problemas.
Para Bruno Pereira, Engagement Manager da Outsystems, tratou-se de "unir, à distância, as pessoas aos profissionais de saúde, através da tecnologia. E o mais rápido possível". Numa semana, a aplicação ficou feita e já está a funcionar, com o apoio do grupo Lusíadas Saúde.
Sofia Couto da Rocha, Unit Manager das Clínicas Lusíadas Almada e Parque das Nações, diz que foi um "match muito natural" para conseguir concretizar um projeto que ajuda as pessoas que não sabem lidar com a pandemia. O passo seguinte foi criar um chat, com recurso a inteligência artificial, que vai aprendendo a dar informações às pessoas que as solicitam. E há muita vontade de ajudar. Afinal, a app já conta com quase quatro mil profissionais, todos da Lusíadas Saúde, de todas as faixas etárias. Tecnologia, parcerias e vontade foram os ingredientes fundamentais.