Numa altura em que Portugal está num momento especialmente difícil, é importante que "com a responsabilidade que se pede a todos nos momentos difíceis, lutemos para que, a par do esforço de ajustamento orçamental, o país se empenhe na definição de uma agenda para o crescimento que permita dar um sentido aos sacrifícios". E o sector das TIC e New Media, como um todo, está particularmente empenhado neste processo, como garantiu o presidente da APDC no jantar-debate com o CEO da Portugal Telecom, o terceiro do Ciclo de Jantares- Debate 2012.
Para Pedro Norton, "dado o seu papel ubíquo em todos os domínios da Economia e da Sociedade", esta indústria poderá "assumir um papel fundamental como plataforma aceleradora desta mudança estrutural. Porque tem infraestruturas de topo, inovação e dinâmica. E porque só com a sua utilização é que será possível reduzir custos, otimizar processos, reforçar a produtividade, estimular inovação e o desenvolvimento de novos produtos e serviços, facilitar a exportação e internacionalização, criar vantagens competitivas. Neste âmbito, a PT é "um bom exemplo do melhor que o sector disponibiliza".
Vivendo num sector cada vez mais global, em que a competição é feita entre grupos muito grandes, Zeinal Bava não tem dúvidas de que "a tarefa é difícil" e que o grupo que lidera tem apostado nos últimos anos numa verdadeira transformação a todos os níveis: em capacidade, em diversificação de atividades e em internacionalização. Para estar "à altura dos desafios" que hoje se colocam ao sector e que passam por quatro tendências: digitalização, mobilidade, virtualização e investimento em infraestruturas modernas e "à prova de futuro". Estas são tendências que se reforçam cada vez mais, numa sociedade conectada e verdadeiramente digital, onde a mobilidade se assume como crítica para o desenvolvimento dos serviços e para responder às alterações do futuro. E onde a cloud é cada vez mais irreversível e inevitável, para responder ao enquadramento económico e para reduzir custos.
Para o CEO da PT, "este é o caminho que vamos ter de percorrer", garantindo que "o processo de transição para um mundo mais virtual não vai ser um jogo de preços mas sim de competências". Numa altura em que o sector sente uma pressão enorme sobre as receitas, nomeadamente no móvel, o que está a criar dificuldades nas empresas para manterem "a competitividade e a capacidade de continuar a investir na inovação e no desenvolvimento". Por isso, terão se se imaginar "novas formas de criar receitas no negócio móvel. De aumentar o share of wallet". E a cloud apresenta um potencial de receitas enorme, que "vai permitir que os grupos integrados de telecomunicações aspirem a representar não 3 ou 4% do PIB mas 8 a 9% do PIB. Há espaço para crescer. Mas é preciso reinventar o modelo de negócio. Qualquer empresa do sector que não se reinvente a cada três anos provavelmente vai ter a sua sustentabilidade questionada", adianta.
Uma das áreas mis críticas dessa reinvenção é a das infraestruturas, onde há que "juntar excelência com inteligência" para fornecer um serviço diferenciado. Por isso mesmo, o investimento na rede é "um ativo estratégico" e não uma commodity, tendo as empresas que apostar na cobertura e na velocidade. " Não podemos ter um discurso na cloud e depois não investir na rede de acesso em fibra. Por isso, não temos dúvidas de que a PT e as empresas de telecomunicações que tiveram visão investiram a tempo", há dois ou três anos atrás, arriscando e interpretando as tendências de futuro. "Por isso, é muito fácil agora virem reclamar partilha de infraestruturas. Muitas das incógnitas que existiam quando fizemos estes investimentos já não são incógnitas são certezas. Agora, partilhar it´s a bit too late", deixa bem claro o líder da PT.
DESENVOLVER CLUSTERS
E depois de fazer uma referência breve à atividade internacional, que já representa hoje quase 60% das receitas do grupo e que lhe deu escala para ser competitivo, garantindo a performance operacional e financeira da PT com menos riscos do que as empresas só concentradas no mercado português, Zeinal Bava referiu-se às mudanças operadas nos últimos anos na PT, de acordo com as quadro tendências referidas.
Na rede fixa, desafiado o grupo em 2007 para "inverter a tendência" e com a certeza de que teria de passar pela televisão, a verdadeira killer app, avançou-se com o Meo." Esta transformação foi fundamental e o Meo foi o nosso grito de insatisfação. A manifestação da irreverência da PT que não aceitou o destino que lhe estava reservado", de queda massiva das linhas fixas, fruto de" uma forte canibalização do móvel e do facto do regulador nunca ter pensado nos efeitos nefastos que o sucesso do móvel poderia ter na sustentação do fixo". Por isso, transformou a "experiência de tv" transportando o ecrã para todos os dispositivos, em qualquer plataforma. "Estamos a criar o efeito rede também na televisão. Isto é trabalho de inovação."
Já a área móvel é considerada pelo gestor como "o grande desafio da indústria". Porque a "concorrência irracional fez baixar significativamente os preços e disponibilizou uma série de tarifários com minutos ilimitados". Porque o investimento no 3G não surgiu o resultado esperado: "não foi propriamente uma tecnologia que representasse um salto qualitativo, porque chegou atrasada face ao desenvolvimento dos devices". Ou seja, " o 3G não é bom para fazer voz, é muito caro. E não é bom para fazer dados." Nesta área, o sector "educou mal o consumidor", que "assume a mobilidade como algo adquirido. A culpa é essencialmente dos operadores, que delapidaram completamente a perceção de prémio no móvel", assegura. Resultado: a indústria tem que in vestir para suportar o aumento de tráfego mas não gera receitas. Por isso, "vamos ter de alterar o paradigma neste segmento de mercado. E o caminho passa por oferecer pacotes ilimitados", mas como "alguma responsabilidade".
E não tem dúvidas de que "como indústria, estamos numa encruzilhada nesta matéria. Por isso, o caminho passa por começarmos a trabalhar nas aplicações. Não queremos concorrer com quem as faz mas entender a filosofia e o pensamento de quem as faz. Perceber como é que funciona este ecossistema e como poderemos ter um papel importante". E no B2C não há outro caminho que não seja "claramente o de convergência", o que não é o mesmo que "desconto de bundle. Não iremos cometer movimentos irracionais nesta matéria, até porque os preços que já se praticam no mercado, que fixo quer móvel, são extremamente competitivos".
Na virtualização, o grupo tem feito uma enorme aposta, segmentada por áreas de negócio. Numa "diversificação do escopo de serviços que oferece e que vai assegurar a sustentabilidade em termos futuros". E neste âmbito, desempenha um papel fundamental datacenter da Covilhã, que será o 6º maior do mundo, da ordem dos 300 milhões de euros. Um investimento que está a ser feito também na I&D, onde Zeinal Bava garante que a PT "é a empresa que mais tem investido no sector. Isto é um esforço muito grande e que temos de continuar a fazer porque acreditamos que o nosso país tem na tecnologia um dos seus clusters a desenvolver para se transformar em termos futuros". Segundo este responsável, "não podemos deixar que a nossa dimensão nos impeça de pensar em grande". O "nosso datacenter na Covilhã pode ser o próximo Autoeuropa".
Considerando que "o potencial da inovação tem maior capacidade de prosperar em países como o nosso e que Portugal pode ser um país Beta na adoção de tecnologias", o CEO adianta que a PT foi "a empresa que mais investiu nos últimos 5 anos. Quando falo da grande vantagem tecnológica e da reinvenção do negócio, é nisto que falo. Investimos maciçamente na nossa rede. Hoje temos 1,6 milhões de casas com fibra e não temos mais porque a regulação não o permite sem que tenhamos sem partilhar a rede. E como não temos intenção de partilhar não construímos mais. No LTE, já temos 90% de cobertura da população portuguesa. Investimos na rede de transporte com 100 Gbps". Por todas estas opções "transformámos o modelo de negócio da PT. Hoje, 51% das receitas são dados. Ou seja, a previsibilidade das receitas aumentou significativamente".
Sobre o serviço universal de comunicações, onde recentemente a PT chegou a acordo de princípio para a cessão do contrato de concessão que tinha para a prestação do serviço, o gestor apenas adianta que "este assunto tinha de ser resolvido para Portugal não ter de pagar multas. E não deve ser a razão para nos penalizarem". Quando ao concurso e ao modelo que será adotado, refere que ainda nada foi pensado mas que o grupo vai analisar o processo.