A primeira fase do Plano Tecnológico para a Educação (PTE) está a terminar. Este programa de modernização tecnológica das escolas do ensino público, lançado em 2007, tinha como objectivos dotar as escolas de modernas infra-estruturas tecnológicas, promover a produção de conteúdos e certificar os professores em tecnologias de informação. As metas foram alcançadas, de acordo com o Secretário de Estado da Educação. Para João Trocado da Mata, está agora a passar-se, no âmbito da recentemente anunciada Agenda Digital 2015, para uma nova fase, em que se irá tirar partido do investimento já realizado, com a disponibilização de mais conteúdos e serviços.
"Queremos uma escola mais próxima, mais participada e mais inclusiva", afirmou o governante na sessão de abertura do workshop "Inovar na Educação: O Aluno e a Família no Centro", iniciativa realizada no âmbito do Ciclo APDC: para uma Administração Pública do Século XXI. Por isso, será lançado já no próximo ano o projecto Matrícula em Linha, assim como o Portal do encarregado de Educação e o projecto do Tutor Virtual para a matemática. Sendo as tecnologias um poderoso meio para modernizar o ensino e a aprendizagem, este é um meio para trabalhar em rede e garantir igualdade de oportunidades no acesso ao ensino. Segundo João trocado da mata "o que queremos é uma escola melhor e uma escola para todos".
Já Roberto Carneiro, Professor da Universidade Católica Portuguesa e comissário deste workshop, destacou a importância da tecnologia e o que se espera da escola do século XXI, numa sociedade em profunda mudança. Terá de ser uma escola inclusiva e com novas respostas, uma escola que promova a diversidade e a inovação. Porque há uma grande mudança do contexto, com uma sociedade em alteração profunda e onde a formação intergeracional terá de se fazer pela tecnologia.
"Precisamos de uma escola que capacite o novo cidadão para os desafios que estão a surgir", garantindo que para isso há que seguir os melhores exemplos que estão a ser adoptados em mercados como a Finlândia, onde as escolas têm autonomia na definição das suas próprias orientações. Com um sistema baseado na confiança. "Está nas nossas mãos fazê-lo. A educação não acontece por decreto. Só acontece porque o país o quer fazer de uma certa forma. Este tem de ser um processo gradual. Porque as escolas podem inovar. E são os motores da transformação em Portugal", destacou.
Também Diogo Vasconcelos defende a importância da tecnologia. Não como um fim mas como um instrumento para mudar o paradigma na educação. "O modelo actual da educação em Portugal é o quadro de fundo. Mas as questões estratégicas vão muito além da tecnologia. Será o modelo actual adequado para dar resposta aos desafios que temos pela frente? Ou será que deve evoluir para um novo modelo, onde s dá mais poder às escolas, mais descentralização e empowerment?" questionou o presidente da APDC.
É exactamente para incubar novas ideias, de promover a cooperação e a parceria entre sectores públicos e privado, entre Governo, empresas e cidadãos, que a APDC apostou no Ciclo da Administração Pública. Para ter novas ideias, perspectivas, soluções e formas de enfrentar os desafios que temos pela frente. É que depois do investimento em infra-estruturas e equipamentos na educação, que está feito, é preciso saber como se pode passar a inovação tecnológica à inovação social. Como se pode rentabilizar a tecnologia ao serviço da sociedade.
Foi exactamente sobre o tema da Tecnologia e Inovação na Educação que se debruçaram os três dois oradores seguintes. Fiona Iglesias, project manager do National Digital Resources Bank abordou as opções deste projecto britânico iniciado em 2007 para trazer os conteúdos digitais para a sala de aula. Um projecto que ainda procura um modelo de negócio sustentável. Já Michelle Selinger, da Cisco, destacou a necessidade de, num mundo em mudança, de definir uma nova pedagogia, com uma aprendizagem na sala de aula autêntica, relevante e prática. O papel da tecnologia nesta nova pedagogia é enorme, porque vem permitir maior criatividade, acesso a conteúdos, escolha, colaboração para além da sala de aula, ambiente comunitário, partilha, envolvimento dos pais e acesso a especialistas. "O que precisamos é de colocar a tecnologia na visão da educação. Com novas formas de aprendizagem e o envolvimento de todos. Precisamos que todas as skills do século XXI estejam disponíveis" , destacou.
E as soluções por parte das empresas portuguesas das TIC para a área da educação já estão disponíveis, como garantiu Helder Lopes, da IT e-xample ACE. Este agrupamento complementar reúne 40 empresas portuguesas que oferecem soluções TIC para a sala de aula. Para o seu responsável, a escola do século XXI tem de desenvolver competências prioritárias, sobretudo ao nível da inovação e da aprendizagem. E numa educação que já está em mudança, o que se perspectiva para o futuro em termos educativos será o desenvolvimento de competências criticas, a mudança de paradigma n ensino e um modelo de ensino orientado de um para um.
AUTONOMIA DAS ESCOLAS PRECISA-SE
Mas como está hoje, efectivamente, o ensino em Portugal? E de que forma utiliza as tecnologias? Os intervenientes na sessão sobre "From Braodcast to Colaborative Learning", depois da directora-geral do GEPE, Luísa Araújo, ter feito um ponto de situação e traçado perspectivas para o PTE, tentaram responder a estas e outras questões. Para Maria do Carmo Correia, do Grupo Leya, apesar dos responsáveis do Executivo traçarem um cenário "francamente positivo", a verdade é que "os editores não têm sido chamados a contribuir para as medidas que têm sido tomadas". Sendo a passagem para uma aprendizagem colaborativa "quase uma revolução", onde "o aluno está no centro da aprendizagem", isto não depende da instalação da tecnologia da sala de aula. "A aprendizagem colaborativa orientada para as competências dos alunos depende da política educativa. As TIC são uma excelente oportunidade para o trabalho colaborativo, mas a sua existência não significa que automaticamente se mude alguma coisa no nosso sistema de ensino". Aliás, "apesar dos números fantásticos de apetrechamento das escolas, a utilização das TIC na sala de aula não é feita de uma forma massificada".
Também muito critico esteve Rogério Carapuça. Para o presidente da Novabase, "não vamos mudar rapidamente. Mas seria útil que os políticos se entendessem sobre a educação, para que se consiga mudar a escola portuguesa nos próximos 20 anos. O que implica continuidade e não mudanças todos os anos". Para este responsável, a "escola do futuro não é a escola com tecnologia mas que ensina diferente. Há que atacar o problema do processo de ensino. Para se conseguir um ambiente de ensino colaborativo, há que dar um salto qualitativo muito grande. Significa mudar professores e métodos de trabalho. Temos de construir uma escola diferente, que ensine valores e comportamentos".
Este processo "não se faz por decreto", como referiu Rui Pacheco, da Porto Editora. Ao Estado cabe dar as orientações, mas às escolas deve ser dada a autonomia de poderem escolher os instrumentos mais adequados a cada tipo de população escolar. Para este responsável, há que "crias as condições para que os professores se desenvolvam. Proporcionando-lhes os meios e não impor-lhes as coisas". Num debate moderado por Nuno Santos, do Turismo de Portugal, ficou bem claro que o desafio são as pessoas. E que a resistência à mudança só acontece quando essa mudança é imposta e não é explicada. A questão os conteúdos é também essencial. Assim como a da autonomia das escolas, que hoje praticamente não existe no ensino público.
DEFINIR PROJECTO EDUCATIVO
E não restam dúvidas de que ao investir-se na educação se reforça o crescimento e o desenvolvimento. Para Nikitas Kastis, da Menon, o keynote speaker da sessão "Inovar em rede na Educação", estamos a expandir as fronteiras do conhecimento para além dos muros das escolas, o que é possível com a tecnologia. Sendo a escola uma organização cada vez mais aberta. João Alvarenga, da Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo, não tem dúvidas de que a tecnologia obrigou um repensar da escola. E no ensino privado e cooperativo, onde existe diversidade e se promove o espírito de comunidade educativa, as escolas estão a tentar responder à revolução da informação e da inovação. "Perante uma uniformização do ensino, o privado procura ser diferente. É na diferença que está a sua riqueza. Não há duas escolas iguais no ensino privado". E deixa uma mensagem: "é fundamental o Esado acreditar nas instituições e nas pessoas. É necessária uma maior autonomia para as escolas em termos pedagógicos, administrativos e financeiros. Mas uma verdadeira autonomia".
E José Verdasca, da Direcção Regional de Educação do Alentejo, admite que as escolas vivem hoje "uma profunda contradição naquilo que é o seu objectivo e mandato". Há a imposição da uniformização em paralelo com o desafio da criatividade. Este é um caminho que só se conseguirá fazer numa "lógica de autonomia dos projectos escolares. Com margem de manobra". Manuel Esperança, do Conselho das Escolas, defende que as escolas mudaram e acompanharam as alterações na sociedade. Até porque são os próprios alunos que exigem essa mudança, que a promovem. Mas subsistem muitas condicionantes que contribuem para a insatisfação e para a pouca vontade de inovar. "As escolas procuram inovar. Mas dento das suas possibilidades. A tutela tem que pensar seriamente no tipo de escola que pretende. Temos de mudar muitas coisas se queremos uma escola diferente".
Num debate moderado por Rodrigo Queiroz e Melo, da Universidade Católica Portuguesa, José Paulo Santos, da Promethean, salientou a necessidade de criar redes de colaboração e de partilha entre professores no uso da tecnologia. Para este responsável, há que criar redes de comunidade de prática. Porque os líderes estão a emergir no terreno. O que é preciso é incentivá-los. E medir o impacto do uso da tecnologia na evolução da aprendizagem. Porque "estamos a colocar às costas do professor a responsabilidade da mudança na educação"
E, como deixou bem claro no encerramento desta iniciativa Roberto Carneiro, "não existem soluções magicas e fáceis. É preciso trabalhar muito. Ter paciência, estratégia e visão. Temos de ter uma política de liderança e não de gestão. E uma escola ampliada, que tenha em conta todos os stakeholders". Nesta fase de verdadeira "encruzilhada, temos de saber para onde vamos. Qual a visão e para onde queremos ir."
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