Evento APDC

16.10



Miguel Almeida foi o orador convidado

Jantar-Debate com CEO da NOS

Não acha que o problema acionista com que se debate a rival PT afete a operação desta ou a sua posição no setor das telecomunicações em Portugal. E garante que o seu futuro é brilhante, porque tem "um conjunto de "ativos extraordinários". E considera mesmo que "tem havido uma enorme falta de respeito para com a PT. E não merece". É que "há uma grande confusão entre os acionistas e o que é a empresa. Os acionistas mudam todos os dias e os da PT evoluíram. É uma empresa cotada. Não creio que a evolução da estrutura acionista da PT em bom rigor afete o que a empresa é". Esta foi a posição de Miguel Almeida, CEO da NOS, orador convidado do Jantar-debate da APDC, que reuniu mais de 280 participantes. Num encontro em que o debate contou com a participação de dois jornalistas, António Costa e Luís Ferreira Lopes, o tema da instabilidade acionista da PT foi o primeiro a ser abordado.

Garantindo que no mercado nada mudou e que a PT é "um concorrente feroz, maior do que nós", Miguel Almeida adianta que a NOS está a tentar "reduzir a diferença que ainda existe hoje. E é muito significativa" face à sua rival. Até porque o grupo que resultou da fusão entre a Zon e a Optimus é "uma empresa de referência no setor e a nível nacional", apesar de ter apenas um ano de vida. Graças sobretudo ao seu conjunto de ativos, que lhe permite ter capacidade de concorrer com qualquer rival do mercado português e de oferecer aos clientes todo o leque de serviços que estes exigem. E mesmo em termos acionistas, são uma empresa de referência. "Não é preciso dar mais relevância do que isso tem. Tem alguma. De facto, as decisões de investimento, sobre a estratégia, a aposta no mercado português são decisões tomadas no Campo Grande, não são decisões tomadas do outro lado do oceano ou noutro qualquer país europeu. A prazo, penso que isso terá alguma relevância, mas também não vamos dramatizar. Hoje o mundo é global e há acionistas de todo o mundo".

Para o CEO da NOS, é fundamental que o seu acionista maioritário, a ZOPT, empresa controlada pela Sonaecom e por Isabel dos Santos, seja um "acionista industrial, no sentido em que aposta nesta empresa não numa lógica financeira mas de aposta no setor". O que permite ao grupo "uma estabilidade adicional face a outras estruturas acionistas que bem conhecemos", dando-lhe margem para falar sobre o futuro e garantindo apoia à sua estratégia. Uma estratégia que passa por um investimento de mil milhões de euros a cinco anos para reforçar a sua posição. Embora não "entre em loucuras de dizer que o objetivo é a liderança". É que no momento da fusão, a NOS tinha uma quota em receitas de cerca de 25% e a PT de 50%. "Pensar em sequer falar ou imaginar lideranças de mercado parecia utópico na altura e parece-nos hoje. Na nossa perspetiva, e as evidências demonstram, é uma concorrência feroz que vejo todos os dias no mercado", adianta, salientando no entanto que a NOS está a conseguir ganhar mercado.

Sobre os preços praticados pelos concorrentes nas ofertas de serviços, embora destaque que "as ofertas não são todas iguais", admite que na conjuntura atual os clientes não estão dispostos a pagar mais. E considera mesmo que "há uma situação de agressividade, não só promocional mas mesmo mais duradoura de preços que é exagerada". Recusando-se a chamar-lhe destruição de mercado, Miguel Almeida considera que "há um desequilíbrio das posições face ao novo paradigma da convergência. E isso leva a que alguns operadores tenham necessidade de crescer rapidamente em partes do mercado onde estavam menos presentes. O que cria esta dinâmica", referindo-se concretamente às ofertas de triple-play da concorrente Vodafone. Adianta ainda que o grupo acredita que a única forma de diferenciar a oferta exige investimento, que está neste momento em curso. É que se a queda do mercado é uma situação conjuntural, o grupo está a investir estruturalmente para ter uma posição neste mercado compatível com as ambições que temos".

Sobre o alargamento das atividades, voltou a salientar que para além da operação em África, não há para já projetos de expansão, já que o grupo está focado no "reforço da posição competitiva no mercado português. Acreditamos que temos competências, os ativos e o balanço para fazer mais do que o mercado nacional. Mas será numa segunda fase da nossa estratégia".
Questionado sobre uma maior consolidação no mercado de comunicações nacional, considera haver "um espaço relativamente marginal" que não poderá incluir a PT, por questões de concorrência. "É um bocadinho difícil falar-se de consolidação com um operador que tem 50% de quota de mercado", considera. Mas não tem dúvidas de que o setor poderá convergir, a prazo, para "três operadores fortes, grandes, mais equilibrados do ponto de vista da escala e da posição competitiva no mercado".

E, admitindo que "a PT beneficiou de servir alguns interesses e de se servir desses interesses", considera haver já alguns sinais de que as coisas estão mudar. Nomeadamente com a vitória da NOS no contrato de comunicações do banco estatal CGD, onde foi aberto um concurso, com leis de mercado a funcionar. "Seria isso possível noutros tempos, mesmo tendo a melhor proposta? Talvez não. Eventualmente talvez isso seja a única parte que tenha mudado", comprovando que o grupo tem um conjunto de ativos que lhe permite competir com os rivais, mesmo nas compras para os clientes de maior escala e mais complexos do ponto de vista das necessidades de telecomunicações. Acresce que a nova marca NOS já está construída, tanto em termos de notoriedade como de criação de ‘top of mind', sendo um caso único de sucesso.

Miguel Almeida critica ainda o Estado e o regulador, que deveriam olhar para o setor numa perspetiva de enorme contributo para o desenvolvimento da sociedade e das empresas, sendo um setor praticamente único em Portugal. "É importante que o setor não seja maltratado. Hoje, existe um peso de taxas, taxinhas, impostos, impostozinhos completamente irrazoável. Noutros setores, é uma coisa conjuntural associada à crise. Neste já era uma moda anterior que se agravou", refere. Já no caso do regulador, tem coisas para fazer que não tem feito no sentido de "assegurar um desenvolvimento do mercado das telecomunicações em concorrência e com capacidade de investir e de inovar de forma sustentável".

 
 

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