Continuar a ter capacidade de se reinventar, preservando as áreas onde já está de forma eficiente e aproveitando todas as oportunidades de crescimento, é o principal desafio dos CTT. Francisco de Lacerda garante que a estratégia continuará a estar claramente de multifoco, nos três grandes segmentos de negócio, diversificando e explorando novas alavancas de crescimento, numa verdadeira "transformação do perfil que é vital para o futuro". E se fazer Banco CTT foi "um desafio e peras", o Presidente e CEO do grupo postal reitera as metas de crescimento e as vantagens competitivas do projeto.
Os operadores postais mundiais vivem "uma fase de transformação fundamental", provocada pela digitalização dos modelos de negócios em todos os setores de atividade. E especialmente para os players cujo negócio fundamental assenta no correio físico. Os impactos no setor da globalização, liberalização, privatização e da substituição do físico pelo digital são evidentes no negócio tradicional de correios: caem receitas e volumes de correio.
Mas para Francisco de Lacerda, Presidente e CEO dos CTT - Correios de Portugal, orador convidado do último Jantar Debate APDC, há também grandes oportunidades que resultam do digital e onde os operadores postais estão a apostar para garantir o crescimento. Especialmente as que resultam do comércio eletrónico, que estão a fazer disparar as receitas dos serviços expresso e encomendas.
Num encontro que reuniu mais de 150 pessoas e que contou com uma apresentação de Francisco de Lacerda e de um espaço de debate, moderado por Cátia Simões (jornalista do Diário Económico), o líder do grupo CTT garantiu que o grupo estará, no mundo da Internet, em todas as áreas que tenham a ver com o negócio postal. O e-commerce é um dos principais, representando "uma oportunidade de negócio muito significativa que está já a acontecer, mas que se aprofundará e desenvolverá muito mais", garante. Não tendo dúvidas de que o digital e a tecnologia desempenharão "um papel chave na evolução do setor postal", os CTT pretendem estar em todos os projetos em todas as áreas, a trabalhar na vertente física.
A estratégia de diversificação das atividades, desde que alavancadas nos ativos core do grupo, como a rede de lojas, a marca ou os carteiros é assim uma grande aposta. No sentido de "fazer mais coisas sobre as mesmas infraestruturas" não apenas no segmento de negócio dos correios, que continua a representar cerca de 70% dos proveitos totais, mas nas áreas de expresso e encomendas e dos serviços financeiros, que são as que mais crescem. A eficiência é também uma prioridade que está "no DNA dos CTT desde sempre" e que é para ser mantida. Porque "ter custos competitivos dá vantagens competitivas e permite-nos enfrentar os concorrentes de uma forma bastante eficaz".
EMPRESA MODERNA E DIVERSIFICADA
Por todas estas razões, "nos CTT, consideramo-nos uma empresa moderna e diversificada. E temos a certeza que temos quase 500 anos de história, que serão celebrados em 2020. Temos uma atividade muito antiga, mas que permanentemente teve capacidade de se reinventar e de ser inovadora", destacou o gestor.
Hoje, o negócio core dos correios - que é gerido com cuidado, no sentido de manter a eficiência, estabilizar a receita e encontrar alavancas para contrariar a tendência geral de declínio - continua a libertar "muito cash-flow" para "investir e desenvolver outras atividades". E, olhando para o panorama europeu, Francisco de Lacerda garante que "temos muito onde crescer e temos uma ambição grande", tendo em conta o crescimento que se está a registar nas encomendas e correio expresso. Nos serviços financeiros, a ambição centra-se especialmente no Banco CTT, lançado comercialmente a 18 de março em 52 balcões dos correios.
O projeto, uma "ambição antiquíssima" de várias décadas e de tentativas falhadas, foi possível graças ao processo de privatização do grupo postal. O líder dos CTT admite que a obtenção de uma licença bancária e a possibilidade de constituir o banco postal foi um atrativo para investidores e maximizou o valor da privatização, o que "permitiu vencer bloqueios de várias décadas". No final, o processo de venda saldou-se um sucesso no encaixe para o Estado e na valorização em bolsa da empresa, que conseguiu captar capital estrangeiro para o país - mais de 90% da sua estrutura acionista é hoje detida por internacionais.
Francisco de Lacerda garante que tem havido um "retorno significativo para os acionistas", tanto no que respeita aos dividendos - num total de mais de 200 milhões de euros, tendo em conta os 70 milhões que serão pagos este ano - como à valorização das ações cotadas.
As apostas de futuro continuarão a assentar na eficiência operacional com uma melhoria continua de processos e operações, e na excelência comercial. Suportadas nas vantagens competitivas do operador postal: solidez financeira, proximidade (rede e marca), transformação cultural, IT e digital e inovação.
A estratégia será claramente de multifoco, nos seus três grandes segmentos de negócio. No correio, estão a proceder ao desenvolvimento de segmentos de negócio especializados e à transformação do correio físico. No correio expresso e encomendas, está em marcha um upgrade da oferta, prestes a ser lançado no mercado, além do alargamento da rede de parceiros. Na área financeira, o Banco CTT é o nosso principal projeto. Acrescem as novas atividades alavancadas na sua rede resultantes de parcerias, nomeadamente com a PT, a EDP, a Brisa ou o Estado, no caso dos Espaços do Cidadão.
REINVENÇÃO PERMANENTE
O Presidente dos CTT considera que o principal desafio para os próximos anos será a capacidade de se "continuar a reinventar para, preservando os negócios onde estamos, sermos capazes de aproveitar as oportunidades de crescimento, mantendo-nos eficientes". Nesse sentido, estão a proceder a uma verdadeira revolução dos sistemas de informação e infraestruturas, onde existe "um plano muito profundo ao longo dos próximos quatro anos para fazer uma atualização".
Questionado sobre o balanço do que foi feito desde que chegou ao CTT, em 2012, Francisco Lacerda considera ter sido feito um bom trabalho. E o "caminho para a frente é continuar, porque o mundo não para. A transformação do mundo físico para o digital está a acontecer e ao declínio do negócio principal em declínio obriga-nos a diversificar e a explorar alavancas de crescimento diferentes. Há aqui uma transformação do perfil que é vital para o futuro", garante.
Tanto a privatização como a criação do Banco CTT foram "dois bons desafios". Mas "fazer um banco também é um desafio e peras. É muito trabalho em todas as vertentes. É, verdadeiramente, criar uma startup sujeita a regulação", adianta. E reitera as metas de crescimento do banco: "temos uma marca forte, beneficiamos da proximidade às pessoas e da confiança que os portugueses têm nos CTT. Além de uma oferta simples e competitiva, assente em balcões físicos e no homebanking e no mobilebanking, para responder a todos os perfis de clientes. A que acresce o que considera ser uma grande vantagem competitiva: "temos as lojas abertas por causa do negócio postal e não por precisarmos de uma rede de balcões bancários. Temos um adicional de receita em cima de uma base que já existe".