Na abertura desta Conferência, Pedro Norton, Presidente da APDC, salientou que "o acelerado desenvolvimento tecnológico tem marcado a indústria das comunicações nos últimos anos". Hoje, "às redes com velocidades de acesso à Internet crescentes juntam-se equipamentos cada vez mais inteligentes". O que está a levar a uma " multiplicidade de ofertas inovadoras, mesmo disruptivas, que conduziram a profundas transformações nas TIC, Economia e Sociedade". São transformações que obrigam todos os protagonistas da cadeia de valor a trabalhar em colaboração e parceria, pois só assim "podem garantir as respostas certas aos novos paradigmas, desenvolvendo produtos e serviços inovadores e diferenciadores".
A área dos pagamentos móveis exemplifica bem estas tendências, estando a multiplicar-se as parcerias envolvendo operadores, fabricantes, instituições bancárias, retalhistas e over-the-top (OTTs). Ao mesmo tempo que proliferam as soluções e possibilidades de pagamento digital móvel, assim como os equipamentos compatíveis". Mas ressaltou também que persistem muitas incógnitas em torno deste mercado, nomeadamente o standard para os pagamentos móveis, que continua em aberto. E as barreiras à adoção pelos consumidores do mobile payments, que questionam a segurança e não estão convictos da sua conveniência e benefícios. Numa altura em que em Portugal estão a arrancar as redes 4G, "estão reunidas as condições para que o setor e o país consigam marcar a diferença, mostrando mais uma vez o seu pioneirismo na adoção de soluções inovadoras e transformando-se num exemplo ao nível europeu". Mas para isso, é "preciso definir de forma clara as metas, objetivos, estratégias e modelos de negócio".
António Lagartixo, Global Managing Partner da Maksen, que falava na sessão de enquadramento ao tema, com o mote "Uma promessa adiada", ressaltou a importância de olhar para as experiências de sucesso que já estão a ser implementadas no terreno, assim como de aprender com as experiências negativas. Só assim se poderá avançar no do mobile payments. Este é um negócio que está a preencher o espaço tradicionalmente ocupado pelos players do mercado dos pagamentos com cartões. E grandes grupos da Internet como a Google ou a PayPal estão também a ocupar o espaço dos operadores tradicionais de comunicações, já que estes "estão a demorar muito tempo a avançar neste negócio".
Para este responsável, se até agora o negócio dos mobile payments tem sido uma promessa adiada, de que se fala já há vários anos, esta fraca progressão tem resultado da falta de uma oferta de valor generalizada ao mercado e do facto dos clientes não perceberem o valor e os benefícios destes serviços. Para isso têm contribuído as experiências fechadas que têm sido desenvolvidas. Em termos tecnológicos, não tem dúvidas de que a tecnologia NFC (near field Communications) será a vencedora e que os outros "processos tecnológicos já em funcionamento, que exigem procedimentos mais complexos, ou evoluem muito ou não vão vingar". Cada vez mais, o futuro passará pela aproximação do telefone móvel aos terminais de pagamento, como substituto do cartão e do dinheiro. E aqui, o grande valor estará em "conhecer o cliente e as suas preferências para lançar serviços e campanhas direcionadas".
Referindo-se concretamente ao mercado nacional, António Lagartixo considera que está a acontecer muito pouco. Quando as entidades financeiras e os operadores deveriam já estar a trabalhar em conjunto, porque "este é um negócio que tem de envolver todos os players. Têm de se entender entre eles para generalizar o negócio". E os OTTs já estão a "tirar uma fatia do mercado" nesta área, pelo que há que avançar rapidamente, porque as "wallets móveis vão acontecer".
Um projeto que já está em curso em Portugal é o Mobipag. O objetivo é, segundo Helena Leite, da Cardmobiliti e em representação do CEDT, "criar uma plataforma nacional de pagamentos móveis, que envolve empresas, universidades e vários sectores", com recurso à tecnologia NFC. Este projeto é liderado pelo CEDT - Centro de Excelência em Desmaterialização de Transações, tendo como promotores a Cardmobili, PT Inovação, Creative Systems, Universidades do Porto e do Minho, Multicert e Wintouch. E conta com o apoio da TMN, Vodafone, Optimus, Millennium, BES, CGD, BPI, SIBS e CTT. Com ele, querem desmaterializar do dinheiro, potenciar funcionalidades dos equipamentos móveis, criar produtos e negócios que possam gerar benefícios, criar uma plataforma universal e reduzir custos nas transações. Prevê-se que dentro de um ano esteja pronto um protótipo desta plataforma de pagamentos móveis, que será implementado na Universidade do Minho num universo de 100 alunos.
Parcerias e plataforma única são vitais
Para as empresas de tecnologia, o problema não reside nos equipamentos nem na tecnologia em si mas da ausência de parcerias e de um trabalho em conjunto de todos os stakeholders da cadeia de valor deste negócio. Na Sessão "10 anos depois... O que está diferente? A revolução na tecnologia", Guive Chafai, da Alcatel-Lucent Portugal, o negócio do mobile payments "perfila-se como uma janela de oportunidades para operadores móveis.
Que não vai permanecer aberta por muito tempo", porque outros players já se estão a posicionar. Por isso, os operadores móveis nacionais "deveriam juntar-se para criar uma interface de pagamentos móveis usando as suas bases de clientes", até porque têm grandes vantagens, como a "relação de confiança com o cliente, que pode ser explorada. E podem atuar como enablers para terceiros lançarem serviços". Mas se a conveniência é um dos grandes fatores para o sucesso na adoção dos pagamentos móveis, como refere Rita Ferreira, da Ericsson Telecomunicações, a falta de infraestruturas, agora a ser colmatada, assim como a falta de segurança no sistema são os principais entraves.
Neste mercado, Jean-Philippe Niedergang, da Verifone, não tem dúvidas de que a tecnologia NFC é a melhor solução tecnológica. E está aumentar o número de equipamentos que a suportam este negócio, onde o "sucesso da proposta de valor baseia-se na promoção, fidelização e capacidade de oferecer serviços adicionais, como cupões e descontos". Destaca a segurança como um tema chave, que está assegurada com a NFC, e a necessidade de criar " standard único" como "absolutamente crucial para este negócio, através da associação entre todos os players",
Também os vários protagonistas envolvidos na cadeia de valor dos pagamentos móveis, que estiveram reunidos na sessão sobre o tema "Negócio de cêntimos ou de biliões?" concordam na necessidade de parcerias para a oferta de uma plataforma comum. Para Rita Lourenço, do Millennium BCP, este é um "negócio de segurança, de confiança e de fiabilidade. E uma oportunidade. Nenhuma instituição financeira pode ficar fora deste negócio", onde a "comodidade, valor acrescentado e funcionalidades acrescidas são variáveis vitais". Defendendo que a tecnologia NFC é a vencedora, entende que são necessários mais terminais compatíveis, uma proposta de valor efetiva para o cliente e a garantia de que a segurança existe.
Também Luís Flores, da SIBS, entende que o problema não se prende com tecnologia mas sim com a proposta de valor ao cliente. "Tem de se oferecer conveniência acrescida", tanto para os consumidores como para os logistas. Tema fundamental é também o de "saber qual é o ecossistema e como se partilha a cadeia de valor" e aqui "a aposta tem de passar pela criação de uma plataforma única e de um ecossistema. Só assim ganharemos massa crítica." Daniel Espolita, da Visa Europe Mobile, que "quer pôr um cartão de crédito em cada telemóvel, porque há mais telefones que cartões de crédito no mundo", é da mesma opinião: "a tecnologia existe e está disponível. Temos é que resolver os problemas entre os players e definir como será o business-case"
Já Paulo Barreto, da Google Portugal, abordou o projeto da Google Wallet, a plataforma de pagamentos online e mobile da Google suportada pela tecnologia NFC. Para este responsável "o grande desafio é fazer com que os utilizadores comecem a usar o telemóvel como meio de pagamento. Estamos a dar os primeiros passos".
Quanto aos três operadores móveis do mercado nacional, as opiniões são similares. "Temos de trabalhar em conjunto e em parceria para garantir que o valor acrescentado fica no nosso país", diz Mário Vaz, da Vodafone Portugal. Para quem "este é um ecossistema em que todos temos de trabalhar em conjunto", porque "se o consumidor não vir segurança, fiabilidade e comodidade não vai aderir aos pagamentos móveis". Um dos grandes problemas é que neste" ecossistema de parceiros envolvidos, a situação de partilha de negócio não é clara", como salienta Tiago Lopes, da Portugal Telecom. "Em conjunto, temos de fazer crescer mais depressa o ecossistema de mobile payments para garantir um sistema único e funcional" defende, numa posição que é subscrita por David Alves, da Optimus: "temos de desenvolver rapidamente uma solução que passe por uma cooperação e por standards. Para garantir que temos uma solução escalável".