Zeinal Bava em discurso directo
“Não nos deixam concorrer”
No final de Março, depois da próxima assembleia-geral de accionistas - agendada para o dia 28, deverá passar a ser o novo CEO (presidente da comissão executiva) da Portugal Telecom, por proposta do próprio Henrique Granadeiro, que permanecerá como chairman (presidente do conselho de administração) do grupo, deixando de acumular as duas funções. Com um já vasto percurso na incumbente nacional, Zeinal Bava, actual vice-presidente da PT, cargo que acumula com as presidências da PT Comunicações (PTC), TMN e PT PRO, tem ideias bem definidas quanto ao futuro do maior grupo português de comunicações. Garante que o grupo tem capacidade financeira para investir e vai que fazê-lo, mas "criteriosamente", nomeadamente na TDT e nas NGN. E alerta: "ou nos são dadas condições claras para promover o investimento, criar emprego, inovação e mais e melhores serviços ou vamos criar isso em países que queiram dar essas condições". É que o grupo está "frustrado" com a regulação sectorial, considerada demasiado "agressiva" e à qual o gestor não poupa críticas. Até porque a cisão da PT Multimédia (PTM) está feita e há que dar agora "mais armas" ao grupo num mercado fortemente concorrencial.
Perante um grupo de estudantes universitários finalistas de licenciaturas nas TIC e gestão e de profissionais em início de carreira nestas áreas, participantes do mais recente Coffee Talk da APDC que decorreu no final de Janeiro na Fundação das Comunicações, Zeinal Bava deu a sua perspectiva sobre o mercado e sobre o grupo que integra, além de abordar o seu percurso e experiência profissional. Um dos seus principais " alvos" foi a regulação sectorial. Para o gestor, "na PT temos que ser muito criativos pois trabalhamos com um enquadramento regulatório extremamente complexo" e que "é tudo menos incentivador do investimento". E vai ainda mais longe, ao afirmar que na Anacom, "dada a idade média das pessoas que lá trabalham, continua a medir o seu sucesso de uma forma que consideramos completamente antiquada e que é ‘o meu sucesso está directamente ligado à perda de quota de mercado da PT'". Quando actualmente "a concorrência não pode ser feita por tipos de acesso".
Defendendo que não existe uma regulação que tenha progredido de acordo com a alteração de hábitos do consumidor, sendo "única e exclusivamente assente em criar dificuldades ao grupo PT e criar barreiras artificiais", o grupo tem optado por desenvolver o negócio de uma forma criativa, de forma a "alterar o paradigma" e poder "justamente competir", com a oferta de produtos convergentes. Isto apesar de ainda não ter a "a alavanca do preço para poder diferenciar o posicionamento no mercado, que é usada e abusada pelos nossos concorrentes". Não existe hoje, na sua óptica, um "level playing field com a concorrência" simplesmente porque o regulador sectorial "não nos deixa concorrer. Não nos deixa baixar preços", mesmo em zonas onde já há alternativas de infra-estrutura, como Lisboa e Porto. Quando a "nossa concorrência tem a alavanca do preço, que pode usar e abusar".
E volta a reafirmar uma posição já há muito defendida pela PT na área da prestação do serviço universal. "Somos o único operador que é obrigado a ter uma oferta nacional de serviço fixo de telefone e de cobertura ADSL. As outras não têm essa obrigação e estão muito viradas para centros urbanos ou para a zona litoral do País". A obrigação de fornecer telefone em locais onde, do ponto de vista da rentabilidade, não faz de todo sentido, pelo que custando "muito dinheiro", deveria ser suportada por todo o mercado e não apenas pela incumbente. Recorde-se que a PT garante ter mais de 150 milhões de euros de prejuízos anuais com a prestação do serviço universal.
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