A pandemia provou que é possível trabalhar por via digital na Educação e acelerou a necessidade de mudança de paradigma no setor. Saber aproveitar todo o potencial da tecnologia para transformar verdadeiramente o Ensino é agora o desafio. E se o 5G promete possibilidades infinitas, há que avançar já, de forma acelerada e com sentido de urgência. Este momento de transição deve de ser aproveitado para serem lançadas as bases de uma nova Educação à prova do futuro, como ficou patente nesta Talkcommunications APDC.
Na Cisco Portugal, o tema da educação desde sempre tem sido central na operação e as iniciativas têm sido várias, no sentido de acrescentar valor ao setor em termos de disponibilização de ferramentas de colaboração, de vídeo e de produtividade. Com a pandemia, assumiu ainda uma maior relevância, ao impor ao setor uma transição do físico para o digital.
Segundo António Feijão, Business Development Manager da tecnológica, este esforço de digitalização deve ser continuado, porque "é realmente urgente a transformação da educação em Portugal", nomeadamente através da adoção de modelos híbridos de aprendizagem. Até porque "o ensino está a estender-se para fora da sala de aula, seja de modo síncrono ou assíncrono". Há que garantir a escolha de uma infraestrutura que permita esta mudança e a tecnologia terá um papel cada vez mais relevante.
Uma das áreas que terá de ser assegurada será a da cibersegurança, já que todos os atores do ecossistema terão de se sentir seguros para fazer a transição. Garantir a continuidade do investimento será também essencial, assim como criar as condições para os alunos terem as mesmas oportunidades de acesso. Com a certeza de que a tecnologia não resolve todos os problemas, terá de haver um estímulo à mudança e à experimentação, pelo que haverá que assegurar a formação dos professores e fornecer-lhes as condições para poderem captar os alunos para os novos modelos de aprendizagem.
"A escola tem de respirar tecnologia", diz António Feijão, para quem esta estará "na base da educação do futuro". E a introdução do 5G permitirá um sem número de possibilidades, da realidade aumentada à realidade virtual, passando pelos vídeos 3D, pelo ensino imersivo, pela gamificação ou pela sensorização em escala, entre outros.
Mas, para que tudo seja possível, é necessário "mantermos o sentido de urgência na transformação da educação. Não podemos ficar para trás dos outros países e temos uma oportunidade única de construir a educação do futuro, dando aos alunos todas as skills para as novas profissões que estão a surgir. Não há outro caminho para este desígnio nacional".
ALARGAR ENSINO PARA FORA DA SALA DE AULA
Rui Grilo, Western Europe Director Education Sector da Microsoft, partilha esta visão. "A situação de resposta a esta emergência forçou o acelerar de um conjunto de processos onde a tecnologia foi essencial para que o ensino continuasse a funcionar. Foi replicada de forma virtual uma sala de aula, mas o papel que a tecnologia pode ter na educação vai muito além disto", diz.
Agora, há que fazer coisas novas, alargando o ensino para fora da sala de aulas e garantindo o acesso dos alunos às plataformas de ensino em todo o lado, destaca o gestor. Considerando que se o 5G já fosse uma realidade, teria um impacto enorme neste âmbito, tornando os ambientes escolares cada vez mais inteligentes, destaca que "estamos prestes a ter uma descontinuidade no ensino, graças à crescente importância de temas como a IoT, machine learning ou big data".
Por isso, "há que saber incluir com normalidade a tecnologia na escola, para que esta assuma um novo papel de desenvolver a consciência crítica nas novas gerações. Quando a tecnologia está disponível, a sua utilização é sempre excedida pela imaginação das pessoas", garante. Mas, mais importante que a tecnologia, é fundamental ter um plano de transformação, pensado de forma global, para permitir uma utilização que faça sentido.
Para o responsável da Microsoft, este "é o momento de garantir que os alunos ganham na sala de aula as competências de acesso à informação", de forma a olharem para um problema com a atitude de encontrar uma solução e de ultrapassar e terem as competências necessárias para um mercado de trabalho em mudança. E não tem dúvidas: "estamos num momento de grande transição. Temos de aproveitar para lançarmos as bases para uma transformação profunda que nos prepare para o futuro".
Já a preparar-se para este futuro está o Instituto Piaget. O seu secretário-geral, Rui Tomás, no sistema de ensino, incluindo o Superior, as mudanças são lentas, num setor mais conservador e muito isolado a choques tecnológicos. Como o ensino vai funcionando, o método tradicional prolonga-se no tempo. Contudo, à medida que os alunos vão adotando mais ferramentas tecnológicas, vão ficando mais desfasados da escola e dos professores, e o desafio é garantir que a escola seja um espaço motivador, com todas as tecnologias que o rodeiam.
Não tendo dúvidas de que "as pessoas estão no centro da educação", sendo o professor "uma espécie de mentor que orienta os alunos", destaca que a pandemia veio mostrar que é possível trabalhar e ensinar à distância. Mas, mais do que passar de um modelo presencial para o digital, há que saber usar as ferramentas adequadas aproveitando tudo o que a tecnologia permite. E, para este responsável, "a tecnologia vai trazer a possibilidade de democratizar o conhecimento".
E exemplifica com o caso do Piaget, que está presente em zonas mais periféricas, que registam ainda grandes assimetrias em termos de acesso ao digital, face aos grandes centros urbanos. Por isso, uma das prioridades terá de ser o combate à exclusão digital, podendo aqui o 5G desempenhar um papel fundamental. Com o acesso remoto ao ensino, melhores conteúdos, interatividade e outras possibilidades, será possível promover um maior desenvolvimento das soft skills, tão importantes para o mercado de trabalho. Muita gente terá acesso ao ensino e á aprendizagem, garantindo maiores qualificações em todas as áreas de atividade.
Por isso, o Instituto fez uma parceria recentemente com a Huawei, através da Huawei ICT Academy, para a formação de alunos nas áreas tecnológicas, visando o desenvolvimento de talentos, bem como aproximar a realidade académica ao mundo empresarial, e está a reformular todas as suas infraestruturas tecnológicas de base. Arrancou pelo campus de Almada, instalando capacidade para ter uma cobertura plena de 5G, mas vai alargar a toda a sua operação. O objetivo é apostar em modelos digitais de formação, sendo "a aposta no digital fortíssima".
O Piaget está ainda a responder a "outra lição retirada da pandemia: os docentes não estão preparados para os novos perfis de ensino digitais", como refere Rui Tomás. Por isso, iniciou-se um programa de formação de todos os professores, para melhorar as suas competências e saber aproveitar todo o potencial do online. "As plataformas são todas boas. O que conta é a forma como se utilizam e, por isso, é fundamental saber como o fazer", acrescenta.
A URGÊNCIA DE CRIAR CONDIÇÕES DE MUDANÇA
"Neste momento de transformação que vivemos", Rui Grilo alerta que é "fundamental dar condições às escolas para se prepararem". Ao contrário de outros países, os países do sul da Europa, incluindo Portugal, têm realizado um investimento apenas pontual na aposta na tecnologia nas escolas, até pela forte dependência que têm de financiamentos.
"Espero que se mude, de facto, esta atitude e mentalidade, de forma a que as escolas fiquem preparadas para tudo o que aí vem, incluindo o 5G", adianta, até porque há uma crescente interação no ecossistema e muita inovação que está a surgir. "A parte boa da tecnologia é que é uma ferramenta que ajuda a enfrentar um conjunto de desafios e está sempre a evoluir", comenta, considerando que é fundamental apostar na formação de professores para que "as instituições de ensino tenham este olhar para o futuro".
António Feijão acrescenta que há já casos de sucesso na Educação em Portugal na adoção da tecnologia e muita inovação a acontecer que permite grandes benefícios. Mas há que "começar a construir o caminho", não sendo necessário esperar pelo 5G, porque há um conjunto de evoluções tecnológicas que permite, desde já, ser aproveitadas para começar a construir uma nova realidade no ensino. "Não podemos esperar. Temos de ter todos o sentido de urgência em começar a fazer, com uma cultura de experiências, formando os professores para serem mentores, mostrando ao aluno o lado da tecnologia que o beneficia mais em termos de aprendizagem", assegura.
E as duas tecnológicas têm mantido contactos com o Executivo, nomeadamente através da secretaria de Estado para a Transição Digital, no sentido de poderem contribuir ativamente para esta mudança e "fazer parte da solução", como refere Rui Grilo.
Sendo certo que o país já está a começar a avançar e que a estratégia está definida, com forte aposta na Educação, há que garantir coisas tão básicas como ligações fiáveis à internet e equipamentos de forma a não deixar ninguém para trás, num esforço continuado e com foco, pois só assim a tecnologia poderá ser, de facto, diferenciadora. "O desenvolvimento de capacidades de compreender e de utilizar as diferentes tecnologias é essencial", acrescenta o responsável da Microsoft.
António Feijão destaca também a necessidade de colmatar a falta crónica de professores de TI nas escolas, assim como um rejuvenescimento da classe docente, criando-se incentivos para abraçar novos desafios. Acrescem temas como definir a forma de incluir na Educação o pensamento crítico e analítico e até a filosofia das compras públicas, que não se coaduna com a aceleração do mercado.
"Há um conjunto de áreas que têm de ser olhadas com muita atenção. A escola tem de ser orientada para o sucesso do aluno. E o sucesso deste faz o sucesso do país. Temos de nos mobilizar para percorrer este caminho", remata.
PROGRAMA (9:30h - 11:00h)
Boas-vindas | Sandra Fazenda Almeida | APDC
Rui Tomás | Instituto Piaget
ORADORES