O 5G poderá representar uma verdadeira revolução em todos as atividades. Particularmente em áreas críticas como a da Saúde. Considerada uma tecnologia disruptiva, o seu impacto potencial nos protagonistas do setor, nos profissionais e nos clientes/pacientes é inimaginável. Prontos para investir nestas infraestruturas, os operadores de comunicações defendem a necessidade de cocriação, colaboração e parcerias para se ir o mais longe possível e retirar todo o valor, com novos e inovadores serviços de saúde públicos e privados, como ficou claro na primeira Talkommunication APDC, sobre "O Futuro com 5G na Saúde".
Como destacou o presidente da APDC, esta iniciativa marcou o arranque de um novo formato de eventos, as Talkommunicacions, destinadas a analisar os temas relevantes das comunicações. Onde "O Futuro com 5G" nos vários setores da economia se destaca como um dos mais relevantes. Rogério Carapuça foi o moderador deste primeiro encontro, dedicado aos impactos na saúde e à forma como se poderá tirar partido de todas as inovações que a nova geração móvel trará ao mercado, como destacou.
"O 5G traz várias coisas que são absolutamente diferenciadoras em relação ao 4G. Na verdade, não é uma evolução, é uma tecnologia completamente disruptiva", começa por destacar Nuno Nunes, Chief Sales Officer (CSO) da Altice Portugal.
Latência quase inexistente, que permite a ligação remora em real time, maior largura de banda e maior rapidez são vantagens destacadas pelo gestor que, depois de ter apresentado um use case de uma ambulância conectada, garante que a nova geração vai salvar vidas, porque se ganha tempo em diagnósticos, decisões, cirurgias e tratamentos, abrindo as portas à telemedicina e a um sem número de soluções assentes em aplicações, devices, IoT, inteligência artificial, realidade aumentada e virtual ou machine learning.
"Com o 5G passamos a prevenir a doença, mais do que tratá-la", garante, destacando que este é também um enorme desafio de gestão dos players da saúde, que representará ainda poupanças para todos intervenientes.
"A saúde é uma das áreas onde um impacto do 5G pode ser maior e mais sentido pelas pessoas, na democratização, no custo e, sobretudo, na qualidade de vida que daí resultará", acrescenta Manuel Ramalho Eanes, Administrador Executivo da NOS, exemplificando-o com um projeto pioneiro de tratamento remoto de pacientes.
Trata-se, na sua perspetiva, para os operadores privados e públicos do setor "de uma enorme oportunidade de um repensar estrutural, com o cliente no centro e a tecnologia em redor". Mas também, apara os profissionais, de uma "oportunidade de serem super-heróis, para além dos heróis que já são". Convicto de que o 5G vai desafiar muitos mitos, depois da pandemia ter feito cair alguns, defende que a nova geração "traz um canivete suíço que dá aos arquitetos desta indústria a ferramenta para entregar qualidade de vida a mais pessoas, com menos custos, com mais eficácia e com maior qualidade de vida".
Resiliência quase total, entrega de mais objetos ligados com capacidade de processar informação crítica, grande largura de banda para aceder a toda a informação e forma instantânea são características da rede que foram destacadas como essenciais. Vão permitir a oferta de saúde à distância, seja consultas, cirurgias ou monitorização remota; o acesso mundial aos melhores médicos e conteúdos; e a melhor formação dos profissionais, nomeadamente com a realidade aumentada e virtual.
"As novas funcionalidades, ambientes e aplicações terão, seguramente, o potencial para uma importante revolução dos serviços de saúde", garante o administrador da NOS, que considera que terá mesmo que se "repensar todo o sistema físico de saúde". Por isso, lança um desafio aos protagonistas do setor: "Não deixem de aproveitar esta revolução. Preparem-se. Falem com os operadores para preparar este futuro que está aqui mesmo à porta. Pensem nas oportunidades, como querem discuti-las e arranjem um parceiro de confiança para fazer este caminho convosco".
A visão de Paula Carioca, membro do Conselho Executivo da Vodafone Portugal, é similar. Com chegada prevista para 2021, o 5G "promete impulsionar vários avanços tecnológicos. Todos os setores vão beneficiar, mas não há dúvida de que a saúde é uma das áreas onde o impacto será mais significativo. Obviamente que será um acelerador da transformação digital e um driver da retoma económica do país".
Na sua ótica, toda a cadeia de valor deste ecossistema vai beneficiar, deste a industria farmacêutica à logística, passando pelos meios de diagnóstico, formação, investigação e meios de prevenção, entre outros.
Mas, "apesar das infinitas oportunidades que o 5G traz" defende ser importante "ajustar expetativas. O 5G não é uma tecnologia 100% pronta, chegará em fases, pelo que não estará tudo disponível no arranque, em 2021. A primeira fase vai assentar essencialmente na maior velocidade. Já uma latência mais baixa ainda está distante da muito baixa latência que é o target e que surgirá numa fase posterior, a partir de 2022, porque requer uma arquitetura de rede nova".
Não tendo dúvidas de que "o contexto em que vivemos criou uma forte mudança na forma como a tecnologia pode ser vista pelas pessoas", entende que "o 5G pode ser encarado com otimismo e como uma ferramenta que vai permitir uma mais célere recuperação económica e trazer ganhos de valor em saúde". Para já, o importante é "testar e consolidar os conceitos, antes do lançamento comercial do 5G", através de uses cases.
MUITAS DISRUPÇÕES
Mas estarão a instituições de saúde nacionais já a dar passos para uma nova realidade, tendo em conta que terão de ser completamente diferentes do que são hoje? Os oradores garantem que sim. Até porque "o 5G trará uma disrupção do que existe na sociedade e na forma de trabalhar", com mais negócios para os protagonistas do setor, para os seus profissionais e para o cliente, como assegura Nuno Nunes.
No entanto, se a transformação está claramente a acontecer na saúde, "estamos ainda a arranhar a superfície disto", assegura o gestor da NOS. É que "as melhores ferramentas ainda estão à porta e só chegam com o 5G" e "este caminho terá que se fazer num processo de inovação aberta, em que vão ser chamados os operadores para agregar as diferentes peças de inovação, mas também muitos profissionais e empresas nacionais e internacionais, para construir as soluções que, no futuro, vão provocar mudanças ainda maiores".
Certo é que "o ecossistema como está hoje montado tem e vai ser seguramente repensado. Deveremos questionar se as infraestruturas que temos são as que queremos, se as diferentes camadas de saúde fazem todas falta amanhã e se são a melhor forma de lidar com o que é mais fundamental, que são as pessoas", remata.
Paula Carioca considera que existem duas ‘peças-chave' para o futuro: a cocriação e a articulação e colaboração entre todos os stakeholders. Tudo o que será desenvolvimento de soluções nas múltiplas vertentes implicará, obrigatoriamente, um "trabalho em cocriação com os profissionais e pessoas que tem know-how, para que a utilização seja efetiva". E estando a inovação sempre presente, será necessário articular todas as entidades, já que o 5G "implica alterações nos processos de trabalho e na organização e tem implícita a aceleração da digitalização de processos".
Para a gestora, há que "começar pequeno para depois aumentar em escala, não deixando ninguém de fora. Envolvendo os stakeholders e operando as transformações em termos de processos e organização, que têm de acompanhar a implementação da evolução que a tecnologia permite alcançar".
Os receios em torno dos eventuais impactos negativos do 5G na saúde são afastados por todos, face às evidências tecnológicas e científicas. Já no que respeita à cobertura, ficou claro que, à semelhança do que aconteceu com as gerações móveis anteriores, ficou claro que será sempre um processo gradual e tendo em conta as necessidades do mercado. Até porque o país tem das melhores infraestruturas móveis e fixas da Europa e do Mundo.
Questionados sobre o destino do novo pacote de financiamento europeu e das respetivas prioridades, todos defendem que se deverá avançar para uma mudança do sistema de saúde, que lhe permita tirar partido do avanço do 5G. Trata-se, segundo o responsável da NOS, de um dos "melhores casos de investimento para esta nova vaga de construção do crescimento, a partir do investimento público coletivo".
Na sua ótica, "o 5G tem o potencial enorme de transformar para muito melhor os modelos de negócio de um conjunto de indústrias, de que é exemplo a Saúde. Mais informação, mais eficiência e mais valor acrescentado são uma vantagem competitiva para o nosso tecido empresarial, que naturalmente decorre deste investimento tecnológico", além do "impacto direto na qualidade de vida das pessoas, construindo uma riqueza muito grande para o país".
Por isso, "fazia sentido haver alguma coordenação de esforços para que se dirija o investimento para o que mais faz sentido". Criar novas empresas, melhorar a vida das empresas e dos setores de atividade e criar mais qualidade de vida para as pessoas terão de ser metas.
Também a responsável da Vodafone defende a importância de "existir uma estratégia articulada entre políticas públicas consistentes, duradouras e inclusivas e o papel das organizações privadas. Só um esforço de empresas comprometidas permitirá avançar para um Portugal digital, retirando-se todos os benefícios desses investimentos".
Centrando-se especificamente no setor da Saúde, o orador da Altice teme que se possa correr o risco de ter uses cases apenas no setor privado e não no público, de nada for feito. Por isso, defende "a criação de um grupo de trabalho sobre o 5G entre equipas do Governo e do privado. Sendo o 5G uma rede transversal para Portugal, para modernizar a Saúde e toda uma economia que precisa de ser acelerada, não pode acontecer que existam soluções preparadas para serem lançadas no mercado e não usar os dinheiros públicos para que isso aconteça no setor público", alerta, defendendo a necessidade de se pensar "numa estratégia comum, alinhada com as necessidades e o interesse público".
- José Fragata, Vice-Reitor da Universidade Nova de Lisboa e coordenador da área da Saúde e a Plataforma Estratégica Nova Saúde
- Luís Menezes, CEO da Unilabs
- Rui Diniz, Vice-presidente do Grupo José de Mello Saúde
- António Travassos, Centro Cirúrgico de Coimbra