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16.07
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WebMorning APDC em parceria com Microsoft Portugal
O Futuro das Qualificações Digitais
As competências digitais terão de estar no centro da estratégia digital para preparar o país para o futuro pós-COVID e para o embate de potenciais novas crises que possam vir a ocorrer. Há vontade de trabalhar, muito a fazer e um sentido de urgência generalizado que tem agora de ser traduzido em medidas concretas e eficazes. A grande capacidade de cooperação e cocriação entre entidades, já comprovada, é considerada um trunfo essencial para garantir o sucesso e poder diferenciar Portugal no contexto europeu. Há muitas oportunidades e há capacidade. Agora, é fazer acontecer, como ficou patente no WebMorning APDC sobre "O Futuro das Qualificações Digitais".
"As TIC foram essenciais, no cenário de pandemia, para a continuidade dos negócios e da vida das pessoas. E com a urgência cada vez maior da digitalização, tudo está a ser transformado de forma radical. O que significa que, cada vez mais, vamos precisar de pessoas com qualificações digitais", começou por alertar o presidente da APDC, para quem "todos vamos precisar de maiores qualificações, para podermos aceder às várias formas de interação no digital. O grande tema é, para Rogério Carapuça, conseguir que essas qualificações cheguem a toda a população de uma forma massiva.
Esse é um dos objetivos da Comissão Europeia (CE), que anunciou a 1 de julho um pacote de propostas legislativas que endereçam as necessidades dos jovens e a qualificação ao longo da vida, com "enfâse em assegurar que os adultos tenham acesso a formas de requalificação muito mais eficazes", como destacou João Santos, sénior expert da CE. Estas tiveram em conta as aprendizagens retiradas da pandemia, assim como os desafios da economia verde e da transição digital.
A agenda para as competências definida por Bruxelas apresenta um total de 12 medidas, onde o responsável destaca o ‘Pact for Skills', a lançar em novembro, onde se pretendem envolver todos os stakeholders nos desafios da requalificação, e as ‘individual learning accounts', com as quais cada pessoa passa a ter uma conta para usar a aprendizagem ao longo da vida. As metas são de, até 2025, ter pelo menos 50% dos europeus em idade ativa a participar em ações de formação ao longo da vida, 30% dos adultos com baixas qualificações a participar na aprendizagem, 20% dos desempregados com competências digitais sustentáveis e 75% dos adultos com competências digitais básicas.
Se a abordagem política europeia está definida, faltará agora aprovar o financiamento, também já proposto pela CE, no âmbito do Quadro Financeiro Plurianual europeu, até 2027, e do Plano de Recuperação, agora em negociação. Com eles pretende-se não só resolver os problemas mais urgentes de ume Europa em recessão, mas também estimular a economia, e preparar melhor o espaço europeu para ultrapassar novas crises.
O responsável europeu considera também, tendo em conta os dados comunitários, que Portugal tem dado "saltos inacreditáveis" ao nível digital nos últimos anos, apesar de continuar atrás da média europeia em muitos indicadores, porque também os demais países avançaram rapidamente criando, em alguns casos, um gap ainda maior. É o caso do capital humano e da utilização dos serviços digitais online, onde o nosso país continua muito atrasado, peloq eu as qualificações terão se ser uma prioridade.
Nas empresas, o tema assume uma importância cada vez mais estratégica. Paula Panarra, diretora-geral da Microsoft Portugal, destaca que a necessidade das organizações de terem funções mais técnicas, tanto em termos globais como no mercado nacional, já existe há muito e é um tema que o grupo tem acompanhado de perto. Até porque, cada vez mais, esse trata não apenas de formação para quem entra no mercado de trabalho mas de aprendizagem ao longo da vida, para se adquirirem as qualificações necessárias para as profissões do futuro.
Internamente, o grupo tem desenvolvido uma estratégia de apoio aos seus profissionais, com a criação de uma plataforma com as formações obrigatórias e complementares, muitas delas em parceria com entidades de ensino. Foram também criados dias específicos para self-learning, com progressos grandes na preparação dos seus colaboradores para os próximos desafios.
Para a sociedade, têm sido disponibilizadas também plataformas abertas de learning, umas mais genéricas e outras mais técnicas, que incluem formações gratuitas, e que registaram uma procura muito elevada durante os meses de confinamento. Foi ainda lançada recentemente uma iniciativa a dois anos para conferir competências tecnologias e digitais a 25 milhões de pessoas em 10 profissões consideradas de futuro. "Capacitar para uma maior empregabilidade é o objetivo claro", diz Paula Panarra, que deixa claro que a generalidade das empresas não tem investido nesta área, mas que terão que o fazer.
Também na Axians, capacitar os profissionais é essencial e até mesmo uma commodity. "Sem competências digitais ficamos em clara desvantagem competitiva, mas tê-las também não é uma vantagem competitiva. É um investimento necessário, mas não suficiente", assegura a sua Executive Director, Carmo Palma. Que salienta que além das competências técnicas, é cada vez mais essencial ter competências que nos diferenciem das máquinas, as chamadas soft skills. Só assim se garante competitividade, tanto em termos individuais como nas empresas.
Considerando que "a aprendizagem é para a vida e as empresas têm a responsabilidade de contribuir para o ensino", destaca que o valor das competências se cria pelo crescimento horizontal, que é promovido nos cursos de formação, e pelo crescimento vertical, através do qual se transforma a perspetiva do que sabemos. "Estamos a testemunhar mudanças a um ritmo sem precedentes. Para termos valor, enquanto profissionais, empresas e país, é obrigatório termos competências digitais e daí a importância de programas como o UPSkill", salienta.
Do lado das instituições de ensino superior, a visão é de otimismo. Pedro Dominguinhos, presidente do CCISP - Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos, começa por destacar a enorme evolução conseguida nos dois últimos anos nos licenciados em TIC, que passaram de 1,2% do total de licenciaturas para 1,9%. Tudo graças a uma estratégia concertada entre a academia, as empresas e o Estado, nomeadamente através do InCoDe.2030. Destacou ainda o papel essencial dos cursos técnicos superiores profissionais, idealizados e desenhados em articulação com as empresas, que em 5 anos envolveram 25 mil estudantes e taxas e conclusão de 75%, respondendo de forma rápida às necessidades das regiões e das organizações.
E refere Bragança, Castelo Branco, Viseu e Fundão, "exemplos muito claros de como é possível ultrapassar a tirania da geografia do interior. O que significa que é possível, com políticas concretas, obter resultados. Tem é que haver uma logica de ecossistema e de cocriação, com um conjunto articulado de atores do território. Isso é essencial". Hoje, já se está a caminhar para uma outra dinâmica, de ter diferenciação nas formações do superior que respondam a necessidades diferenciadas e, cada vez, mais ao longo da vida, área onde é preciso investir fortemente.
Aqui, os politécnicos têm em curso um conjunto de iniciativas, em articulação com o IEFP, nomeadamente para permitir a qualificação de licenciados em áreas não tradicionais. É o caso do UPKills, programa em parceria com a APDC para requalificação em áreas definidas pelas empresas envolvidas e que permitem às pessoas reconfigurar a sua carreira. Há já 2500 candidatos ao programa, cuja 1ª edição arranca em setembro. E assegura que a pandemia veio potenciar este tipo de estratégias, mostrando ainda que é possível adotar, com sucesso, estratégias de e-learning. Alerta ainda para o trabalho da inclusão que é necessário fazer, para evitar o analfabetismo digital.
Mas não terá Portugal um ponto de partida mais difícil, tendo em conta a necessidade urgente de tomar medidas perante a perspetiva de uma segunda vaga do COVID-19 a partir do outono? Para Rogério Carapuça, não estando o país "especialmente qualificado para lhe correr bem esta nova revolução", o que terá é que "saber trabalhar bem para transformar as nossas desvantagens em vantagens". Sob pena de se transformar num país periférico, não pela geografia, mas porque não tem acesso ao capital e às competências e tem legislação demasiado complicada.
Na sua perspetiva, o problema não está nem na infraestrutura digital ou nas plataformas de software. Nem sequer na acessibilidade, tendo em conta que mais de 80% dos portugueses vêm noticias na internet e acedem às redes sociais. O problema está em que "não usamos o digital para os negócios e para a produtividade pessoal. É isso que nos falta". Para o líder da APDC, o caminho passa por "continuar a descomplicar e garantir que tudo é transacional se consegue fazer online. Temos de puxar pelas nossas competências e criar as que não existem, para que as empresas usem as TIC para serem mais eficientes e para que as pessoas conseguiram usar as suas competências para fazer negócios".
João Santos não tem dúvidas de que "há uma consciência geral do que são os desafios do futuro e também muita vontade de trabalhar" no mercado nacional. "O COVID-19 teve um aspeto positivo: dar um sentido de urgência ao que já sabíamos que tinha que ser feito, mas onde achávamos que tínhamos uma margem de conforto. Veio acordar as pessoas para a urgência da ação imediata", diz.
Em Bruxelas, onde os processos de planeamento são longos, "houve uma capacidade de reação da CE como nunca houve em medidas e financiamentos, para endereçar os principais problemas". Mas, na sua ótica, o maior problema está do lado dos estados-membros. "Todos os anos, centenas de milhões de euros de fundos comunitários são perdidos por falta de capacidade dos vários países", pelo que há aqui muito espaço para melhorias.
Para Pedro Dominguinhos, "há um ponto de partida que conhecemos e que é fundamental: as decisões têm que ser tomadas baseadas nos dados". O país beneficia ainda de uma condição que não existia antes, a grande capacidade de cooperação entre as diferentes entidades, o que significa "um alinhamento estratégico e, dada a urgência, uma call for action, que é essencial. Sabemos que se não nos juntarmos a resolver os problemas, as consequências serão muito piores". Para o académico, "há muito trabalho a fazer e a pandemia veio criar novos desafios, mas nós somos capazes".
Nas empresas, o otimismo também domina. Carmo Palma diz que há áreas em que o país não está preparado e há que trabalhar nelas. É preciso olhar para a realidade e ver o que fazer, sendo que o sucesso dependerá da atitude e contributo de todos, em escala, e com proatividade, porque há muitas oportunidades.
Já Paula Panarra assegura que, tendo consciência das dificuldades, nomeadamente em termos de inclusão, o país vai conseguir ultrapassar a situação. Aliás, a capacidade de resposta durante o confinamento deixou bem clara a capacidade nacional. Acresce que hoje a oferta tecnológica evoluiu de tal forma que não exige grande investimento inicial às PME para se prepararem para a nova realidade. Agora, é uma questão de "fazer acontecer".
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