Tendo Portugal infraestruturas de comunicações das mais avançadas da Europa e do mundo, o grande défice que existe é ao nível dos conteúdos. E o Governo vai " dar as condições para que este trabalho prossiga nas TIC e para que conseguirmos liderar em termos de conteúdos" , garantiu o Secretário de Estado das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, Sérgio Monteiro, na sessão de encerramento desta Conferência da APDC. O governante destacou a importância do sector para criar novas soluções inovadoras em áreas de oferta de serviços públicos, como os transportes. Para "densificar as ofertas" e "aumentar a procura de serviços", defende também como crítico "enriquecer o diálogo entre as entidades governamentais e os agentes económicos. De forma a criar condições para um maior desenvolvimento do mercado".
E o sector das comunicações em Portugal tem-se desenvolvido a um ritmo frenético nos últimos cinco anos. E em todas as frentes: nas infraestruturas, nos equipamentos e nos serviços disponibilizados aos clientes. Para Pedro Leitão, vice-presidente da APDC, "Portugal está na linha da frente" no sector, posicionando-se não só como um dos países mais desenvolvidos da Europa como do Mundo. Hoje, as plataformas de comunicações são flexíveis, integradas e convergentes. Como se pode ver nomeadamente no caso das plataformas de televisão paga, que disponibilizam um conjunto de funcionalidades enorme, muito para além da visualização da televisão. E que são se resume ao ecrã de tv, mas vai muito além, sendo multi-device, "num ecossistema fixo-móvel completamente agnóstico, onde tudo está ligado".
Para Pedro Leitão, "ainda bem que estamos neste estádio de desenvolvimento", já que na atual conjuntura de queda de receitas é necessário encontrar novas formas de rentabilidade "com inovação e novos negócios". Tanto no sector como no Estado e na economia como um todo. E "temos claramente desafios, sendo as respostas necessariamente difíceis e que passam cada vez mais por soluções abrangentes e integradas, que vão muito além das tradicionais ofertas", com "um mínimo de investimento, custos competitivos e que contribuam para aumentar a produtividade". Neste processo, "as parcerias e a globalização são duas grandes tendências com soluções cada vez mais abrangentes na cadeia de valor" e com "a ambição de desenvolver soluções globais". É esse o objetivo da Conferência da APDC: debater em conjunto as melhores soluções sobre RNG. Ganha o setor, ganham os clientes e ganha o país.
"Live": TIC criticas nas cidades inteligentes
E para analisar o impacto das TIC na Sociedade aos mais variados níveis, com especial destaque para a criação de cidades inteligentes, estiveram presentes vários responsáveis da cadeia de valor na primeira sessão desta Conferência, onde o tema de fundo foi "Live - Digital Cities | e-commerce | e-health". Um tema na ordem do dia, segundo Manuel Lorenzo Hernández, da Ericsson. É que estando o mundo a tornar-se cada vez mais urbano, o grande desafio é ter cidades cada vez mais inteligentes. E as TIC assumem aqui um papel fundamental, abrindo caminho para a criação de novas infraestruturas, novos serviços e novas cidades e permitindo o desenvolvimento social, económico e ambiental.
Mas se as três grandes tendências convergentes nas TIC - banda larga, mobilidade e cloud - contribuem para tornar as cidades cada vez mais inteligentes, o grande desafio é conseguir criar cidades verdadeiramente inteligentes. Para isso, há que definir prioridades e delinear estratégias de financiamento. Porque hoje a competição não é entre países mas entre cidades e são as mais desenvolvidas e inteligentes que têm maior capacidade para atrair talento e capturar mais valor.
E neste cenário, Portugal é sem dúvida pioneiro nas infraestruturas. E poderá manter essa posição com o 4G, que representa mais banda larga, mobilidade e cloud. Para António Neto , da Alcatel-Lucent, o driver mais importante para manter este pioneirismo é disponibilizar soluções, não "caindo na tentação de inventar a roda ou fugir aos standards. Num mundo global e numa economia cada vez mais transversal a todas as geografias, não podemos fazer coisas locais, temos de ter uma ambição global".
Já Manuel Lopes da Costa, da HP, destacou a importância das redes de comunicação estarem cada vez mais ao serviço das PME, desenvolvendo soluções à medida". Até porque estas representam 90% do tecido empresariam português. "Se não conseguirmos chegar a estas empresas com a tecnologia e mostrar-lhes o seu valor, a economia portuguesa não arranca", adverte.
Depois do mercado ter investido fortemente em infraestruturas, onde "não há espaço para empresas de pequena dimensão", porque se trata de um negócio global e de forte exigência financeira, é chegada a hora de potenciar as redes. E aqui, para Carlos Duarte, da Portugal Telecom, "há espaço para a inovação e para as PME desenvolverem atividades, mas apenas em segmentos de nicho". Reiterando a posição da PT de que "as redes hoje são diferenciadoras e são um instrumento de atuação no mercado. Por isso, a partilha de infraestruturas não faz sentido", admite que há áreas "onde é obrigatório um alinhamento e o trabalho em comum", citando o exemplo dos standards.
Como cliente das TIC, Rui Dinis, da José de Mello Saúde, não tem dúvidas de que "o sector da saúde é um dos que mais pode beneficiar com as digital cities como alavanca crítica para responder aos desafios que a Saúde enfrenta: maior eficiência, menos custos e maior qualidade dos serviços". Já há muitos exemplos a vários níveis dos benefícios da utilização das tecnologias mas há que "avançar mais rápido e agarrar todas as potencialidades que podem ser capturadas". E para isso, tem que existir um alinhamento maior entre quem oferece o serviço e quem o consome", com soluções partilhadas por todos, que tenham massa critica e acrescentam valor.
E no processo de criação de smart cities, José Galamba de Oliveira, da Accenture, entende que o Governo tem um papel importante na definição da estratégia, assim como na respetiva regulação e legislação. E se o Estado, enquanto utilizador das tecnologias, tem feito muito, continuam a subsistir silos muito grandes na AP. Quando aposta deveria ser na criação de uma rede única com todos os serviços.
"Learn": o desafio das escolas
A utilização das TIC na educação e formação é uma realidade. Crescem os exemplos de soluções de e-learning, de salas de aula cada vez mais digitais e prontas a responder às mudanças de paradigma. Margarida Nunes, do ISQ e-Learning, representa exatamente um exemplo do desenvolvimento de soluções de formação à distância desenhadas de acordo com as necessidades de empresas e organizações, onde as TIC assumem um papel crítico, promovendo a interação e a promoção de procura de conhecimento. Mas se há boas práticas e muitos exemplos, falta ainda muito para fazer no sentido de generalizar este tipo de ofertas, cruciais para gerações cada vez mais digitais e em rede.
A Universidade Nova de Lisboa é outro exemplo de aposta no e-learning em várias áreas, como destacou Carlos Pires Correia. Este processo de digitalização da informação que se vai transformar em conhecimento está a gerar um verdadeiro "tsunami" nas universidades, nomeadamente com casos como o das grandes universidades norte-americanas, que querem conquistar o mundo através do e-learning, oferecendo formação à distância e registando uma adesão enorme. Isto numa fase em que os professores "foram enganados pela própria evolução tecnológica, que foi muito mais rápida que o previsto".
Também Jorge Pedreira, da UnYLeYa, considera que "em Portugal, ainda não demos conta da importância da mudança e do papel fundamental do e-learning no processo de aprendizagem. Acresce que subsiste por parte dos profissionais de educação uma grande resistência e desconfiança a esta profunda mudança e até mesmo concorrência dos meios digitais. E não tem dúvidas de que "as escolas têm de mudar de paradigma e colocar a utilização dos meios digitais no centro do processo de ensino e de aprendizagem". E criar mecanismos de cooperação e de colaboração com o mundo empresarial, para se encontrarem as melhores soluções.
Uma visão partilhada por José Santos, da Promethean. Muitos meios tecnológicos já disponíveis, poucas mudanças ou nenhumas na organização da escola, muitos professores completamente reticentes em relação às novas formas de ensino digitais. Se o que se pretende com o e-Learning são soluções globais e integradas que tenham repercussões na aprendizagem e num ensino diferenciado, há que mudar a concepção de escola e "usar todas as ferramentas disponíveis para construir conhecimento".
"Work": produtividade e competências
Também para o mundo empresarial, as TIC já são críticas e estruturantes. Como deixou bem claro Conceição Menezes, da Logoplaste. Esta empresa industrial internacionalizou-se graças à forte aposta nas TIC e em soluções " eficientes, flexíveis, simples e cost effective". Que permitem uma deslocalização das unidades de produção do grupo para junto dos seus clientes em todo o mundo e, ao mesmo tempo, um total controlo e centralização de todas as operações através da plataforma de comunicações e de TI. E nesta aposta, não tem dúvidas de que a crescente largura de banda, com as redes de alta velocidade, é essencial.
Na área da investigação, as TIC assumem da mesma forma um papel crítico. São fundamentais na troca de dados e cooperação entre investigadores, num cenário em que cada vez mais pequenos grupos produzem enormes quantidades de dados, diz José Cruz , da Fundação Champalimaud. Este responsável defende que "temos de começar a produzir tecnologia, conhecimento e soluções em Portugal que possam ser fator de retenção de talento" e cooperar mais para que se criem "iniciativas que levem o conhecimento tecnológico e a investigação a novos patamares".
Manuel Ramalho Eanes, da Optimus, não tem dúvidas de que estamos a passar de um mundo local para uma infraestrutura global, por via do aumento da capacidade das redes de comunicações. Com integração completa de infraestruturas e de soluções. Onde, "o papel do operador é o de arquiteto, com parceiros com competências certas para resolver os problemas dos clientes", as empresas, que se podem concentrar no seu negócio core e deixar as redes nas mãos dos operadores e dos seus parceiros. E ressalta que que é preciso agora aproveitar todo o potencial das redes de alta velocidade, depois dos investimentos na sua construção.
"Há uma relação direta entre o crescimento do PIB e a utilização das TIC. Permitem aumento da produtividade e redução de custos", refere Nuno Carvalho, da Cisco. Para quem o sector vai continuar a crescer exponencialmente, graças a uma procura cada vez maior de vídeo e de mobilidade, que precisam de crescentes larguras de banda. E considera que esta indústria tem como grandes drivers a cloud, a segurança e a mobilidade.
Centrando-se na importância crescente da mobilidade no segmento empresarial, Paulo Carvalho, da SAP, defende que a cadeia de valor mudou "O desafio é ter ofertas personalizadas sem perder valor. Ter um negócio sem fronteiras e em tempo real", diz. E há muito mercado, uma vez que "a eficiência das empresas portuguesas não está comprovada. Há muitas empresas que necessitam de tornar-se mais eficientes e isso não implica apenas redução de custos. É tirar partido do que está disponível em termos de tecnologia". E "trazer o negócio para qualquer plataforma criará novas oportunidades de negócio", garante.
"Home": ecossistema multiplataforma
E Portugal tem todas as razões para se orgulhar das suas redes de alta velocidade, já que permitiram disponibilizar uma infraestrutura avançada graças ao investimento dos operadores. Para Adriano Neves, da Zon, as TIC estão cada vez mais generalizadas e massificadas, como o mostra a crescente banalização dos smartphones e dos tablets entre os consumidores. Agora, é preciso criar ofertas inovadoras e fornecer funcionalidades para reforçar a utilização das redes. Nomeadamente com ofertas personalizadas, uma vez que os operadores sabem o perfil de consumo de comunicações dos seus clientes.
Também Paulo Barreto, da Google Portugal, que se assume como "fornecedor de conteúdos" que aproveita "as redes que estão disponíveis", destaca que se está a passar dos desktops para os tablets e smartphones, tendo os equipamentos móveis inteligentes introduzido mais uma variável de segmentação. E não tem dúvidas de que "conseguimos entrar num nível de sofisticação que seria impensável sem as redes de alta velocidade" . E afasta a ideia de que empresas de internet, as denominadas OTT, se aproveitam das redes para ganharem dinheiro sem pagar aos operadores. "O que existe é um ciclo virtuoso onde todos ganham. Os fornecedores de redes recebem pelos pacotes que oferecem".
Para Pedro Afonso, da Novabase, a grande killer application para as redes de alta velocidade é o vídeo. Com conteúdos que têm de estar presentes em todos os ecrãs que as pessoas usam. E tendo estas infraestruturas serviços já em desenvolvimento, "temos agora de pensar como podemos exportá-los".
Para um produtor de conteúdos cada vez mais multiplataforma, a aposta tem que ser cada vez mais no móvel. E em aproveitar as redes de alta velocidade para proporcionar novas experiências. Para Rudolf Gruner, da Media Capital, "Cerca de 15% do consumo de algumas das nossas marcas é feito já através de plataformas móveis. Há um ano era quase nulo". Os grupos de conteúdos têm de apostar em perceber a dinâmica dos consumidores para adaptar os produtos às suas necessidades e tipos de utilização. E será "no enriquecimento dos conteúdos que está a criação de valor para o consumidor. Criando novas experiências mais interativas". Com o pressuposto de que "a velocidade de transmissão de informação ao consumidor é hoje determinante do sucesso dos prestadores de conteúdos"