O potencial de utilização das tecnologias do metaverso no trabalho remoto é grande, particularmente para algumas áreas como o onbording ou a formação. Mas o processo ainda só está a começar e o caminho é desafiante. Há casos pontuais de utilização, em complemento das estratégias das organizações, que ainda estão no seu processo de transformação digital. Ter um propósito é a palava-chave, numa equação em que as pessoas e a cultura empresarial têm de ser centrais. A chegada das novas gerações ao mercado de trabalho é vista como um fator de aceleração das soluções imersivas para o trabalho remoto, como ficou claro no 2º webinar da iniciativa Metopia, uma parceria entre a APDC e a XRSI Europe, sobre "Trabalho Remoto no Metaverso".
Apesar da inteligência artificial estar a tomar conta de tudo, o metaverso continua a fazer o seu caminho. Sendo um ‘chapéu' para as experiências imersivas totais, engloba tecnologias como a realidade virtual, a realidade aumentada e a realidade mista e já está a ser usado em várias indústrias, com um retorno claro em termos poupanças de tempo, desperdício e custos. Mas há também barreiras ao investimento, que será necessário ultrapassar para retirar todos os benefícios deste novo mundo virtual. A mensagem é de Alina Kadlubsky, especialista em XR e managing Director of Open AR Cloud Europe e keynote speaker deste webinar.
Para a responsável, persistem algumas grandes barreiras ao investimento, a começar pela falta de conhecimento e o treino insuficiente nestas tecnologias, os custos proibitivos de hardware e software. Ou ainda o desafio de integração de processos e o tema da privacidade e segurança. Mas alerta que as empresas não podem adiar esta aposta, porque correm o risco de ficar para trás face a outros concorrentes que já começaram a apostar em soluções assentes no metaverso. Têm é que saber para onde querem ir.
E destaca dados que permitem ver que cerca de metade dos utilizadores do metaverso já poupam em materiais e recursos, 48% poupam tempo nos processos de produção e 45% registam poupanças de custos. O que permite ver já as vantagens da sua utilização em termos humanos, organizacionais e fundamentais. Trata-se de uma verdadeira "convergência de tecnologias", uma combinação vencedora usada já por gigantes como a BMW que, em parceria com a NVidia aposta no trabalho remoto em colaboração e nos digital twins na linha de produção. Ou o treino dos profissionais de saúde. Ou ainda nos vários exemplos na logística.
MUITAS VANTAGENS, MUITOS DESAFIOS
Um dos setores que também pode aproveitar todas as oportunidades do metaverso é o do turismo. Mafalda Ricca, Founder & CEO da X-Plora, garante que há "muitíssimas vantagens, que são cada vez mais evidentes", mas também desafios, que resultam da pouca informação e experiência nesta matéria ou dos altos preços dos próprios devices, que "tornam a massificação destas tecnologias mais desafiadoras". O que acaba por atrasar "a massificação e adoção destas tecnologias, embora exista de facto uma vantagem indiscutível na sua adoção".
Nuno Ferro, Brand Leader da Experis Portugal, diz mesmo que falar de metaverso tem ainda "algum sabor de aventura futurista", tendo em conta a situação atual do mercado relativamente a esta tecnologia e as barreiras identificadas. "Conseguimos perceber que o tecido empresarial está num processo de transformação muito rápido, mas há muitas organizações diferentes, em estados de maturidade diferentes".
Uma ideia corroborada por Eduardo Barroso Silva, Senior Manager do ecossistema de Startups e Scaleups da PwC Portugal. Tendo em conta a sua experiência, destaca que há já soluções de utilização deste tipo de tecnologia que fazem todo o sentido, como a criação de digital twins aplicados a algumas indústrias, como o imobiliário. Ou na área do treino e formação de pessoas, nomeadamente na saúde. Ou na indústria, "melhorar a componente humana e reduzir o erro humano. É algo que vejo como o futuro da indústria, num salto para as digital plants com realidade aumentada".
Sendo a "promessa que nos é apresentada pelo metaverso evidente", Nuno Ferro, abre possibilidades grandes para as áreas do recrutamento e da gestão de pessoas. Como criar experiências de trabalho e formação mais realistas e envolventes, benéficas para candidatos e empresas. "Passaremos a ter a capacidade de realizar entrevistas e dinâmicas virtuais imersivas, em ambientes tridimensionais, onde os candidatos podem demonstrar capacidades em situações próximas do ambiente de trabalho real", destaca, possibilitando uma avaliação mais prática e dinâmica e avaliar competências que até agora não era possível. Destaca ainda a criação de experiências de onboarding imersivas, o que é importante para empresas com equipas dispersas, onde a perceção de cultura e o senso de pertença pode ser difícil de replicar no formato remoto tradicional. Mas deixa claro que "ainda não estamos lá".
Uma clara constatação de todos os participantes neste debate, moderado por Sandra Fazenda Almeida, Diretora Executiva da APDC, é que os profissionais querem, cada vez mais trabalhar remotamente e fazer tudo à distância. Sobretudo na área tecnológica. "Dentro do universo de organizações, indústrias e funções que possibilitam o trabalho remoto, esta flexibilidade para compatibilização das responsabilidades profissionais e da vida pessoal, é altamente valorizada", destaca Nuno Ferro.
De tal forma que, para Mafalda Ricca, se deu "uma transferência de poder do recrutador para o recrutado", abrindo-se todo um leque de oportunidades para se poder trabalhar em qualquer parte do mundo. Mas estando a sua empresa a desenvolver soluções com tecnologias imersivas, diz os clientes ainda só pedem metaverso para eventos pontuais, em complemento ao avento físico, ou para lançamentos de produtos. "Ainda não estamos a desenvolver use cases de metaverso nesta lógica de promover uma interação, um melhor ambiente de trabalho e um espaço de trabalho virtual para as empresas", diz.
PONTO CHAVE: FLEXIBILIDADE
"Flexibilidade é a palavra-chave" em termos de oferta de formas de trabalho pelas empresas, considera Eduardo Barroso. Neste âmbito, acredita que "a criação de espaços virtuais no metaverso vem completar esta equação de oferecer diferentes meios para as pessoas estarem a trabalhar", mas, para já são apenas experiências, que não vêm substituir, pelo menos para já, aquilo que são as interações de trabalho. Mas à medida que as tecnologias evoluem, elas vão aproximando as pessoas. Mas é um salto muito grande passar disto para um espaço 100% digital, onde as pessoas interagem".
O responsável da Experis, tendo em conta a experiência da empresa, diz que "tem existido nos últimos anos uma transferência clara do poder na contratação. Hoje, a atividade de recrutamento especializado é totalmente candidate centric". Acresce que "os candidatos estão cada vez mais disponíveis para estarem envolvidos em processos de recrutamento que têm fases de automação. Entendem que a tecnologia pode proporcionar uma aceleração do processo, estão disponíveis para utilizar o metaverso para formação e coaching, mas há muita resistência ainda a assumir que a decisão de contratação possa ser feita de forma automática".
Do lado das empresas, e apesar da tecnologia, "nunca como hoje afirmaram ter tanta dificuldade para contratar". O que estará a afetar cerca de 85% das organizações com as quais o grupo fala trimestralmente. Sobre a os benefícios do trabalho remoto e do metaverso, na sua perspetiva a melhor solução aponta para a flexibilidade. Sendo que os ganhos de produtividade dependem de cada tipo de atividade, como o comprovam os vários estudos que vão sendo divulgados.
O caso da X-plora, com equipas dispersas e em trabalho remoto, o tema é desafiante. "É
claramente muito difícil conseguir uma aproximação, sobretudo às equipas internacionais. Sem dúvida que estas ferramentas podem ajudar, mas ainda não as uso, porque faltam algumas ferramentas que tornem a interação mais interessante e que deem um propósito. Ir a um metaverso e estar com os colaboradores e interagir sim, mas e depois? Faltam ferramentas que deem mais engagement e novos ambientes virtuais".
Eduardo Barroso concorda que "o propósito é tudo. Havendo um motivo para que as equipas e as pessoas se juntem num contexto virtual para fazer alguma coisa, desde que não seja já feita pelas ferramentas de colaboração à distância que já existem. Continuo a achar que criar ou trabalhar relações à distância é um desafio, não acho que neste momento a tecnologia esteja num ponto em que faça com que isso aconteça de uma forma fácil. A relação que se estabelece num contacto presencial está ainda muito longe do que se consegue no mundo virtual".
Ter um mundo mais conectado e um mix de culturas nas organizações é, para Nuno Ferro, "altamente enriquecedor". O caminho passa por utilizar boas práticas, com uma comunicação clara e frequente e rotinas estabelecidas, definição de objetivos e KPIs claros de atuação. Mas admite que existe "um desconforto que as organizações sentem em ter as suas equipas, ou parte delas, fora do seu espaço de trabalho. Não só por questões de cultura, mas de desempenho e de controle de desempenho". Para o gestor, o foco tem de ser mais na confiança e menos no controlo.
Sendo que "nesta nova era da confiança, o papel da definição de objetivos é fundamental. As pessoas têm de perceber o que está a ser avaliado no seu trabalho. Obviamente para temáticas de cultura, as organizações têm aqui um desafio extra, por não terem sempre as pessoas por perto". Salienta ainda a relevância da formação e do desenvolvimento contínuo, até tendo em conta a escassez de profissionais no mercado de trabalho. "Concordo em pleno com a temática do propósito. É fundamental nas organizações modernas e também se vê aqui, mas na forma como encaram o desenvolvimento das suas próprias equipas".
Como mensagem final, o responsável da Accenture destaca que as tecnologias do metaverso têm um "potencial tremendo nas mais diferentes áreas". E em várias óticas: da redução de custos ao brand awareness, passando pela relevância das organizações em termos de adoção de novas tecnologias. Sempre com um propósito. "E estar atento ao que é que as novas gerações estão à espera, o que encaram como o normal no mercado. Não podemos ficar presos àquilo que achamos que sempre foi feito", remata.
E "o futuro é desafiante", acrescenta Mafalda Ricca, seja para empresas como a X-plora, que desenvolve este tipo de tecnologias, a quem" será exigida cada vez mais criatividade para colmatar necessidades e lacunas que existem no mercado", nomeadamente no trabalho remoto, seja "em relação a outras áreas do metaverso e da realidade virtual e aumentada. Mas temos um futuro pela frente muito entusiasmante, onde, de facto, estas tecnologias vão representar um papel muito importante. Temos de as saber usar, procurar o propósito e recorrer a elas cada vez mais e de forma mais otimizada".
Esta mudança é também muito geracional. Nuno Ferro diz que "as novas gerações já vêm imersas no mundo digital e vão olhar para as dúvidas do mercado com muito mais pragmatismo". Mas "a maioria das organizações ainda se encontra num processo de transformação digital. Sendo a tecnologia é um aspeto fundamental, a sua utilização plena requer não só a adaptação tecnológica, mas também uma adaptação cultural e das pessoas". Por isso não tem dúvidas: "temos que ter as pessoas e a cultura no centro desta equação, porque são chave para o sucesso de transformação do mercado de trabalho".
Em parceria com a XRSI Europe, a APDC está a organizar um ciclo de webinars com o objetivo de promover um metaverso mais seguro, inclusivo, democrático e baseado nos direitos humanos. O XRSI Europe reúne líderes, especialistas e visionários, para ajudar a construir experiências seguras e inclusivas usando tecnologias emergentes, com foco na sociedade europeia, no ecossistema de inovação e na rede de stakeholders.
PROGRAM
09h30 | WELCOME SESSION | |
Sandra Fazenda Almeida - Diretora Executiva, APDC | ||
09h35 | REMOTE WORK IN THE METAVERSE | |
Alina Kadlubsky Alina specializes in spatial computing and XR research, leveraging the creation of a human-centered future in computing while contributing to publications and standards. 2020 Alina set up and has been leading the EU activities of Open AR Cloud Europe gUG as managing director through EU-funded research projects like NGI Atlantic and the recent Horizon Europe-funded project XR4Human, where she is leading the interoperability Work Package. Apresentação XRSI - Europe | ||
10h00 | DEBATE | |
Eduardo Barroso Silva - Senior Manager do ecossistema de Startups e Scaleups, PwC Portugal Mafalda Ricca - Founder & CEO, X-Plora Nuno Ferro - Brand Leader, Experis Portugal Moderator: Sandra Fazenda Almeida - Diretora Executiva, APDC | ||
11h00 | CLOSING |
ORADORES
Realiza-se a 29 de janeiro, no Porto Business School