Os ambientes totalmente imersivos são cada vez mais uma realidade, com a aceleração tecnológica a que assistimos. Mas ainda estamos no início do processo, até porque quem investe no metaverso continua à procura do modelo de negócio certo para monetizar esta aposta. Certo é que as soluções têm sempre de assentar numa realidade mista e garantir experiências diferenciadoras e interativas, para que os clientes sintam que ‘fazem parte do jogo'. Aqui, a IA poderá fazer verdadeiramente a diferença. No mercado nacional, há já nichos de sucesso, que comprovam que é possível, desde que haja criatividade e inovação.
Estas foram algumas das ideias que ficaram do 3º webinar do ciclo Metopia, uma parceria da APDC com a XRSI Europe, para debater as "Vendas Responsáveis no Metaverso". E o que é que está a acontecer hoje, em termos de experiências imersivas proporcionadas pelas marcas? Cada vez mais, estas apostam e querem envolver-se com as novas gerações, com uma experiência de imersão a 360º, porque são estas que vão deter o poder de compra. E porque a tecnologia está a expandir o seu potencial".
De acordo com o keynote speaker, Francesco Pagano, senior partner da consultora JAKALA e um especialista nesta área, tendo em conta que os contextos totalmente imersivos começam a ser uma realidade, será a utilização das ferramentas de IA que permitirá dar "superpoderes" aos utilizadores do metaverso, num mix entre hardware e software que proporcionará experiências totalmente imersivas e sensoriais, com múltiplos conteúdos e estímulos.
Perante este potencial, diz que o objetivo de qualquer marca e empresa "continua a ser o mesmo: ser diferenciadora", agora num novo mundo. "Trata-se de criar encontros que nos prendam completamente, captando a nossa atenção e fazendo-nos sentir que fazemos verdadeiramente parte de algo". É que os clientes das marcas, sobretudo as novas gerações, querem "ter uma palavra a dizer". Não se trata apenas de ver e descobrir, mas sobretudo de "fazer parte do jogo e interagir com o ambiente em que estão a ser imersos. E isso é fundamental".
Interação é agora o ‘nome do jogo' quando de fala de metaverso, mas há ainda um longo caminho a percorrer. "Ainda não resolvemos o problema de uma experiência totalmente comunitária no metaverso, como a que temos em ambientes físicos", refere, até tendo em conta que as experiências imersivas atuais se centram basicamente no gaming, um mercadoa ainda de nicho à procura da rentabilidade.
O DESAFIO DE CRIAR UM NEGÓCIO
Entre os enablers deste mercado, estão por exemplo os óculos de realidade virtual, que permitem alcançar a denominada realidade mista, uma mistura entre o físico e o digital, que já acumula casos de sucesso por exemplo na formação. O metaverso e o blockchain, assim como os dados de geolocalização são também exemplos. Mas para Francesco Pagano será o advento da inteligência artificial que permitirá, com a presença dos agentes, criar verdadeiras experiências e com interações individualizadas em ambientes imersivos.
O problema é que nada disto ainda é um negócio, alerta o orador, apesar de criar um envolvimento muito maior. É preciso encontrar um modelo de negócio inovador, que permita a monetização destas soluções. "Nas redes sociais, o caminho foi a publicidade. Precisamos de estratégias de negócio que sejam adaptáveis e levem o tradicional marketing para este novo mundo do metaverso", salienta.
As marcas têm no metaverso uma oportunidade sem precedentes para encontrar novas formas de rentabilização, além das tradicionais receitas, como as subscrições. Mas serão necessárias novas abordagens para este ambiente imersivo e flexível. Há plataformas que disponibilizam conteúdos próprios e experiências, enquanto outras usam o metaverso para diversificar as marcas, os franchises ou os conteúdos de media, como vídeo, música e gaming.
Trata-se ainda de desenvolver uma nova forma de comércio eletrónico, com o orador a exemplificar com o caso da Adidas. Além da loja física, a marca dá ao cliente a possibilidade de digitalmente personalizar o calçado que pretende, enviando depois o modelo para produção. Mas salienta que "a experiência física continuará a existir, exatamente como a televisão continua a existir, apesar de as redes sociais se terem tornado a ferramenta número um para descobrir e conhecer coisas".
Por isso, um dos caminhos poderá ser colocar uma camada digital em cima dos eventos físicos, como se fez no League of Legends ou, mais recentemente, no Australia Open. Aqui, graças à IA, o evento foi transmitido em direto num espaço digital, enquanto decorria o jogo físico. Só que no primeiro caso foi possível interagir e descobrir factos, usando um gémeo digital.
Francesco Pagano deixa claro que "as experiências imersivas são experiências humanas. E, especialmente no caso das novas gerações, vão criar memórias individuais e, sobretudo, partilhadas. Mas há ainda que resolver o tema de como criar uma experiência digital comum".
Para já, estas experiências imersivas digitais são verdadeiras ferramentas de marketing, criando envolvimento e intensificando o envolvimento nas comunidades das marcas. Mas "ainda não são um modelo de negócio. Para que isto se torne um mercado rentável, é necessário conseguir baixar o custo de produção". Neste âmbito, a "IA vai ajudar a tornar esta área sustentável, escalável, interativa e individualizada, especialmente com o advento dos agentes de IA". Monetização e a recolha de dados serão fundamentais. "Não se trata apenas de dar poder e envolver as pessoas, mas também de as compreender e captar dados sobre elas e pagá-las. Assim, os superfãs vão querer ajudar as marcas, deste que sejam remunerados por isso".
DO ENORME POTENCIAL À REALIDADE
No mercado nacional, já há projetos de sucesso neste âmbito. Como a Infinite Foundry, startup que desenvolveu uma tecnologia de digitalização 3D para aumentar a eficiência das unidades fabris e que já tem clientes como a Mercedes-Benz, Volkswagen, General Motors e Agência Espacial Europeia. Ou a Hubduction, que tira partido do potencial da mixed reality para transformar momentos comuns, como visitas a museus, vendas ou workshops educacionais, em experiências únicas, utilizando diversas soluções tecnológicas, como realidade aumentada, vídeo e fotografia 360º vídeo, video mapping ou simuladores 3D.
Rita Magalhães, Data and Sustainability Research Scientist da Infinite Foundry, acredita que há um enorme potencial nas experiências imersivas e na realidade mista. Tal como João Neto, VR & AR Specialist da Hubduction, que garante que o metaverso não é apenas uma moda, mas uma área que, pelas suas funcionalidades, será cada vez mais utilizado pelas empresas, os seus clientes e a sociedade em geral. Não substituirá o mundo físico, mas acrescentar-lhe-á valor.
Para o responsável da Hubduction, o importante é o que se faz com o digital e a realidade estendida. No caso do projeto, que trabalha na área do cultural, turismo e hotelaria, o objetivo é fornecer experiências virtuais, seja para complementar e reforçar experiências reais, seja para conhecer locais ou para tomar decisões informadas. "O que queremos é proporcionar uma experiência excecional, que permita escolher bem e mais depressa".
Já no caso da Infinite Foundry, a solução assenta em gémeos digitais, que acabam por ser uma cópia da realidade, uma ligação efetiva em 3D aos dados de uma empresa. Com a solução, Rita Magalhães diz que é possível aos clientes "personalizar os seus produtos, acompanhar em tempo real a produção em si e a sua integração no mundo físico. Já as indústrias podem, nas suas linhas de produção, testar novos produtos, novas disposições para a fábrica e novas metodologias de forma instantânea. Esta ligação no mundo digital torna o processo no mundo real mais eficiente e racionalizado".
Assim, a oradora acredita que, com o tempo, "a produção personalizada será mais importante que a produção em massa. O que vai ligar mais os clientes, porque é criada uma transparência total. Uma vez que os gémeos digitais se baseiam em dados em tempo real, isso permite saber exatamente que materiais estão a ser usados, de onde vêm, quem os vai fabricar.... Há uma ligação direta à produção real. Já as empresas podem fazer lançamentos experimentais no metaverso, sempre com ligação ao mundo real".
Mas como é que os ambientes virtuais podem ser concebidos para captar a essência da cultura e das experiências turísticas, tornando-as mais envolventes e significativas para os utilizadores? João Neto deixa claro que o objetivo não é substituir a experiência de ir a determinado lugar, mas sim proporcionar uma melhor experiência ou reforçá-la com detalhes. "Numa visita a um museu, podemos criar uma aplicação com um avatar que fale com o utilizador, lhe conte a história dos reis e rainhas ou do que está numa parece. Transforma a experiência e torna-a mais interessante". Há ainda a perspetiva de proporcionar experiências a quem não se pode deslocar a um determinado local. No fundo, "trata-se de saber como resolver um problema da forma certa".
E as experiências que vão ficar para sempre. "Daqui a 50 anos, não sabemos como será o mundo. Mas se trabalharmos bem, teremos uma biblioteca de experiências que podemos partilhar. Um dia, a tecnologia evoluirá para o tato e os cheiros. Está tudo ao virar da esquina", antecipa este responsável. Tudo se resume à "evolução. Estamos felizes por fazer parte dela e por pensar em como a podemos tornar mais acessível para todos".
Também a Infinite Foundry está a construir esta evolução, com "uma visão de futuro" que passa pela aposta no "direct to customer e nesta ligação entre a fábrica e o cliente. Algumas das empresas e indústrias em que implementámos as nossas soluções, utilizam estas plataformas para conceber e testar novos produtos e para otimizar a produção. Principalmente no setor automóvel", explica Rita Magalhães. Que adianta que com o reforço da personalização e o planeamento da produção garante maior sustentabilidade e otimização, evitando o desperdício e a perda de tempo. Em paralelo, permite aumentar a resiliência da cadeia de valor, reduzindo-se a pegada de carbono.
Tema de debate foi também o domínio das grandes tecnológicas. Francesco Pagano tem "sentimentos contraditórios sobre o tema", mas salienta que big techs como a Meta estão a monetizar com vantagem todos os dados que capturam. Por isso, defende a regulação e a tecnologia que permita aos utilizadores saber para onde vão os seus dados: "É um mundo onde a concentração de informação é perigosa, pelo que estou realmente preocupado".
João Neto não tem dúvidas: "Estamos sempre nas mãos das grandes corporações. E isso é dificil para empresas como a nossa, pois trabalhamos com tecnologia, vendemos soluções aos nossos clientes e não podemos garantir que as coisas não possam mudar, se algum gigante o decidir. De repente, porque uma área não é lucrativa, mudam a estratégia". Por isso, há que ter capacidade de adaptação.
E já se consegue fazer dinheiro no metaverso, se existir ligação ao mundo real e desde que se crie valor e se resolvam problemas reais, com soluções que são efetivamente necessárias e desejadas, garante Rita Magalhães. Mas, como remata Francesco Pagano, "só com a criação de valor social que possa ser partilhado é que se conseguirá alcançar o sucesso no metaverso, garantindo a sustentabilidade dos ambientes digitais. É essa a minha esperança".
PROGRAM
09:30 | WELCOME SESSION | |
Sandra Fazenda Almeida - Executive Director, APDC | ||
09:35 | RESPONSIBLE SALES IN THE METAVERSE | |
Francesco Pagano - Senior Partner, JAKALA; Author on the topics of web3, digital marketing, luxury and business innovation | ||
10:00 | DISCUSSION | |
João Neto - VR & AR Specialist, Hubduction Moderator: | ||
10:45 | CLOSING |
Formação presencial volta a centrar-se no tema ‘Aumente a sua produtividade com IA'
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