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11.04
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DOT TOPICS APDC | COM CAPGEMINI

Smart Grids: Da rede tradicional à rede inteligente

A transição energética global impulsiona uma profunda transformação na forma como geramos, distribuímos e consumimos eletricidade. No centro desta mudança, as Smart Grids emergem como a espinha dorsal de um futuro energético mais eficiente, seguro e sustentável. O mais recente DOT TOPICS da APDC, em parceria com a Capgemini, dedicou uma conversa crucial a esta temática, reunindo especialistas para explorar a evolução da tradicional rede elétrica para um modelo inteligente.

A conversa contou com a perspetiva de Inês Pacheco, Head of Pre-Sales da Capgemini Engineering, Ricardo Pastor, Investigador Sénior do Centro de Investigação da REN (R&D Nester), e Paulo Líbano Monteiro, Diretor de Inovação e Tecnologia da E-Redes, que partilharam as suas visões e conhecimentos sobre os desafios e oportunidades das Smart Grids em Portugal.

Das Redes Unidirecionais à Comunicação Bilateral
Inês Pacheco abriu a discussão contextualizando as limitações das redes tradicionais, concebidas para atender a uma procura de energia previsível e com um fluxo de comunicação unidirecional, do produtor ao consumidor. Contudo, o cenário energético atual, marcado pela crescente integração de fontes de energia renovável e pela eletrificação de setores como a mobilidade e o aquecimento, impôs uma nova dinâmica. Esta evolução gerou uma pressão significativa sobre as infraestruturas existentes e estabeleceu a necessidade de uma comunicação bidirecional entre consumidores e a rede.

Foi neste contexto que o conceito de Smart Grids ganhou relevância. Inês Pacheco explicou que estas redes inteligentes utilizam tecnologia de ponta para monitorizar e ajustar o fluxo de energia em tempo real, otimizando a correspondência entre a oferta e a procura. A especialista da Capgemini Engineering destacou três pilares tecnológicos cruciais nesta transição:

• Infraestrutura de Medição Avançada (AMI): Essencial para estabelecer a comunicação e a troca de dados bidirecional, sendo os smart meters o exemplo mais emblemático. Tecnologias de conectividade como o 5G, NBA, 4G e 3G desempenham um papel vital nesta camada de comunicação.
• Cloudificação: A virtualização traz maior poder computacional para as subestações, permitindo o processamento e análise de dados mais perto da fonte.
• Inteligência Artificial (IA): Ferramenta poderosa para otimizar a gestão da rede, abrangendo áreas como a manutenção preditiva, a inspeção de infraestruturas através de visão computacional e o planeamento eficiente da capacidade da rede com base em previsões de consumo.

Avanços Tecnológicos para Estabilidade e Eficiência
Ricardo Pastor, do Centro de Investigação da REN, focou a sua intervenção nos avanços tecnológicos que visam aumentar a eficiência e a estabilidade das Smart Grids face à inerente variabilidade da produção de energia renovável. Sublinhou que as atuais redes inteligentes dispõem de tecnologias mais eficazes e com maior capacidade de processamento, abrindo caminho para o desenvolvimento de sistemas que exploram a flexibilidade do sistema elétrico.

Um dos aspetos destacados por Pastor foi a crescente capacidade das redes em integrar um vasto número de sensores distribuídos, possibilitando a recolha de informação em tempo real e de forma abrangente. Esta riqueza de dados alimenta a automação de tarefas e o desenvolvimento de ferramentas inteligentes baseadas em IA para apoiar a tomada de decisões mais informadas e ágeis.

No que respeita ao posicionamento de Portugal na área de investigação e desenvolvimento de Smart Grids, Ricardo Pastor manifestou otimismo, referindo a participação ativa do país em projetos europeus em consórcio com universidades, operadores e a indústria. As smart substations foram apontadas como um tema central nestes esforços. O investigador mencionou o já em curso roll-out de smart meters em Portugal e o desenvolvimento de subestações inteligentes com capacidade de comunicação integrada e estandardizada. Adicionalmente, foram referidos projetos piloto com parceiros nacionais para desenvolver sistemas de gestão energética e agregar flexibilidade, inclusive no âmbito das comunidades energéticas.

Ricardo Pastor enfatizou o papel crucial da standardização para alcançar economias de escala e garantir a interoperabilidade entre diferentes sistemas e tecnologias, facilitando a implementação das Smart Grids. Contudo, alertou para o risco de uma standardização excessiva poder constituir uma barreira à inovação. A regulamentação foi igualmente identificada como um fator fundamental, devendo ser atualizada para não excluir o desenvolvimento e a adoção de novas tecnologias.

Inovação e Desafios na Implementação das Smart Grids
Paulo Líbano Monteiro, da E-Redes, detalhou as inovações implementadas para tornar a rede elétrica portuguesa mais inteligente e eficiente, destacando um aumento significativo no investimento nas redes de distribuição e transporte. A digitalização da rede, através da sensorização e monitorização extensivas, da capacidade de controlo remoto de um número crescente de pontos da rede e da automatização de decisões e reconfigurações, foram pontos centrais da sua apresentação. Monteiro referiu a vasta rede de comunicações estabelecida em Portugal com a implementação dos smart meters.

Um dos principais focos da E-Redes, segundo o seu Diretor de Inovação e Tecnologia, é a capacidade de dar uma resposta mais rápida à ligação de novas fontes de produção renovável, postos de carregamento para veículos elétricos e unidades de autoconsumo. Adicionalmente, apontou a necessidade contínua de substituir componentes envelhecidos da rede, como transformadores, por equipamentos mais modernos e eficientes.

Paulo Líbano Monteiro sublinhou a crescente importância de ferramentas e sistemas capazes de analisar a vasta quantidade de informação gerada pela rede para apoiar a tomada de melhores decisões operacionais e de planeamento. O aumento da resiliência da rede face a eventos climáticos extremos e a sustentabilidade dos componentes utilizados, exemplificando com a utilização de óleos vegetais em transformadores, foram também mencionados como prioridades.

O responsável da E-Redes abordou ainda os desafios que surgem após a fase inicial de implementação dos smart meters, como a necessidade de extrair o máximo valor dos dados recolhidos para melhorar o controlo da qualidade da energia, detetar perdas e fraudes e
reforçar a proteção da rede. No que diz respeito ao impacto das Smart Grids nos consumidores, Paulo Líbano Monteiro destacou o acesso a mais informação, permitindo decisões de consumo mais conscientes e um papel mais ativo na oferta de flexibilidade ao sistema. A E-Redes demonstra uma preocupação em partilhar dados relevantes com a sociedade através da sua plataforma Open Data, incentivando o desenvolvimento de novas soluções e serviços.

Rumo a um Futuro Energético Inteligente e Sustentável
Em suma, o debate no DOT TOPICS APDC, em parceria com a Capgemini, evidenciou que as Smart Grids representam uma transformação profunda na gestão e no consumo de energia, abrangendo desde a digitalização da infraestrutura até à integração massiva de energias renováveis e ao envolvimento ativo dos consumidores no sistema elétrico.

Apesar dos desafios inerentes a uma mudança desta magnitude, Portugal possui uma oportunidade singular de se posicionar como um líder nesta transição para um futuro energético mais eficiente, seguro e ambientalmente sustentável. A colaboração contínua entre a academia, a indústria, os operadores de rede e os reguladores, aliada a um investimento estratégico em inovação e infraestruturas, será fundamental para concretizar o potencial das Smart Grids e construir um sistema elétrico resiliente e adaptado às necessidades do século XXI.

 


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