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24.01
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APDC e NOS realizam 3ª edição do Digital Business Movies

“The Post” em debate

Num mundo cada vez mais digital, onde a informação e a desinformação se multiplicam a uma crescente velocidade, o papel da comunicação social é cada vez mais crítico nas atuais democracias. Cabe aos media garantir marcas fortes e de referência e um jornalismo de investigação, com princípios e ética, que permita o escrutínio dos vários poderes, a começar pelo poder político. Esta é uma tarefa cada vez mais complexa, que implicará mesmo pensar o jornalismo de uma forma diferente, como ficou bem evidente no mais recente "APDC Digital Business Movies co-produced by NOS".

Neste encontro, foi visionado em antestreia o filme "The Post, produzido por Steven Spielberg e com Meryl Streep e Tom Hanks nos principais papéis, que decorre em 1971, recriando factos reais: a publicação dos chamados ‘ Pentagon Paper's, estudo que comprova o envolvimento das administrações dos EUA no Vietname ao London de quase 30 anos, e o confronto entre os jornais e a Casa Branca, que tenta travar judicialmente a divulgação da informação confidencial.

Com o tema base do papel do jornalismo na democracia, o painel de debate que juntou Luís Marques Mendes (comentador, advogado e politico) , Gonçalo Reis (presidente da RTP) e Pedro Santos Guerreiro (diretor do Expresso), com moderação de Rogério Carapuça (presidente da APDC), abordou as lições do filme os paralelismos com a conjuntura atual. 

Como referiu o diretor do Expresso, a contradição entre o direito ao segredo - bancário, económico, jurídico, politico - e o direito à informação é muito frequente. Aqui, os jornais têm que decidir se o interesse publico é superior. "São decisões que tomamos quase continuamente", havendo mesmo situações raras em que o interesse em manter o segredo se sobrepõe ao dever de informar. E há houve casos concretos destas situações, em que a informação não foi noticiada por se antecipar um impacto grande.

"Não é uma questão de segredo, mas de responsabilidade da informação. Se houver questões que ponham em causa temas como a segurança de pessoas, há razões para que não seja dada", diz Pedro Santos Guerreiro. Aliás, "normalmente, a noticia não tem outra oportunidade que não seja a imediata. A noticia dá-se quando se tem e está preparada. Não deve haver nenhum calculo sobre a oportunidade, porque isso indica logo uma viciação do nosso exercício de jornalismo".

Já para os gestores de um grupo, as situações de conflitos de interesse podem ser uma grande oportunidade de se projetarem como líderes e se afirmarem, assim como à marca de media, defende o presidente da RTP. Não intervindo diretamente no processo noticioso, os gestores têm, na sua ótica, um relevante papel a desempenhar: escolher e investir na equipa certa, investir no jornalismo de qualidade e posicionar o órgão de comunicação social. No fundo "fixar um tom, lançar as prioridades, definir o posicionamento e dar orientações. Entre dar o espaço ás equipas editoriais e ser totalmente neutro há caminhos", acrescenta Gonçalo Reis.

E qual a perspetiva de um comentador e ex-governante? Marques Mendes considera que há várias lições que se podem tirar do caso abordado no ‘The Post': o valor da liberdade de imprensa, fundamental em democracia; a importância do jornalismo de investigação e da componente ética; e a capacidade de resistir às pressões. É que perante casos em que se terá que ter muito cuidado, a decisão final fica a cargo do jornalista que terá, por isso, de ter "uma ética própria".

Para este responsável, subsistem alguns mitos. Dos jornalistas que, de um modo geral, acham que o poder está permanentemente a fazer tudo para esconder o que se passa lá dentro, e que tudo deve ser público, dentro do primado da transparência. E dos políticos que, de um modo geral, olham para os media e para os jornalistas com desconfiança, considerando que quando um jornalista investiga alguma coisa, está a mando de alguém, ou a conspirar. São mitos que a realidade se encarrega de clarificar, embora no final tudo dependa das pessoas.

Para Marques Mendes, há grandes diferenças entre governos. E do que se diz ao que se pratica vai uma grande diferença. "Com uma dose de hipocrisia maior ou menor, a resposta normalmente é a de que se respeita a liberdade de imprensa e de expressão e que tem que haver transparência". Mas a prática demonstra que há diferenças entre governos que, de um modo geral, respeitam a liberdade de informação e outros que fizeram tudo para a limitar. A última década tem muitos exemplos de ambos os casos. Tudo depende de quem está à frente dos cargos e da "sua formação ética e moral, politica e da capacidade de ser minimamente coerente entre aquilo que diz e o que faz".

No entanto, admite que haverá "sempre alguma tensão, nas sociedades democráticas, entre o poder politico e quem o escrutina", até porque "os anseios, preocupações e objetivos são diferentes. Podem não ser opostos, mas são seguramente diferentes". Por isso, em caso de conflito, o "principio terá de ser o do interesse público", o que em alguns casos é difícil de gerir. "Tem que haver uma grande ponderação de valores com sentido grande de responsabilidade. E cada caso é um caso. É por isso que as coisas vão evoluindo. A evolução e a consciência crítica da sociedade são aqui decisivas", acrescenta.

A morosidade da justiça em Portugal e os casos em que os políticos inventam as noticias e passam a ser eles próprios atores do processo informativo foram também temas abordados. Neste último tema o caso mais evidente é o de Donald Trump, com "muitas coisas interessantes e bastante assustadoras", como diz pedro Santos Guerreiro. Uma delas é a de "criar a ideia ou perceção de que não é preciso jornais, porque há uma comunicação direta entre o eleito e os eleitores". Esta tentativa de desintermediação traz muitos riscos para as democracias, porque o papel dos jornalistas é exatamente o de "conseguir filtrar, contextualizar, verificar e desmentir, quando é o caso, toda a informação transmitida". Trata-se de uma "forma de manipulação quase em massa através das redes sociais" muito perigosa que é preciso desmontar e esse é o papel dos media.

"É exatamente nestas alturas, em que temos um espetro muito alargado de informação, que precisamos mais de instituições conhecidas e marcas sólidas, que fazem o trabalho de mostrar a realidade num contexto de escolha brutal. Vale a pena afirmar as marcas de jornalismo e de produção e conteúdos que interessam", conclui o líder da RTP.

Programa

20:00
Receção de participantes
21:30
The Post
23:20
Encerramento

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