Digital Business Breakfast
Transportes Públicos: os Desafios da Transformação Digital
O futuro da mobilidade urbana terá que passar pela criação de um ecossistema que reúna todos os players, dos mais tradicionais aos mais disruptivos. Só assim haverá uma oferta de soluções globais e à medida, centradas no cliente. Os operadores públicos de transporte, que vão continuar a desempenhar um papel fulcral no futuro enquanto atores da mobilidade, terão de ter capacidade de se reajustar a um novo mercado, onde o digital e o utilizador ditam as regras. As mudanças já estão em marcha, mas admitem que os desafios são grandes.
A transformação digital traz muitas oportunidades, mas também desafios a todos os setores de atividade. Os transportes públicos não são exceção e também eles estão em processo de mudança. Responsáveis do Governo, dos operadores públicos e privados de transportes, fornecedores e do município de Lisboa debateram neste Digital business Breakfast APDC os impactos e as oportunidades que aceleração tecnológica está a trazer a este mercado.
Sendo o sistema de mobilidade de pessoas e de transportes de bens cada vez mais critico para os processos de criação e de distribuição de valor, o governo tem como missão dar-lhe as adequadas condições de contexto. Sobretudo para os operadores de transportes, serem capazes de, "face às novas tendências e ferramentas emergentes, darem o salto", como começou por destacar na sua intervenção o secretário de Estado Adjunto e do Ambiente, José Mendes.
O governante destacou os vários drivers de mudança, desde o facto de as decisões sobre necessidades de mobilidade das pessoas serem cada vez mais aleatórias e pouco previsíveis, ao contrário do que acontecia no passado, até ao facto do cliente querer cada vez mais flexibilidade. O próprio sistema de transporte público está "a sofrer metamorfoses", uma vez que os horários, paragens e rotas fixas começam a não responder ao que é a procura.
"O tema central é a capacidade de responder às necessidades específicas, que são variáveis", acrescenta, defendendo que será esta capacidade que irá potenciar a utilização de transportes públicos. Acesso para todos, com fiabilidade e qualidade, assim como as externalidades negativas, como a poluição, o ruído ou os engarrafamentos, são outros drivers para a mudança.
Perante esta realidade, e a necessidade dos players de responderem a estes drivers através das ferramentas já disponíveis, cabe ao Executivo "fortalecer cada um dos elos da cadeia de mobilidade" em termos de regulamentação e de investimento, considera José Mendes. É que "por muito que os incumbentes lutem muito pelo ritmo incremental da mudança, não tenhamos dúvidas de que ela será disruptiva. Quem está no negócio sabe disso".
INSTRUMENTOS DE MUDANÇA
E há muitos instrumentos para esta mudança. Como a digitalização, que está a chegar às infraestruturas tradicionais, o trabalho no matching entre oferta e procura, com decisões e soluções desmaterializadas, e novos modelos de negócio com partilha, como o sharing e pooling. Como avança Miguel Leocádio, Executive da Novabase, a aceleração tecnológica está a "mudar o paradigma que conhecemos de mobilidade" e a multiplicação dos exemplos de investimentos avultados comprovam-no, antecipando verdadeiras disrupções.
Assim, se é certo que os transportes públicos "têm e vão continuar a ter um papel fundamental na mobilidade urbana, regional e nacional, com impacto na qualidade de vida das pessoas", eles terão que saber responder à mudança, tendo em conta que "a experiência de mobilidade é hoje o fator determinante", diz o gestor. Cada vez mais, a personalização é um fator determinante, sendo a inteligência artificial e o potencial dos dados. tendências relevantes.
"Acredito que os transportes públicos serão cada vez mais posicionados como assistentes de mobilidade, oferecendo um conjunto de serviços diversificado e cada vez mais completo, para dar valor à experiência dos seus clientes", acrescenta. O que implica uma gestão em tempo real pelos operadores, uma oferta dinâmica e on-demand e novos modelos de negócio~, nomeadamente com cross selling de serviços.
VELOCIDADES DISTINTAS
Estes são temas centrais a que os operadores já estão atentos e a trabalhar, uma vez que a digitalização é essencial. Mas as velocidades são distintas, como ficou evidente na sessão de debate sobre Mobilidade em Contexto Urbano", moderada por João Tomé (Dinheiro Vivo).
No grupo estatal Transtejo/Soflusa, o foco está no cliente. Mas a transformação para o digital ainda está atrasada. Para já, estão a criar-se as infraestruturas, nomeadamente a disponibilização nas estações de fibra e o acesso wifi aos passageiros, o que permitirá a prazo serem "cada vez mais interativos comos clientes", como refere Sara Ribeiro, da administração da empresa. Já instalaram também validadores novos em todas as estações, abrindo caminho para formas de bilhética mais inovadoras.
"O que para muitos já é um dado adquirido, para nós ainda é um caminho a percorrer", refere esta responsável, destacando ainda o "grande esforço de gestão da mudança interna, na qualificação das pessoas", numa estrutura tradicional que ainda continua a funcionar "com muitas lógicas dos anos 70". Mas tem consciência de que "fazemos sempre parte de uma mobilidade muito alargada. É por isso que é fundamental a intermodalidade", pelo que se caminha cada vez mais para um sistema integrado de transportes, composto por todos os players.
Num grupo diversificado como é o grupo Barraqueiro, que opera praticamente todos os modos de transportes, o tema do digital já não é novidade e já há muito que se prepara para ele. Até porque é um tema que "interfere com a organização e o funcionamento das várias empresas. Os desafios têm que ser entendidos e assumidos e encontradas as respostas adequadas", garante José Silva Rodrigues, secretário-geral.
Para o gestor, a diversidade de necessidades de mobilidade pressupõe que haja capacidade de encontrar respostas diferenciadas, pelo que o setor tem que ser capaz de oferecer soluções diferentes e personalizadas. E já é possível fazê-lo, através da recolha de dados, que permitem segmentar o mercado. "Porque os consumidores são diferentes em características, necessidades, poder de compra e motivações, a questão da integração de soluções de mobilidade como um serviço é hoje muito importante", acrescenta.
Nos operadores incumbentes, o grande desafio que se coloca, nesta "nova abordagem, um novo paradigma da mobilidade", é perceber como é que se pode passar de operador de transporte para provider de soluções de mobilidade". E entender que "não há utentes, mas sim clientes, o que faz toda a diferença na organização, na cultura e no posicionamento", deixa claro o responsável da Barraqueiro. Afinal, "as pessoas querem respostas concretas e não indiferenciadas". Certo é também que os transpotes públicos continuarão a ser "a espinha dorsal da mobilidade nas áreas urbanas e metropolitanas, obviamente com outras soluções de transporte".
Depois de passar da esfera do Estado central para a Câmara de Lisboa, a Carris também está a atravessar uma fase de mudança. Segundo António Pires, vice-presidente do operador, o desafio é grande. "Entrámos numa batalha de saber como conseguimos fazer parte de uma cadeia de mobilidade" e fazer face à guerra com o automóvel particular. Para isso, defende que existem quatro grandes tendências: o elétrico, o autónomo, o shared e o connected.
Se a Carris já "era uma empresa digital antes da digitalização, com um conjunto de dados significativo para planear a operação", o que está agora em causa é saber transformar esses dados e colocá-los ao serviço do cliente. "É este o desafio que temos que fazer, sendo que temos um legacy, mesmo do ponto de vista da infraestrutura tecnológica, em hardware e software, que coloca desafios, porque é preciso fazer investimentos significativos para nos prepararmos para fazer parte dos ecossistemas de mobilidade", explica o gestor.
Que deixa claro que parte da operação da empresa terá que continuar a ter horários e rotas. O que haverá é oportunidades de operações on demand ou de transporte flexível em alguns pontos ou picos da procura. São duas áreas que estão a ser avaliadas, mas que exigem bastante estudo. Até porque do ponto de vista económico são um grande desafio.
E o que está a Câmara Municipal de Lisboa a fazer em termos de mobilidade em Lisboa? Muita coisa, segundo o seu vereador Miguel Gaspar, para quem "o futuro da mobilidade é brilhante. Temos coisas extraordinárias a acontecer. O facto de as coisas estarem conectadas abre um espaço de gestão, cooperação e interligação que nunca tivemos".
Também este responsável defende que o transporte público vai continuar a ser essencial na cidade. Até para responder aos desafios da gestão do espaço público e da descarbonização, só possível se os operadores de transportes tiveram capacidade para "convencer" os cidadãos a deixar o carro e usar alternativas de qualidade e quantidade. Mas terá, na sua opinião, de juntar novos meios de mobilidade, "untando todos os modos numa oferta de transporte única. É aqui que faz sentido na lógica da conetividade e da mobility-as-a-Service".
Para autarquia, o papel é o de ser "cada vez mais um gestor de mobilidade, porque as cidades são naturalmente um centro de convergência de informação dos diferentes operadores", assim como de "juntarmos todos à mesma mesa, concentrar a informação de todos e processar e criar valor sobre ela, para que seja usada pelo sistema. Este é o futuro", antecipa, acrescentando ainda que "o problema da mobilidade não se vai resolver sem a iniciativa privada", num setor que "esteve cristalizado durante muito tempo".
Programa
08:30
Receção Participantes e Pequeno-Almoço
Rogério Carapuça - Presidente, APDC
Carmo Palma - Senior Executive, Novabase
09:05
Intervenção do Secretário de Estado Adjunto e do Ambiente, José Mendes
09:20
TRANSPORTES PÚBLICOS OU MOBILIDADE DIGITAL?
Miguel Leocádio - Executive, Novabase
09:35
MOBILIDADE EM CONTEXTO URBANO
António Pires - Vice-Presidente, Carris
José Silva Rodrigues - Secretário-Geral, Grupo Barraqueiro
Miguel Gaspar - Vereador Câmara Municipal de Lisboa
Sara Ribeiro- Vogal do Conselho de Administração, Transtejo
Moderador: João Tomé - Dinheiro Vivo
10:40
Encerramento
Vai acontecer na APDC
2024-09-11
10ª Sessão do Digital Union | APDC & VdA
2024-10-09
Decorre a 9 de outubro, em Lisboa