Todas as empresas interessadas em ter talento formado à medida das suas necessidades podem aderir ao UPskill. Está já em preparação o arranque da 2ª fase deste programa nacional de formação em TIC, que envolve as empresas, o Estado e a Academia num projeto verdadeiramente inovador. O objetivo é aumentar o número de organizações e de formandos, prevendo-se que o arranque em concreto ocorra em outubro ou novembro.
O presidente da APDC, Rogério Carapuça, começou por destacar a força do consórcio que se juntou para criar a iniciativa. A começar pelas empresas fundadoras, que sugeriram a criação do programa, porque a formação deve a ser feita não em abstrato, mas sim para empregos que vão existir. Depois, o IEFP que, pela sua capilaridade e missão, conhece tem a realidade da procura de emprego no país. Por fim, as instituições de ensino superior, fundamentais para garantir que se desenvolvem formações sólidas e efetivamente comprovadas, que possam acrescentar valor às pessoas.
Para Rogério Carapuça, o que torna o Programa UPskill "único é o compromisso de contratação que as empresas assumem desde que aderem, comprometendo-se a ficar com pelo menos 80% dos formandos e a pagar um salário mínimo de 1200 euros". Depois da 1ª edição, lançada em 2020, "estamos a trabalhar ativamente para lançar a segunda edição do programa", avança.
Philoméne Dias, Director Inward Investment da Aicep Portugal Global, acrescenta que se trata de "uma excelente oportunidade para todas as empresas, não só nas áreas de software e de IT, mas também de todas as indústrias em geral. Dá a oportunidade de cada organização identificar as suas necessidades e garantir o desenvolvimento de cursos adequados e à sua medida", num verdadeiro ecossistema colaborativo.
Depois da aprendizagem da 1ª edição do Programa, que envolveu mais de 5 mil candidaturas, 18 empresas e a criação de 25 turmas com 430 formandos em 17 localizações diferentes, a meta é agora trabalhar para alargar a mais empresas e regiões. Para o vice-Presidente do IEFP; António Leite, "há uma previsão de 11 milhões de investimento publico para este programa". pelo que meta é agora pelo menos duplicar os números obtidos na primeira edição, tanto em termos de empresas envolvidas, assim de formandos.
Destaca ainda a componente qualitativa desde programa nacional, assente num conjunto de parceiros que cooperam de forma articulada entre si. Com ele, é possível responder a três necessidades fundamentais: de cada um formando que procura sair de uma situação de desemprego ou de subemprego, das empresas continuarem a crescer e da economia e do país, que tem uma estratégia de transição digital, à semelhança da Europa.
Começando por salientar o esforço e o compromisso por parte do Governo na área da transição digital e do excelente posicionamento de Portugal entre os 27 estados-membros, Bernardo Sousa, Coordenador da Estrutura de Missão Portugal Digital diz que a visão e o recente reforço da estratégia do InCoDE.2030 expressa bem a importância e a aposta nas competências digitais. O UPskill é uma medida concreta que personifica toda esta ambição, tendo "todos os ingredientes para ser um programa bem-sucedido, que procura responder às necessidades das empresas".
E quais foram as lições que as empresas envolvidas retiraram desta iniciativa até agora? A Capgemini Engineering foi um parceiro desde a primeira hora, sendo a empresa que mais recursos contratou na 1ª fase. Como explica o seu CTO, Rodrigo Maia, foi colocada "particular preocupação com os conteúdos programáticos" defendendo que é que as empresas têm que centrar a sua atenção, para poderem conciliar os seus interesses reais com a formação em concreto e as ofertas formativas. É ainda necessário estar envolvido no próprio planeamento do curso e na fase de formação teórico-prática, dada pela academia, para mais facilmente terem uma formação real.
O gestor destacou ainda a o espírito de cocriação, assim como a partilha de experiências e de interesses entre o que é a visão que os politécnicos têm e visão das empresas nas ofertas formativas, conseguindo-se integrar as duas. "Estivemos envolvidos no desenho programático dos cursos, estivemos presentes nas aulas e vários tópicos foram mesmo lecionados por engenheiros da empresa, além de fornecermos cases", salienta.
Mas deixou claro que, ainda assim poderiam ter feito mais, no sentido de serem mais interventivos e de fazer mais, nomeadamente no desenho dos cursos de formação e no seu acompanhamento. Isto porque, na sua ótica, sendo estes cursos curtos e acelerados, a aposta tem que passar por uma abordagem mais focada na prática e na experimentação. "Esse é o grande desafio e estamos a tentar contribuir para que nas próximas edições esta abordagem seja mais vincada", diz.
Também a CI&T passou a integrar o programa mesmo antes de arrancar com a sua operação no mercado nacional, apostando no desenvolvimento de um hub tecnológico. Isto porque a empresa aposta no trabalho em parceria e na reconversão de pessoas. Tania Marques, HR Leader, diz que a experiência tem corrido muito bem e que os formandos estão já na empresa, a trabalhar com as equipas do Brasil e do Reino Unido. Sendo o feedback muito positivo, a intenção é continuar a trabalhar com o UPskill.
"O que queremos com o programa é perceber que estamos a dar apoio à comunidade e a reconverter pessoas que precisam de novas oportunidades. Queremos mudar o futuro de cada vez mais pessoas. Este projeto traz mais-valias para as empresas e para a comunidade", acrescenta.
Da parte da Academia, Pedro Dominguinhos, presidente do CCISP e do IPS, destaca a importância da rede de politécnicos, presente em quase 100 concelhos com atividades concretas. No UPskill, essa capilaridade tem sido essencial, assim como a lógica de cocriação.
"Um elemento distintivo da iniciativa é desenhar programas formativos à medida, pelo que a capacidade de diálogo permanente é essencial. Foi uma das aprendizagens desta primeira fase, que contou com um acompanhamento e participação permanente das empresas. Mas também nos politécnicos houve uma aprendizagem e criação de novas competências para responder aos desafios. A pandemia veio desafiar-nos a todos na adaptação a uma nova forma de trabalhar. Temos que perceber que conseguimos escalar muito mais rapidamente o programa e as pessoas", destaca.
Também Paulo Feliciano, do ISCTE, considera que o programa "provou algumas coisas importantes": do ponto de vista das universidades, provou que é possível trabalhar num contacto de grande proximidade aos problemas; e que é possível também criar uma rede de coordenação e implementar um método aberto de colaboração na sua implementação.
Ficou também provado que é possível reconverter pessoas com formação de base muito diferenciada, o que mostra que se trata de um modelo inovador. Mobilização e apoios sociais, assim como o compromisso das empresas foram ainda destacados, o que permitiu criar uma iniciativa diferenciada com um retorno grande. "Temos muito a fazer a partir de agora, com o PRR, e esta abordagem deixa-nos mais confiantes", acrescentou.
Para o Coordenador nacional do Programa UPskill, Manuel Garcia, "o nome do jogo é requalificação. As empresas identificaram o problema da falta de recursos qualificados para o desenvolvimento e crescimento e criaram soluções, assentes em aproveitar pessoas desempregadas ou em situação de subemprego para virem para as TIC".
Este responsável garante que todo o processo é acompanhado com exigência de qualidade. Temos que ter pessoas boas a saírem, com competências e que trazem valor para as empresas e fomentam a empregabilidade. É um imperativo do programa". Por isso, está convicto de que o UPskill "não é um conjunto de ações de formação, traduzindo em si uma ação para a sociedade e que há "condições para colocar no mercado novos profissionais com qualidade".
Com a primeira fase do programa agora a terminar, a meta é definir como se vai avançar para uma nova fase, que terá que ser alargada, porque "a pandemia provou que o trabalho remoto e a distância deixaram de ser um fator determinante. Hoje as empresas competem por recursos a uma escala global e nacional. Importante será o talento e vamos procurar que cresça em termos de próxima edição".
Assim e para já, estão a ser revistas as áreas tecnológicas onde se irá apostar, devendo as empresas interessadas sinalizar as suas necessidades e interesses. Até porque "o UPskill só lança ações de formação se existirem empresas que precisem e se comprometam com contratações depois das ações de formação". Em julho, as empresas terão de definir com rigor as suas necessidades e compromissos de contratação de novos profissionais. Posteriormente, serão abertas as candidaturas e selecionados os formandos, num processo que se pretende "muito exigente, avaliando-se a real motivação de cada um para aderir ao programa". As primeiras ações de formação deverão começar em outubro ou novembro deste ano.
Manuel Garcia explica ainda que houve muitos aspetos de inovação no programa que foram introduzidos e dos quais foram retiradas aprendizagens. E há componentes que terão de ser revistas, como a participação das empresas ao longo de todo o programa, considerada fundamental pra o sucesso. Assim como garantir a motivação dos formandos, porque se trata de uma mudança para a vida.
Recorde-se que o UPskill - Digital Skills & Jobs foi lançado em março do ano passado, ainda antes da pandemia, como um programa nacional que resultou da junção de esforços entre a APDC, o Governo (através do IEFP), e a rede de politécnicos (através do CCISP). Visa a requalificação de desempregados e pessoas em sub-emprego nas áreas TIC, com destaque para as áreas da programação, absolutamente essenciais numa altura em que a transformação para o digital está a acelerar em todas as organizações. Junta as empresas que precisam de contratar talento qualificado aos profissionais que querem seguir um novo rumo e ao meio académico, que define formações à medida de forma colaborativa. O Estado assume-se como o financiador.
PROGRAMA
09h40 A visão das Empresas
10h20 Q&A
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