Evento APDC

26.03



Ciclo de Jantares-Debate 2009

Vodafone atenta às RNG

Falhadas as tentativas de negociação de uma rede nacional passiva de fibra óptica ou, em alternativa, a partilha de investimentos entre os quatro maiores operadores do mercado de comunicações, a Vodafone está a acompanhar todo o processo, nomeadamente as ofertas de redes passivas que se começam a perfilar, antes de decidir qual a estratégia a adoptar no âmbito das Redes de Nova Geração (RNG). Entretanto, numa óptica de operador global e convergente, continua a apostar na rede ADSL e deverá lançar, previsivelmente no terceiro trimestre deste ano, a sua oferta de tv paga, via IPTV. António Carrapatoso, que foi o orador-convidado do primeiro jantar-debate de um Ciclo destes encontros a realizar até Junho, tem muitas dúvidas em torno da rentabilidade destas redes e teme a criação de uma situação de duopólio ou mesmo monopólio.
Segundo o presidente da Vodafone, "ainda estamos no começo da revolução digital no online. Que vai agora alargar com as redes de alta velocidade". Uma evolução do mercado que será mais favorável a um operador que se posicione com uma oferta global e convergente, pois só assim estará "na linha da frente, com vantagens potenciadoras. Só acredito numa estratégia puramente móvel se for uma estratégia completa. Tendo mais a acreditar numa estratégia integrada fixo-móvel."
É essa a estratégia que tem vindo a ser seguida pela subsidiária portuguesa do grupo mundial que, tendo o seu negócio core nos móveis, o complementa com uma oferta fixa. Depois de ter acabado por não assinar o acordo de compromisso com o Governo no âmbito da aceleração dos investimentos em RNG, por considerar que, apesar de se terem dado passos positivos, não se promoveu um modelo que potencie a competitividade do mercado, a Vodafone continua com as suas " análises de mercado", aguardando como será a evolução da oferta de redes passivas no mercado e as condições destas ofertas.
Entretanto, estão a desenvolver a oferta de fixo sobre o ADSL e "quando possível, faremos a migração desses clientes para RNG. Mas, neste momento, ainda não conseguimos justificar o investimento, porque achamos que não há condições de podemos vir a obter a rentabilidade desse investimento." E alerta que há o risco da PT vir a ser o único operador a desenvolver uma rede de alta velocidade, uma vez que tem condições únicas para isso, até em relação à própria Zon. Conhece as condutas, tem escala e tem uma base de clientes.
Investimento de longo-prazo
Justificando a razão pela qual não assinou o acordo de compromisso, refere que no âmbito das RNG e das negociações dos operadores com o Governo, a Vodafone defendeu inicialmente a criação de uma Rede Passiva Nacional da iniciativa do Executivo que seria aberta a todos os operadores. Não sendo possível chegar a acordo, a proposta seguinte foi a de chegar a acordo com os demais 3 operadores para um projecto de rede partilhada. O que não foi também possível, porque a PT se recusou. E nem mesmo foi possível conseguir um acordo com a Zon e a Sonaecom. 
Perante uma sala com mais de 230 pessoas, António Carrapatoso adiantou que "a atitude e orientação do Governo foi apenas a de tentar celebrar o protocolo e não de defender os investidores, especialmente os que pretendem ter redes de acesso aberto. É para estes que deveriam ser canalizados os apoios estatais." E acrescenta que "o Governo está muito concentrado na crise e nas soluções imediatas de aceleração do investimento. Lançar um concurso para uma rede nacional passiva seria muito complicado."
Neste momento, não existem garantias de abertura das redes, não existe separação entre actividade grossista e retalhista na incumbente. E, ao nível regulamentar, na sequência da consulta pública sobre RNG, houve uma escolha menos adequada por uma opção de segmentação geográfica feita pela Anacom de zonas menos concorrenciais e mais concorrenciais. Quando mesmo nas zonas ditas concorrenciais, a rentabilidade é muito duvidosa. Já a criação de uma única rede passiva de fibra com serviço universal, a que todos os operadores teriam que se ligar, seria a solução. Não valia a pena estar a investir noutra coisa. Seria uma aposta nacional que custa menos que o TGV."
Questionado num encontro com jornalistas que decorreu depois do jantar-debate, o líder da Vodafone adiantou que não acredita que, mesmo nas zonas urbanas, o investimento numa rede destas demore menos de dez anos a rentabilizar-se. Terá de haver uma estratégia de longo-prazo. A tv paga movimentou em 2008 cerca de 680 milhões de euros e a Internet 820 milhõe. E as perspectivas são de um crescimento anual de 8% e de 5,5%, respectivamente. "Há aqui um grande potencial de crescimento. Mas temos de ver que o potencial de rentabilidade de uma rede, especialmente na conjuntura actual, é muito difícil justificar. Não quer dizer que não o façamos. Mas não é fácil nem é evidente."
E explica que não há nem nunca houve demonstração de vontade do grupo Vodafone de investir na área da fibra de acordo com uma estratégia global. As situações serão analisadas caso a caso e nos sítios onde houver condições de negócio rentáveis, então irá fazer investimentos. Contudo, considera que para entrar neste negócio das RNG não se pode esperar muito mais que dois ou três anos. Pelo menos numa primeira fase de evolução deste negócio.
No total, estima que o sector das telecomunicações tenha movimentado no ano passado 6,43 mil milhões de euros em 2008. E as perspectivas apontam para que o mercado não cresça muito mais, especialmente no fixo. Já nos móveis deverá continuar a crescer entre dois a 4% ao ano. Daquele valor, os dados móveis representaram 689 milhões de euros, com um crescimento da ordem dos 26%, o que se ficou a dever em grande parte aos programas e-escolas e e-escolinhas.
O líder da Vodafone não parece ter dúvidas em garantir que haverá mais consolidação no mercado nacional. Mas há diferentes cenários possíveis para essa consolidação. Que dependerão dos mais variados factores, desde a regulação, a vontade política, à evolução do mercado e até às determinações de Bruxelas. E, se à partida, parece não haver já hoje espaço para o surgimento de novos projectos, admite a possibilidade de poderem aparecer novos operadores com novos modelos de negócio. "No mundo, tudo muda e não se pode ter a certeza de nada. Nada é de excluir". Outra ameaça para os operadores nacionais surge de outras inevitáveis consolidações: as que deverão ocorrer internacionalmente. As tendências futuras são da rede fixa caminhar para as NGA e das redes móveis evoluírem para o LTE, a 4ª geração móvel.
 
 

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