Determinar o impacto da Internet e da era digital na industria da musica e do entretimento foi o objectivo do Workshop/Executive Breakfast que reuniu hoje em Lisboa todos os protagonistas da cadeia de valor: operadores de comunicações, produtores de conteúdos, músicos e distribuidores. O mote do evento foi dado por Steven Greenberg, conhecido produtor de música que detém o projecto independente da S-Curve Records, e Yoni Bloch, co-fundador e CEO da Interlude. Ambos empreendedores que estão a desenvolver novas formas de fazer negócio com recurso ao digital e à interactividade.
Referindo-se à evolução da musica nas últimas décadas, Steven Grennberg destacou a era de ouro do negócio da música na década de 90. Onde bastava apenas um single com uma "música mágica" para fazer muito dinheiro. Na altura, a rádio era vista como o grande meio e a grande oportunidade para a divulgação de música, assumindo-se como a garantia de sucesso de tudo o que se pretendia lançar. Foi o caso da S. Curve, com o seu primeiro sucesso "Who Let the Dogs Out?", em 2000, que demorou apenas três semanas a ser conhecido, transformando-se num completo fenómeno os Estados Unidos.
Mas esse foi o último ano de ouro para colocar uma música no mercado. Com o reforço da Internet e a partilha ilegal de ficheiros, liderado pelo Napster, tudo mudou. E colocou-se a questão de saber como fazer negócio com esta nova realidade, se bem que na altura "ninguém queria encontrar soluções e as empresas dedicavam-se unicamente a tentar fechar o Napster. Mas este foi rapidamente substituído por projectos similares", disparando os downloads ilegais na Internet. O aparecimento do MySpace, do iTunes e do Youtube voltaram a mudar tudo. E no ano passado, surgiu a Vevo, uma parceria entre o Google e grandes empresas do mercado de música, como a Sony Music, Universal Music Group, EMI e Abu Dhabi Media, disponibilizando um site que é um repositório de vídeos legais, com recurso à publicidade para a sua rentabilização.
"A Vevo é o culminar de um processo de evolução e aprendizagem das record labels que quiseram passar a controlar a música online. Deixaram de ter a abordagem" música na internet? Vamos fechá-los e pôr-lhes processos judiciais em cima!", refere este empresário norte-americano. Hoje, grandes empresas do sector têm contratos com centenas e centenas de pequenas entidades na Internet que actuam na área da música, permitindo também a estas terem hipótese de vingar. Mas para Greenberg, o modelo de negócio do futuro terá de ser inevitavelmente híbrido e baseado em projectos e exemplos já no terreno, como o modelo da Apple ou dos telemóveis. Porque há que aprender com os modelos de sucesso que se estão a impor no mercado e que permitem a rentabilização dos projectos.
Exemplo paradigmático de um caso de sucesso com a Internet é o do jovem israelita Yoni Bloch. Musico, compositor e cantor, tornou-se conhecido com a divulgação pela Internet dos seus vídeos e músicas. Para interagir com as pessoas que acediam os seus conteúdos, acabou por desenvolver uma tecnologia digital que permite vídeos de música interactivos, em que quem vê pode alterar em tempo real o vídeo, fazendo múltiplas opções e criando novas experiências. Foi na sequência deste projecto que criou a Interlude, para o desenvolvimento de formas inovadoras de promoção e distribuição de vídeos de música através da Internet, na qual Steve Greenberg tem uma posição.
Mas o que é facto é que o mercado da música e entretenimento em Portugal vive hoje dividido entre as potencialidades e os riscos de um mundo digital e always on. Para os músicos, especialmente os que tentam iniciar uma carreira, esta é uma época interessante mas também cheia de desafios e dificuldades, com destacaram o conhecido musico David Fonseca e Jel, humorista e membro do grupo "Homens da Luta". Nuno Artur Silva, da Produções Fictícias, destaca que se têm de ter em conta todos os tipos de tecnologias e ofertas. "Esta é a única forma de sobreviver aos vários modelos de negócio que estão sempre em mudança. Temos de estar permanentemente em todos os negócios. E não podemos descurar o nosso core business que é a criatividade".
Também Ana Hernandez, da Universal Music Group, não tem dúvidas que estamos num momento de transição em que há muita coisa nova a acontecer. E sendo Portugal um mercado pequeno, tem grandes problemas. Especialmente para desenvolver a musica portuguesa." E o caminho passa por proteger os direitos de propriedade dos artistas e editores. Já Ilídio Antunes, da Trem Azul, considera que o seu projecto é também um "filho da Internet". Esta "gerou uma guerra que nos permitiu aproveitar espaços vazios que foram deixados no pânico. Não estamos preocupados."
Também as rádios garantem ter dado resposta aos novos desafios trazidos pela Internet e pelo digital. António Mendes, da RFM, considera que o que está a mudar é o meio como a música chega às pessoas. Num mercado muito fragmentado, há que encontrar de novo o negócio, acompanhando a evolução tecnológica e readaptando o projecto, nomeadamente com a aposta multi-plataforma. Pedro Ribeiro, da Rádio Comercial, garante que a rádio abraçou de uma forma quase perfeita a evolução tecnológica. Mais do que a imprensa ou a televisão. Já Luís Montez, da Musica no Coração, empresa promotora de espectáculos e de bandas, não tem dúvidas de que a Internet trouxe uma cobertura mundial à rádio e colocou em destaque os animadores, mais do que a musica. E a possibilidade de criação de plataformas online permite maior relevo aos sites na publicidade e uma maior interacção com os utilizadores. "Nunca se consumiu tanta música e nunca se compraram tão poucos discos. Isto passou para os concertos ao vivo". Esta é também a convicção de Carlos Marques, da WayMedia, para quem é necessário encontrar novas formas de aceder à música e modelos de negócios rentáveis.E Jaime Fernandes, da RTP, garante que os meios tradicionais ainda podem contribuir para o fornecimento de conteúdos para as novas plataformas.
Atentos às novas realidades estão também os operadores de comunicações. Desde os projectos móveis, que apostam em novos serviços de distribuição de conteúdos pagos - como ficou claro pelas apresentações de Mário Sousa, da TMN, Henrique Fonseca, da Vodafone, e Nuno Gama da Optimus - até aos detentores de plataformas de distribuição e venda de conteúdos como a PT e a Zon. E Rogério Canhoto, da HavasMedia, refere mesmo que "estamos num processo de revolução digital. Há uma nova economia com novas regras".
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