Os esforços dos estados-membros no âmbito das metas definidas por Bruxelas para 2030, de acordo da Década Digital, estão muito aquém do "nível de ambição da UE". Persistem muitas lacunas, tanto ao nível europeu como nacional, com destaque para as competências digitais, conectividade de elevada qualidade, da adoção da IA e análise de dados pelas empresas, produção de semicondutores e ecossistemas em fase de arranque. Se não forem tomadas medidas, não serão alcançados os objetivos que se definiram.
O alerta vem da Comissão Europeia (CE), que apela mesmo a "uma ação coletiva reforçada para impulsionar a transformação digital da UE", no âmbito do comunicado onde dá conta dos resultados do seu 2º relatório sobre o Estado da Década Digital. Onde se apresenta uma visão global dos progressos realizados no âmbito dos objetivos e metas digitais estabelecidos para 2030 pelo Programa de Política para a Década Digital (DDPP).
Este ano, pela primeira vez, o relatório é acompanhado por uma análise dos roteiros estratégicos nacionais apresentados pelos estados-membros, detalhando as medidas, ações e financiamento nacionais planeados para contribuir para a transformação digital da UE.
E as conclusões não são boas. "No cenário atual, os esforços coletivos dos estados-membros ficarão aquém do nível de ambição da UE", avisa Bruxelas. Que detetou ainda a persistência de muitas lacunas. Como a necessidade de investimentos adicionais em áreas como as competências digitais, conectividade de elevada qualidade, adoção de Inteligência Artificial (IA) e da análise de dados pelas empresas, produção de semicondutores e dos ecossistemas em fase de arranque.
O comunicado avança que tanto a UE como os estados-membros têm um papel importante a desempenhar na aplicação do novo quadro jurídico, tomam medidas para promover a difusão das tecnologias digitais e garantem que os seus cidadãos estão equipados com competências digitais adequadas para beneficiarem plenamente da transformação digital.
"É por isso que o relatório deste ano é um apelo a que os estados-membros sejam mais ambiciosos e tenham numa ação reforçada, uma vez que a consecução dos objetivos da Década Digital em infraestruturas digitais, empresas, competências e serviços públicos é fundamental para a futura prosperidade económica e coesão social da EU", refere-se.
Defende-se como crucial para a competitividade europeia a "adoção e o desenvolvimento de tecnologias inovadoras", especialmente no atual cenário geopolítico, com as crescentes ameaças à cibersegurança, que exigem uma maior resiliência e medidas de segurança sólidas.
Acresce que a UE está longe de atingir os objetivos de conetividade definidos. Exemplificando-se com as redes de fibra, essenciais para fornecer conetividade gigabit e permitir a adoção de tecnologias de ponta como a IA, a cloud ou a IoT, que só chegam a 64% dos agregados familiares. Acresce que as redes 5G de alta qualidade apenas chegam a 50% do território, num desempenho que é ainda insuficiente para fornecer serviços 5G avançados.
"Para enfrentar estes desafios, os estados-membros e a CE devem trabalhar em conjunto para promover um mercado único digital verdadeiramente funcional", defende-se no comunicado. Que adianta quer no ano passado a adoção da IA, da computação cloud e/ou dos megadados pelas empresas europeias também estava muito abaixo do objetivo de 75 % da Década Digital.
O relatório mostra que só 64% das empresas utilizarão a computação cloud, 50% os megadados e apenas 17% a IA até 2030. Para alcançar a digitalização do setor empresarial, considera-se como fundamental incentivar a adoção de ferramentas digitais inovadoras pelas PME, em especial a computação em nuvem e a IA, bem como mobilizar mais investimentos privados em empresas em fase de arranque de elevado crescimento. Isto é crucial para manter a competitividade da Europa no que respeita à inovação, à eficiência e ao crescimento baseados em dados.
Outro grande desafio destacado é a "limitada difusão das tecnologias digitais para além das grandes cidades. Para combater esta clivagem digital, é fundamental promover a cooperação entre os intervenientes europeus a nível transfronteiriço e local", nomeadamente através dos projetos plurinacionais, Polos Europeus de Inovação Digital (EDIH) e Consórcios Europeus de Infraestruturas Digitais (EDIC).
Mas há mais: os objetivos em termos de competências digitais estão ainda longe de ser alcançados. Só 55,6% da população da UE tem, pelo menos, competências digitais básicas. E, a ser mantido o ritmo atual, o número de especialistas em TIC na UE será de cerca de 12 milhões em 2030, persistindo o desequilíbrio entre homens e mulheres. Por isso, Bruxelas recomenda que "os estados-membros sigam uma abordagem multifacetada, para promover as competências digitais em todos os níveis de ensino e incentivar os jovens, em especial as raparigas, a interessarem-se pelas disciplinas científicas, tecnológicas, de engenharia e matemáticas (STEM)".
Relativamente aos serviços públicos, considera-se que estados-membros estão a avançar no objetivo de tornar todos os serviços públicos essenciais e registos de saúde eletrónicos acessíveis online aos cidadãos e às empresas e de fornecer uma identificação eletrónica segura (eID). E, apesar se se registar uma aceitação desigual entre países, a identificação eletrónica está atualmente disponível para 93% da população da UE, sendo a expetativa que a carteira de identidade digital E incentive a sua utilização. No entanto, alerta-se que "continua a ser um desafio atingir 100% de serviços públicos digitais para os cidadãos e as empresas até 2030".
Bruxelas explica no comunicado que "os estados-membros terão agora de rever e ajustar os respetivos roteiros nacionais para os alinhar com a ambição do Programa Década Digital antes de 2 de dezembro de 2024". E avisa que "acompanhará e avaliará a aplicação destas recomendações", estando muito atenta aos progressos realizados.
Recorda também que no mandato atual, foram tomadas medidas significativas para fazer avançar as metas e os objetivos da Década Digital e disponibilizado um financiamento significativo da UE para promover a transformação digital. Foi o caso do Mecanismo de Recuperação e Resiliência (150 mil milhões de euros), do programa DIGITAL Europe (7,9 mil milhões de euros) e do Mecanismo Interligar a Europa 2 Digital (1,7 mil milhões de euros).