Há um "deficit" de regulações, normas e instituições globais capazes de gerir a utilização da IA, o que impede que se potenciem os seus benefícios e que se minimizem os riscos. Por isso, é preciso garantir uma governança mundial desta tecnologia disruptiva, sendo que se deverá criar um fundo global para que a IA chegue aos países mais pobres. Estas são algumas das conclusões do relatório da ONU sobre a inteligência artificial, elaborado por um Órgão Consultivo de Alto Nível sobre IA, composto por 38 especialistas de vários países.
Este grupo, criado pelo secretário-geral da ONU, foi formado para apresentar recomendações para a governança internacional da IA. E as conclusões mostram que o desenvolvimento, implantação e utilização da tecnologia não podem ser deixados "apenas aos caprichos dos mercados". Por isso, recomenda-se a criação de um regime global de governança da IA , para "evitar corridas armamentistas e perda de direitos", sendo essa uma necessidade ‘irrefutável'.
Os especialistas consideram que o desenvolvimento da IA está a concentrar poder e riqueza em escala global, com "implicações geopolíticas e geoeconómicas". Pelo que o seu desenvolvimento, implementação e utilização não podem ser deixados "apenas aos caprichos dos mercados". E citam o caso dos mercados de dados para IA, que são uma espécie de "velho oeste", funcionando sob a ideia de "pegue o que puder e esconda sob algoritmos opacos".
"Ninguém atualmente entende de forma suficiente todos os recursos da IA e seu funcionamento interno para controlar totalmente seus efeitos ou prever sua evolução", alerta-se, considerando-se que "sistemas de IA rápidos, opacos e autónomos podem desafiar os sistemas regulatórios tradicionais, impactar cada vez mais o mundo do trabalho e gerar armas autônomas. Esses elementos levantam sérios problemas jurídicos, de segurança e questões humanitárias".
O papel dos governos e organizações nacionais e regionais será crucial na adoção de abordagem "globalmente interligada, ágil e flexível" para governar a IA para a humanidade. Até porque própria natureza da tecnologia, que é "transfronteiriça em estrutura e aplicação", requer uma abordagem global.
O relatório apresenta um conjunto de sete recomendações, para uma "abordagem colaborativa entre os países seja benéfica para estimular a aprendizagem, encorajar a interoperabilidade e partilhar os benefícios da IA",
A começar pela criação de um fundo global para a IA que impeça a divisão entre os países mais ricos e mais pobres. Este fundo, financiado por governos e empresas, destinar-se-á a ajudar os países mais pobres a tirarem também partido dos desenvolvimentos da IA e para suprimir falhas, em termos de conhecimento ou capacidade.
Defende-se ainda a criação de um painel científico internacional independente sobre IA, composto por diversos especialistas multidisciplinares na área, servindo a título pessoal e de forma voluntária. Assim como o lançamento de um diálogo político intergovernamental e multilateral semestral sobre a governança da IA, à margem das reuniões existentes da ONU.
A criação de um intercâmbio de padrões de IA, reunindo representantes de organizações nacionais e internacionais e empresas de tecnologia, é outra das medidas propostas. A par da criação de uma rede de desenvolvimento de capacidades em IA, para conectar um conjunto de centros colaboradores de desenvolvimento de capacidades afiliados às Nações Unidas, disponibilizando conhecimentos especializados, dados de computação e formação em IA aos principais intervenientes;
As duas últimas propostas passam pela criação de uma estrutura de dados de IA e de um escritório de IA no secretariado da ONU, subordinado ao secretário-geral.