Apesar dos avanços já registados, o país ainda se defronta com muitos desafios. Para contribuir para os ultrapassar, a APDC apresentou no 33º Digital Business Congress um documento com a sua visão e medidas concretas para o desenvolvimento da economia portuguesa. Assentes em seis pilares, são medidas a concretizar num timing a oito anos, "um tempo materialmente suficiente para algumas das tarefas que exigem tempo para se desenvolverem", como avançou o Presidente da Associação na abertura do Congresso
Assim, o documento da APDC, que foi já entregue ao Governo, tem como pilares: incentivos ao desenvolvimento económico sustentável e Territorialmente equilibrado; promoção do talento; adoção da tecnologia; funcionamento do mercado; simplificação do Estado; e promoção da cibersegurança e inclusão digital.
De acordo com Rogério Carapuça, "temos um país com 30% de pobres e com 30% de jovens a querer sair de Portugal. A nossa economia tem de criar mais valor. As nossas empresas têm de crescer, desenvolver negócios de maior valor acrescentado. Não é possível distribuir valor que não se cria. E o nosso problema é um problema de criação de valor. O estado, por seu turno, tem de contribuir, sendo mais simples e mais eficiente".
Apesar dos "avanços importantes", o DESI, o indicador da CE para o desenvolvimento da sociedade e da economia digitais, mostra que o país está no lugar imediatamente abaixo da média europeia. "Ou seja, somos o primeiro dos últimos. Mas temos de ser um dos primeiros. Por isso, a visão que desenvolvemos é ser um dos primeiros nos próximos oito anos", afirma.
Entre as medidas propostas, destaca na área da modernização a criação da figura do CIO do Estado, "alguém que transversalmente consegue coordenar todas as políticas de digitalização do Estado. Para que não estejamos a repetir coisas em silos diferentes. Para que não façamos coisas antagónicas em áreas diferentes. Para que possamos pôr toda a AP a colaborar"
Outra sugestão é a adoção sistemática e determinada do princípio ‘once only' ou ‘apenas uma vez'. "É um princípio simples, que a CE estabeleceu por regulamento, que já está em vigor e que é necessário cumprir. Significa que o Estado não deve pedir às empresas e aos cidadãos informação que já tem sobre eles. Esta é uma medida de simplificação que retiraria milhões de horas de custos de contexto para as empresas e os cidadãos", garante.
Acrescenta ainda que na APDC "não fazemos reivindicações. Somos uma associação de ecossistema. Por isso, fazemos sugestões, propomos soluções e oferecemo-nos para discutir com quem nos governa".
Já na sessão em que detalhou as medidas apresentadas, o líder da Associação garantiu que "Portugal tem um grande potencial", exemplificando com o facto do país ser o sexto mais atrativo para investimentos na Europa. Para a concretização da proposta da APDC, será necessário "convocar todos os atores. Isto não é algo que apenas o Governo faça ou apenas as empresas. Mas temos de ter um plano estratégico bem definido".
Considerando que a "transformação tecnológica é mudar modelos de trabalho e de processos, não é colocar tecnologia lá", avança que o Estado precisa de ter "ligação entre os vários ministérios, algo que uniformize e simplifique as coisas, que as organize. É difícil criar mecanismos de governance pública, como a figura do CIO, capaz de gerir toda a componente tecnológica. É preciso investir, mas não acho que aumente os custos. Há muito dinheiro desperdiçado com iniciativas que não estão criadas numa lógica de simplificação".
Mais: "temos boa educação, temos capital humano de grande qualidade, temos uma posição geográfica importante, temos alguns argumentos. É preciso trabalho e organização. Temos recursos altamente qualificados e uma economia que ficou para trás. Se gerássemos riqueza suficiente, seria diferente. Uma empresa holandesa gera mais que o PSI20 junto e ainda falta dinheiro. Não temos um problema de má distribuição, apenas não criamos dinheiro suficiente para distribuir. Isto é algo que os nossos dirigentes políticos têm de pensar."
Defendeu ainda que há que apostar no reforço da dimensão das empresas, mas, para isso, terá de se mudar mentalidades. E ultrapassar problemas como o facto de haver "os incentivos errados para ganhar escala. Se ser grande dá direito a ter mais impostos, mais vale ter um conjunto de empresas pequeninas. Não podemos ser penalizados quando a dimensão das empresas aumenta.".
Há também de favorecer as áreas de grande valor acrescentados, como as TIC, onde o tema não pode ser mão de obra barata, mas sim criar valor. "Se modernizarmos o nosso setor, também estamos a ajudar a criar valor económico nos outros", assegura, deixando claro que "todos nós temos de dar o passo a seguir. A APDC fará o seu papel de agitar as águas. Somos uma associação de ecossistema, o networking é crucial. Falamos e trazemos propostas que colocamos em cima da mesa dos governantes, estamos disponíveis para falar com todos e contribuir."
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