Num cenário a dez anos, e com uma adoção generalizada, a IA generativa poderá impulsionar o PIB de Portugal Continental entre 18 mil milhões e 22 mil milhões de euros, o equivalente a uma contribuição anual para o PIB de 8%. No entanto, e tendo em conta a situação atual e o facto de no ano passado apenas 8% das empresas utilizarem ferramentas de IA, assim como algumas lacunas nos principais impulsionadores da adoção, o país corre o risco de sofrer um atraso de cinco anos na adoção e no desenvolvimento da IA generativa. O alerta é da Google, num estudo realizado em parceria com a Implement Consulting Group.
O relatório sobre o impacto da Inteligência Artificial na economia portuguesa avança ainda que se este atraso se confirmar, haverá uma redução do potencial anual no PIB de 8% para 2%, ou seja, o que representará um valor estimado entre três a cinco mil milhões de euros.
Destaca-se que os valores apontados estão alinhados estimativas para a União Europeia. O estudo sobre a região, também feito pela Implement Consulting Group, em parceria com a Google, estima que a IA generativa poderá acrescentar 1,2 a 1,4 bilhões ao PIB da UE dentro de dez anos, no equivalente a uma taxa de crescimento anual também de 8%.
A análise mostra que a utilização da IA pelas empresas em Portugal ainda tem muito para crescer, sendo que as PME a adoção é muito mais lenta. Enquanto 35% das grandes empresas portuguesas adotaram a IA no ano passado, apenas 7% das PME o fizeram. Por isso, e como defende Bernardo Correia, country manager da Google Portugal, "o investimento em formação de novos profissionais é essencial para a adoção da IA no país".
Analisando o impacto da IA por setores, a tecnologia tem potencial para aumentar o valor acrescentado bruto nos serviços empresariais com utilização intensiva de conhecimento em cerca de 6 mil milhões de euros. Nomeadamente gerando conteúdo, a auxiliar na pesquisa e a automatizar processamentos complexos de dados.
Já no setor do comércio, transportes e turismo, o potencial económico é de cerca de 5 mil milhões, pela sua grande dimensão. Enquanto na indústria transformadora e na construção, o potencial para aumentar a produtividade é de cerca de 2,5 mil milhões, embora o impacto percentual seja avaliado como sendo menor do que noutros setores.
Por sua vez, no setor público, a contribuição da IA generativa poderá alcançar os quatro mil milhões de euros. Destacam-se as áreas da instrução personalizada na educação, apoio ao diagnóstico e interações com doentes na área da saúde e tratamento automático de documentos e tomada de decisão preparatória na AP.
Na agricultura, a GenAI poderá otimizar, por exemplo, as culturas através da agricultura de precisão e a otimizar o consumo de recursos, com um potencial estimado de até 500 milhões de euros.
Já em termos de ganhos de produtividade no trabalho, os números também são significativos. Antecipa-se um aumento de produtividade para pelo menos 60% dos trabalhadores portugueses, com a IA generativa a permitir um aumento de capacidade, qualidade e eficiência equivalente a 15 mil milhões a 17 mil milhões de euros para o país. Com uma utilização em pleno da tecnologia, o efeito da IA generativa na produtividade poderá ser equivalente a 1,5% por ano.
Cerca de 43% das empresas portuguesas esperam efeitos significativos na produtividade da IA generativa nos próximos anos. E o potencial económico da IA generativa, só no turismo e hotelaria, estima-se em mil milhões de euros em dez anos. Com um aumento estimado do crescimento da produtividade de 1,3% no ano de auge, espera-se que o setor beneficie fortemente da IA generativa.
Este relatório aborda ainda o impacto da IA generativa no emprego, prevendo-se que aumente as capacidades de cerca de 3 milhões (60%) de empregos em Portugal quando for totalmente adotada, com a automatização de uma parte limitada das suas tarefas e na ajuda da criação de conteúdos (texto, código e imagens), colaboração com os trabalhadores em problemas complexos e contributo para a conceção de produtos. Estes empregos incluem serviços profissionais, como jurídicos e consultoria, mas também professores e profissionais de saúde. Ao contrário das vagas anteriores de automação, que afetaram principalmente os trabalhadores manuais, espera-se que a IA generativa afete principalmente os profissionais que trabalham em escritórios.
Só uma pequena percentagem de empregos (6% ou cerca de 300 mil empregos) terá mais de metade das suas atividades de trabalho expostas à automação por IA generativa. Será o caso do pessoal de apoio administrativo, vendedores em contact centers e tradutores. Estes deverão assistir a grandes mudanças nos seus empregos e poderão ter de ser reempregues em novas profissões.
Refere-se ainda que, tendo em conta os impulsionadores da adoção da IA, Portugal corre o risco de perder terreno para os líderes europeus e globais, revelando que é necessária uma ação generalizada. Em geral, o país está relativamente bem posicionado em termos dos drivers básicos de adoção da IA, tendo um desempenho particularmente bom em termos de ambiente operacional. Mas considera-se que poderá fazer mais em relação à estratégia governamental e infraestrutura de computação, de forma a aproximar-se dos pioneiros digitais.
Tal como os demais países europeus, Portugal está atrasado nos drivers de inovação da IA a nível mundial. Especialmente em termos de talento, onde está significativamente atrás dos líderes do grupo D9+. Para as aplicações de IA mais especializadas e a obtenção de ganhos totais de produtividade, será necessário criar um ecossistema de inovação coeso e competitivo, para permitir o desenvolvimento e à aceitação comercial. Assim, o país terá de se concentrar em reforçar os seus esforços tanto nos drivers básicos de adoção como nos drivers de inovação.
No sentido de desbloquear a oportunidade da IA, o relatório sugere cinco perspetivas que permitirão ainda criar confiança e preservar o incentivo para investir: apoiar a inovação e investir na investigação e desenvolvimento; construir capital humano e uma força de trabalho capacitada; criar uma regulamentação positiva e alinhada; promover a adoção generalizada e a acesso universal; investir em infraestrutura e poder computacional; e não deixar ninguém para trás.