O ‘apagão' de 28 de abril, que afetou fortemente as infraestruturas de telecomunicações, deixou lições para o mercado e compromissos de reforço. Mas conseguir ter redes totalmente à prova de apagões é algo que exige um nível de investimento incomportável, que que sacrificaria áreas-chave dos players, como a aposta na cobertura e na inovação. A garantia foi dada por responsáveis dos três grandes operadores numa sessão do congresso APDC onde se debateu o tema Business & Science Working Together In Telecommunications.
Na sequência do relatório da ANACOM sobre o impacto da falha energética nas telcos, foram apontadas falhas, alertando-se para a necessidade de melhoria nas comunicações perante incidentes como o que se sucedeu.
Segundo José Pedro Nascimento, Chief Technology Officer da MEO, há formas de mitigar uma falha de energia, tendo em conta os sistemas de backup energéticos usados pelos operadores para assegurar o funcionamento das redes fixas. Contudo, terá de se garantir que existem corredores logísticos e processos estabelecidos para assegurar o reabastecimento de combustível" nas zonas de operação que não são formalmente consideradas críticas, o que ainda não existe.
E o tema é ainda mais complicado quando se olha para as redes móveis, onde é quase impossível ter um gerador em todas as estações. Há investimentos que têm sido feitos em renovação na infraestrutura das redes móveis, que permitem alguma resiliência em casos de incidentes. Contudo, "não é exequível do ponto de vista económico ter uma rede, por exemplo, a rede móvel preparada para aguentar um dia de apagão", afirma o CTO da MEO.
"A fiabilidade da rede elétrica nos vários países da Europa é diferente, e, portanto, na Vodafone estamos a debater se os pressupostos ou não. Temos processos muito robustos para os datacenters, os nosso não falharam, por exemplo. Vamos atualizar os pressupostos, mas não é viável fazer um investimento significativo em todos os sites. Não nos podemos esquecer que a rede que falhou primeiro foi a elétrica. Temos uma boa estratégia de resiliência, mas este foi um acontecimento sem precedentes. Mas tudo foi revisto e hoje estamos mais bem preparados", acrescenta Paulino Corrêa, Chief Network Officer da Vodafone Portugal.
Para Rodrigo Cordeiro, Country Head da Capgemini Engineering, o problema do apagão não residiu claramente nas telcos: ""A grande verdade é que mostrámos que temos uma grande dependência de Espanha a nível da energia neste apagão. Temos é de garantir um sistema energético resiliente. Tendo acontecido, vamos estar mais atentos a este tipo de situações. Estamos disponíveis, mas o preço é o ponto mais fundamental. Tem de haver um equilíbrio".
No que respeita ao 5G e aos problemas na sua rentabilização, Jorge Graça, Chief Technology and Information Officer da NOS, refere que "estamos na fase em que estamos a materializar o 5G em casos concretos, a resolver desafios. Não estamos apenas a oferecer ao cliente final uma tecnologia, mas sim a resolver problemas mais concretos das empresas. Por exemplo, ambulâncias conectadas, com cuidados de saúde otimizados que agilizam a passagem do paciente para a unidade de saúde. Os requisitos de conectividade em termos de resiliência são muitos, bastante superiores ao que temos nos telefones. O 5G tem a capacidade de adaptar a rede para as circunstâncias. Não é só conectividade e mais largura de banda."
E Rodrigo Cordeiro acrescenta: "A tecnologia 5G SA está disponível e existe. Mas temos um tecido empresarial que não ajuda à criação deste tipo de evolução, por falta de capacidade e de conhecimento da tecnologia. Temos uma indústria que é antiga e que se calhar não está ainda preparada para perceber os benefícios. A forma de vender o 5G não é igual ao que se fazia e temos de alterar a forma de vender e mostrar esse valor. Tem se de mostrar aos clientes o potencial".
Anúncio foi feito no Congresso por Giorgia Abeltino, da tecnológica