Maria Manuel Mota: "não há negócio sem ciência"

2025-07-03

A urgência e a importância da colaboração entre a ciência e o mundo dos negócios é uma realidade inquestionável. Até porque "não há negócio sem ciência". E para que Portugal e a Europa sejam mais do que meros consumidores de tecnologia, há que colocar a ciência, sobretudo a fundamental, no centro das nossas decisões. O que implica que as empresas devem "fazer mais do que comprar inovação. Devem cocriá-la", tornando-se "parceiras ativas na investigação" e trazendo os cientistas para as discussões estratégicas "não como consultores, mas como verdadeiros colaboradores". 

A mensagem é da presidente do 34º Digital Business Congress, onde defendeu que a inovação, motor do crescimento e do futuro, tem as suas raízes na ciência fundamental, muitas vezes invisível e de longo prazo.

Para Maria Manuel Mota, "tudo começa na ciência. E para ser totalmente franca e mais direta, tudo começa na ciência fundamental". Esta é uma ciência que "não traz resultados imediatos, que leva anos, por vezes décadas, a amadurecer", e que "não começa com um produto em mente, mas com uma pergunta, sem procurar o mercado, mas a compreensão do mundo". E há exemplos marcantes disso. Como a internet, que "não nasceu na garagem de alguém ou num centro de startups", mas sim na física teórica. Ou das vacinas de MRNA, resultado de "décadas de trabalho em biologia molecular". Ou ainda as baterias de lítio, que tiveram origem em "experiências feitas em laboratórios de química básica". Todos comprovam que "there is no business without science".

Mas se há esta interdependência fundamental desde sempre, persiste uma histórica separação entre os dois mundos. "Durante demasiado tempo, tratamos a ciência e os negócios como mundos totalmente separados", com a academia fechada nos seus laboratórios, o empreendedorismo obcecado com rondas de investimento e o mundo corporativo focado em metas trimestrais. Para a cientista, esta separação "não é apenas artificial. É realmente muito prejudicial", pois os desafios globais atuais, desde as alterações climáticas à cibersegurança, "não cabem em silos. Eles precisam de conhecimento, criatividade e capacidade de execução. Precisam de ciência e precisam de negócio. E não apenas em conversa, mas em real colaboração."

No contexto português, reconheceu o "caminho notável" percorrido nas últimas três décadas, com a formação de cientistas de nível internacional e a criação de centros de investigação de excelência. No entanto, destaca uma "verdade muito difícil de ouvir": "ainda não conseguimos transformar esse capital científico em inovação estruturada. Ainda não fomos capazes de criar um sistema em que a descoberta científica se traduz consistentemente em valor económico e impacto social." Entre as razões, está a falta de financiamento consistente e estruturado, a falta de diálogo entre setores e "um fosso cultural entre quem faz ciência e quem faz negócio".

A presidente do Congresso defende que a sociedade deve dar à ciência o que ela precisa para florescer: "liberdade, tempo, confiança". É que ""a ciência não vive de resultados trimestrais. E as ideias verdadeiramente transformadoras não surgem por encomenda. Temos de proteger o espaço para pensar a longo prazo. Para errar. Para explorar. Para descobrir o que ainda não sabemos que precisamos descobrir".

Por isso, deixa três palavras-chave para o Congresso: "Curiosidade, coragem e conexão ou ligação". Curiosidade para "ouvir o que está fora do nosso mundo". Coragem para "investir naquilo que não é certo, mas é necessário". E conexão; e a conexão, que vai além do networking, para "construir pontos reais" entre os diferentes mundos. É que "inovação não é magia, não é sorte, nem é sequer moda. É o resultado de anos a pensar, a testar, a falhar e a aprender. A inovação é como se fosse uma filha da ciência e é, sem dúvida, o motor dos negócios de todos vocês. E quando estas duas forças caminham juntas, com respeito entre os dois mundos, ou os diversos mundos, com visão e com propósito, todos avançamos."

 


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